Membros da comunidade judaica argentina se manifestam em memória dos falecidos em atendado, 18 de julho, 2006 (Juan Mabromata/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2013 às 07h56.
Buenos Aires - A comunidade judaica argentina, a maior da América Latina, rejeitou nesta segunda-feira o acordo firmado entre a Argentina e o Irã para formar uma comissão da verdade pelo atentado antissemita contra a sociedade mutual AMIA em 1994, que deixou 85 mortos.
A Argentina acusa o Irã de ser o autor intelectual do atentado, o que Teerã nega veementemente.
"A formação de uma 'Comissão da Verdade', que não é reconhecida pelas leis argentinas que regulam o processo penal, implicaria em um declínio de nossa soberania", informaram a AMIA e a DAIA, as duas maiores representações dessa comunidade na Argentina.
A Argentina assinou no domingo um acordo com o Irã na Etiópia com o objetivo de criar uma comissão independente para investigar o atentado a bomba de 1994, em Buenos Aires, contra o centro judaico AMIA (Associação Mutual Israelense Argentina), pelo qual havia pedido a extradição de oito iranianos.
Israel reagiu ao acordo nesta segunda-feira com "surpresa" e "decepção", enquanto os Estados Unidos adotaram uma postura mais cautelosa, ressaltando que irão aguardar os resultados do trabalho da comissão independente.
"Sempre quisemos que os autores do atentado fossem julgados. Se o governo argentino pensa que isto vai nos aproximar disso, bom, vamos esperar", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, em coletiva de imprensa.
A chancelaria israelense afirmou em um comunicado que o embaixador argentino será convocado "para que forneça explicações sobre a iniciativa de seu governo".
Em seu pronunciamento contra o acordo, as entidades judaicas locais indicaram que "ignorar tudo o que foi feito pela justiça argentina e substituir isso por uma comissão que, no melhor dos casos, emitirá sem prazo definido uma 'recomendação' às partes, constitui, sem dúvida, um retrocesso no objetivo comum de obter justiça".
Segundo o acordo firmado no domingo em Addis Abeba pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, e seu colega iraniano, Ali Salehi, os iranianos acusados poderão ser interrogados em Teerã pelo promotor e juiz encarregado do caso na Argentina.
Buenos Aires exige desde 2006 a extradição de oito iranianos pelo atentado contra a AMIA, entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, o ex-presidente Ali Rafsanjani (1989-1997) e o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, todos eles com mandado de busca internacional emitido pela Interpol.
A AMIA, que reúne instituições da comunidade judaica, e a DAIA (Delegação de Associações Israelitas da Argentina), seu braço político, lembraram que a Interpol, depois das apresentações realizadas pelos promotores argentinos do processo, resolveu que "as provas eram suficientes e aptas para requerer as prisões".
A Comissão da Verdade será integrada por juristas independentes que não poderão ser cidadãos de nenhum dos dois países.
"Qualquer Comissão que seja criada não pode ter outra função que a de controlar ou fiscalizar a legalidade dos inquéritos", reagiram a AMIA e a DAIA sobre o acordo entre Buenos Aires e Teerã, que deve ser aprovado por ambos os Congressos.
Argentina e Irã iniciaram em outubro negociações na sede das Nações Unidas em Genebra para resolver as ações judiciais pendentes na investigação do atentado.
O governo iraniano nega qualquer participação no atentado e rejeitou as acusações de terrorismo contra seus oito cidadãos requeridos, negando-se a cumprir as ordens de captura emitidas pela Interpol, o que manteve o processo judicial paralisado por anos e sem detidos.
A comunidade judaica da Argentina é a mais numerosa da América Latina com 300.000 pessoas.