Mundo

Congresso dos EUA é resistente a liquidar acordo com o Irã

Trump anunciou que não certificará que o Teerã respeita seus compromissos, o que autoriza o Congresso a voltar a impor as sanções contra o Irã

Congresso: o retorno das sanções por iniciativa do Congresso em 60 dias parece improvável (Karen Bleier/AFP)

Congresso: o retorno das sanções por iniciativa do Congresso em 60 dias parece improvável (Karen Bleier/AFP)

A

AFP

Publicado em 13 de outubro de 2017 às 21h14.

O Congresso americano aproveitará a decisão do presidente Donald Trump de não certificar o acordo nuclear com o Irã para tentar endurecer os termos do pacto assinado em 2015, sem sabotá-lo completamente.

O presidente americano anunciou nesta sexta-feira que não certificará que Teerã respeita seus compromissos, o que tecnicamente autoriza o Congresso a voltar a impor, após 60 dias de deliberações, as sanções contra o Irã, suspensas em troca das concessões nucleares de dois anos atrás.

Mas isso não foi o que Trump pediu ao Congresso.

"Ordeno à minha administração trabalhar estreitamente com o Congresso e nossos aliados para preencher as numerosas e graves lacunas do acordo, com a finalidade de impedir que o regime iraniano ameace o mundo com armas atômicas", declarou o presidente na Casa Branca.

A maioria republicana não conseguiu aniquilar em 2015 o acordo assinado por Barack Obama. Mas não está de qualquer forma pronta para assumir a responsabilidade de anular unilateralmente um tratado apoiado por outras cinco potências mundiais e que, se não se provar o contrário, o Irã respeita.

O retorno das sanções por iniciativa do Congresso em 60 dias parece, portanto, improvável.

A solução, preparada por dois senadores republicanos em estreita coordenação com a Casa Branca e o Departamento de Estado, consistiria em votar uma lei que criaria um novo umbral para a reativação de sanções contra o Irã no futuro. Um tipo de atualização unilateral do "JCPOA", como se conhece o acordo nos Estados Unidos, segundo o seu acrônimo.

Se Teerã se encontrasse a menos de um ano da produção da bomba atômica, os Estados Unidos sancionariam o país, e igualmente seriam acrescentados critérios com relação aos testes com mísseis intercontinentais.

Os legisladores planejam, sobretudo, tornar permanentes os limites impostos ao desenvolvimento nuclear iraniano, que o acordo de 2015 prevê elevar gradativamente a partir de 2025. Essa futura luz verde gradual dada ao Irã é, para os republicanos, a principal falha do acordo.

"Propomos uma via que preencherá as lacunas do acordo nuclear, mantendo a administração dentro do acordo", explicou Bob Corker, presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado, e coautor da proposta juntamente com seu colega Tom Cotton, líder dos "falcões" anti-Irã na Câmara Alta do Congresso.

Ameaça de Trump

Segundo esse texto, o presidente não teria que fornecer mais uma certificação ao Congresso a cada 90 dias, mas a cada seis meses, uma frequência potencialmente mais aceitável para o atual dirigente.

Resta ver se o Congresso será capaz de aprovar uma reforma assim. Corker espera consegui-lo nos próximos 90 dias, antes do próximo prazo de certificação.

A maioria, por si só, não poderia alcançá-lo e dependeria de parte da oposição democrata: no Senado, uma maioria qualificada de três quintos, ou seja 60 votos em cem, muito provavelmente será necessária.

Corker, no entanto, sabe que "os democratas não se unirão a nós, se nossos aliados europeus não estavam de acordo".

Ele próprio, assim como muitos senadores, se reuniram com embaixadores dos países europeus implicados - França, Alemanha e Reino Unido -, que discretamente fazem ronda no Senado há semanas.

Sob a condição do anonimato, diplomatas consultados se alarmam pela cláusula que tornaria permanente, além de 2025 ou 2030, os limites impostos ao programa nuclear iraniano, o que poderia constiuir uma violação do acordo de 2015.

Isso é o que argumentavam nesta sexta-feira (13) Ben Rhodes e Wendy Sherman, dois ex-funcionários do governo Obama que participaram das negociações internacionais.

Então, a questão dos próximos três meses no Senado será para os legisladores calibrar a lei Corker-Cotton, literalmente para que fique dentro das "margens" do acordo.

Com a ressalva de que no Congresso, o fim mais provável para todo tema controverso é a inação e a preservação do status quo.

Donald Trump sabe disso e por isso fez uma ameaça: "Caso não sejamos capazes de encontrar uma solução com o Congresso e nossos aliados, o acordo será anulado".

Acompanhe tudo sobre:CongressoDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Irã - País

Mais de Mundo

Justiça da Bolívia retira Evo Morales da chefia do partido governista após quase 3 décadas

Aerolineas Argentinas fecha acordo com sindicatos após meses de conflito

Agricultores franceses jogam esterco em prédio em ação contra acordo com Mercosul

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA