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Como o fentanil se tornou a principal justificativa para as tarifas de Trump contra outros países

EUA pressionam México, Canadá e China para cortar fornecimento da droga que levou a morte de centenas de milhares de americanos

Agência o Globo
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Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 07h16.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2025 às 07h21.

Emergência nacional. Foi assim que o presidente Donald Trump definiu o trânsito ilegal de migrantes e drogas para os EUA, principalmente o fentanil, adotando como alvo o México, o Canadá e a China com tarifas para forçá-los a interromper o fluxo.

No centro da equação tarifária, a droga, 50 vezes mais potente que a heroína, tornou-se um problema de saúde pública nos Estados Unidos. A produção e o contrabando do opioide causou a morte por overdose de centenas de milhares de americanos.

Apontado de longe como o principal produtor de fentanil, o México é pressionado há tempos pelos EUA para apertar o cerco contra traficantes locais e acabar com a exportação. Já o Canadá entrou em cena devido à crescente presença de cartéis mexicanos no país.

Trump concordou na segunda-feira em adiar as tarifas sobre o Canadá e o México, mas prosseguiu com as taxas de 10% sobre a China, sob o pretexto de que Pequim fracassou em impedir que o fentanil ilegal entre nos Estados Unidos.

O fentanil é o analgésico opioide sintético mais potente disponível para uso em tratamento médico atualmente. Ele é cerca de 100 vezes mais potente que a morfina, e 50 vezes mais forte que a heroína, e atua diretamente no sistema nervoso central, interrompendo a forma como os nervos sinalizam a dor entre o cérebro e o corpo.

Por isso, a droga costuma ser prescrita para o alívio da dor e administrado na forma de injeção, adesivo, spray ou pastilhas. Misturado com materiais como bicarbonato de sódio, amido e açúcar, o fentanil cria um pó que pode ser fumado ou dissolvido em líquido e injetado.

Fabricação e entrada nos EUA

O México é a principal fonte de fentanil, segundo o governo dos EUA. A maioria do suprimento de drogas é produzida em laboratórios improvisados no território. Nas últimas décadas, o opioide passou a ser um produto de exportação importante para os cartéis, apontam analistas.

O cartel de Sinaloa é o principal produtor da droga, seguido pelo cartel rival de Jalisco. Os cartéis operam em todos os 50 estados americanos e em mais de 40 países, de acordo com a agência de combate às drogas EUA

A droga é barata de fabricar, oferece grandes margens de lucro e é fácil de contrabandear. Mais de 90% do fentanil interditado é parado nas passagens de fronteira, onde os cartéis tentam contrabandeá-lo principalmente em veículos conduzidos por cidadãos americanos, de acordo com a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.

Mortes e combate à crise

No ano passado, o número de mortes por overdose nos EUA foi de 89.740 pessoas, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país. Uma queda de quase 22% em relação ao período anterior, embora continue sendo mais do que o dobro do que era registrado há uma década.

Os opioides são responsáveis por mais de 70% das mortes por overdose de drogas, a maioria delas causada por fentanil. As mortes por overdose aumentam conforme a droga entra em um mercado, atingem um pico e depois diminuem.

No combate à crise, os EUA investiram trilhões de dólares em terapias, políticas, leis e ferramentas, mas não foram rápidos o suficiente para superar o mercado de drogas ilícitas.

Confira as respostas dos países sobre o combate ao fentanil, após serem listados como alvos de tarifas pelos EUA:

México

O governo Trump diz que tem o México como foco principal por conta de uma "aliança intolerável" do país vizinho com cartéis e por oferecer a eles refúgios que lhes permitiram fabricar as drogas. Em resposta, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, disse na segunda-feira que concordou em reforçar a fronteira com os americanos com 10 mil membros da Guarda Nacional "para impedir o tráfico de drogas do México para os EUA, especialmente o fentanil".

Ela ainda pediu a ajuda de Trump para impedir o contrabando de armas para o México que acabam nas mãos dos cartéis, reforçando sua preocupação com a segurança na entre duas facções do cartel de Sinaloa. Em dezembro, as forças de segurança mexicanas apreenderam 1,3 tonelada de fentanil em Sinaloa, a maior quantidade registrada em uma única apreensão.

Canadá

Uma série de apreensões de drogas no Canadá evidenciou como os cartéis mexicanos e outros grupos do crime organizado começaram a operar laboratórios no país. Em outubro, a polícia canadense deflagrou um “superlaboratório” de fentanil na província da Colúmbia Britânica e apreendeu centenas de quilos de fentanil e metanfetamina. O laboratório tinha produtos químicos suficientes para operar por semanas e produzir 95 milhões de doses letais da droga, segundo a polícia.

No ano passado, o Canadá disse que investiria US$ 900 milhões ao longo de seis anos para melhorar a segurança nas fronteiras, adquirindo cães, drones, helicópteros e torres de vigilância móveis, além de enviar novos agentes de fronteira. O governo também está acelerando os esforços para monitorar e controlar melhor os precursores químicos que entram no país.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse na segunda-feira que colocaria 10 mil socorristas na fronteira, e seguiria os EUA ao listar os cartéis mexicanos como organizações terroristas  em uma operação conjunta para combater o crime organizado, o tráfico e a lavagem de dinheiro, e nomearia um “czar do fentanil” para supervisionar os esforços.

China

Ainda no primeiro mandato de Trump, a China atendeu a um pedido do republicano e implementou regras rígidas contra a produção e a venda de fentanil. Desde então, a substância parou praticamente de sair do país. No entanto, as empresas chinesas continuam a produzir os ingredientes químicos usados para fabricar o fentanil e a vendê-los para produtores de drogas no México, nos EUA e em outros lugares.

A ideia de forçar a China a reprimir essa cadeia de suprimentos é defendida há anos pelos EUA. O governo de Joe Biden fez algum progresso nesse sentido, com Pequim impondo novas restrições a três desses produtos químicos no ano passado.

Mas fabricantes de produtos químicos geralmente encontram maneiras de contornar as regulamentações, alterando ligeiramente os produtos químicos vendidos, e a China tem relutado em impor regulamentações mais abrangentes sobre seu setor químico. Pequim afirma que os políticos americanos querem fazer da China um bode expiatório para as falhas dos próprios EUA no tratamento das causas fundamentais da crise das drogas.

O Wall Street Journal informou que o compromisso de reduzir as exportações de precursores de fentanil faz parte da oferta inicial que Pequim está preparando para as negociações com Washington para tentar evitar maiores aumentos de tarifas.

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