Guerra comercial entre Estados Unidos e China afetará o Brasil (ANNECORDON/Thinkstock)
Gabriela Ruic
Publicado em 25 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 26 de setembro de 2018 às 18h48.
São Paulo – O cenário global está cada vez mais complexo e o candidato que assumir a Presidência do Brasil em 2019 terá pela frente importantes desafios no palco internacional. Um deles, sem dúvidas, é a guerra comercial entre Estados Unidos e China e os seus efeitos, positivos e negativos, para o país.
Abaixo, EXAME reuniu os posicionamentos dos principais candidatos à Presidência nas eleições 2018, que responderam à reportagem a seguinte pergunta: “A guerra comercial entre China e Estados Unidos afeta o Brasil diretamente em diferentes segmentos. Qual será a sua estratégia lidar com a disputa comercial? ”
“As tensões advindas dessa disputa projetam uma desaceleração do crescimento global que prejudicam os mercados emergentes nas exportações e investimentos estrangeiros. É preciso adotar uma estratégia de acompanhamento permanente dessa disputa comercial, cautela e muito pragmatismo. É preciso antecipar ações para minimizar eventuais danos e efeitos colaterais da guerra comercial em curso.”
Leia a entrevista completa de Álvaro Dias
“Ambos (países) têm uma política agressiva de defesa de seus interesses comerciais e moedas que é travestida de livre comércio. Livre só para eles. Vamos retomar nossa soberania e independência na política externa sem nos subordinar à política norte-americana ou chinesa, recuperando nossos laços de cooperação e comércio Sul-Sul.
É preciso fortalecer nossa economia com investimentos para recuperar a indústria brasileira, diversificando nossa produção com inovação, ciência e tecnologia. Isso aumenta a renda da população e, associado a uma política econômica, vai fortalecer nossa moeda no mercado internacional. O Brasil tem instrumentos importantes para se afirmar internacionalmente: um deles é o petróleo. ”
Leia a entrevista completa de Guilherme Boulos
“O presidente Donald Trump está indo no caminho errado. O protecionismo é um caminho que nós já seguimos no Brasil e deu errado. É inaceitável que o Brasil deixe e aceite, de uma certa maneira, a existência dessas restrições aos produtos brasileiros, como a taxação ao etanol.
Vamos defender o que fazemos aqui e contra-atacar aqueles que nos impõem sanções. Temos que defender nossos interesses, promover negociações duras com cada país e, caso haja insistência, já demonstrar claramente quais serão as medidas brasileiras.”
Leia a entrevista completa de Henrique Meirelles
“Com 1% do comércio mundial, o Brasil não tem cacife para, de alguma maneira, interferir na ameaça cada vez mais concreta de uma escalada protecionista entre as duas maiores economias globais. É briga de cachorro grande.
Minha estratégia será acompanhar de perto a evolução da disputa, propor medidas concretas para fortalecer a OMC e assegurar que o mecanismo de solução de controvérsias seja preservado dos ataques dos EUA e da Europa. No curto prazo, temos de aproveitar as oportunidades que aparecerão, em especial no mercado chinês para nossos produtos, sobretudo agrícolas. No longo prazo, todos perderão.”
Leia a entrevista completa de Geraldo Alckmin
“As medidas americanas devem ser pontuais e não acredito que possam durar muito tempo.
Para o Brasil, há benefícios comerciais momentâneos para commodities agrícolas e produtos de proteína animal, que ganham espaço dos produtos americanos na China. Mas não podemos depender de situações como essa.
O Brasil deve se inserir nas cadeias globais de comércio e, para isso, terá de enfrentar um processo de abertura comercial planejado e transparente. Precisa focar em acordos de livre comércio com mercados que negligenciou nos últimos anos, como os Estados Unidos, União Europeia, Canadá, México e Japão.”
Leia a entrevista completa de João Amoêdo
“Embora o Brasil possa se beneficiar parcialmente, no curto prazo, com essa a guerra comercial, exportando mais commodities, como soja, para a China, em razão da diminuição das importações de soja dos EUA, no médio e longo prazo tal conflito tende a diminuir o volume do comércio mundial.
A estratégia do governo será a de investir mais na cooperação Sul-Sul e na integração regional, sem desprezar os mercados dos países desenvolvidos, como forma de contrarrestar eventuais perdas de mercado devido ao protecionismo.
Durante os governos Lula e Dilma, o fluxo de comércio entre os países em desenvolvimento foi superior à média do comércio mundial. Portanto, nosso potencial de conquista de novos mercados está mais concentrado nessa vertente da nossa política externa.”
Leia a entrevista completa de Fernando Haddad
“Essa é uma 'guerra' que, na verdade, não expressa uma real dicotomia entre esses dois países, já que a China, no atual sistema de Estados, está totalmente submetida ao imperialismo norte-americano. E nesse sistema, o papel relegado ao Brasil é o de mero exportador de commodity.
Estamos sofrendo um processo de recolonização da nossa economia, com uma desindustrialização relativa com a volta do papel que tínhamos na época de colônia. Nossa estratégia, nesse sentido, é a de romper com essa lógica.
Reverter a recolonização do país através de uma segunda independência que, concretamente, significa romper com a dívida pública que canaliza grande parte de nossas riquezas ao sistema financeiro internacional, expropriar as multinacionais e o agronegócio, e proibir as remessas de lucros.”
Leia a entrevista completa de Vera Lúcia
"A relação com a China exige atenção prioritária pela magnitude das cifras e pelos desafios. Em poucos anos, o país tornou-se nosso primeiro parceiro comercial − com elevado superávit do lado brasileiro − bem como uma importante fonte de investimentos.
Atenção especial deve ser dada à melhora na composição da pauta exportadora brasileira, estimulando a substituição das indústrias de baixo custo por indústrias intensivas em conhecimento e viabilizando um diálogo construtivo com as autoridades chinesas para que seja leal a concorrência dos produtos exportados por ambos os países, evitando-se a prática de preços irrisórios."
Leia a entrevista completa de Marina Silva
*O candidato não atendeu ao pedido de entrevista da reportagem
*O candidato não atendeu ao pedido de entrevista da reportagem
*O candidato não atendeu ao pedido de entrevista da reportagem
As perguntas que compõem a entrevista deste especial foram compiladas com base em entrevistas realizadas por EXAME com especialistas em política externa de diferentes setores e organizações. Participaram embaixadores e empresários do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e pesquisadores de instituições como o Instituto de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Puc-Rio, da ESPM e das Faculdades Integradas Rio Branco.
A partir desse levantamento, a reportagem produziu sete perguntas para os candidatos que registravam ao menos 1% de intenção de voto segundo pesquisa Datafolha publicada em 22/08/2018: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora substituído por Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Cabo Daciolo (Patriota) e Vera Lúcia (PSTU).
Abaixo veja as entrevistas já publicadas:
Estes são os candidatos que não se manifestaram sobre as demandas da reportagem:
A entrevista é composta das mesmas perguntas para todos os candidatos, essas enviadas no mesmo dia e com igual prazo para resposta, 15 dias. A publicação está acontecendo de acordo com a ordem de recebimento.