Funeral do Papa Francisco em 26 de abril de 2025 (Filippo Monteforte/AFP)
Repórter
Publicado em 26 de abril de 2025 às 07h37.
Última atualização em 26 de abril de 2025 às 10h13.
O mundo começou assistindo neste sábado, 26, à última etapa de despedida do Papa Francisco. A missa de corpo presente foi celebrada na Praça de São Pedro, no Vaticano, marcando um ritual que mistura tradição, simbolismo e mudanças escolhidas pelo próprio pontífice.
Francisco faleceu na última segunda-feira, 21, aos 88 anos, vítima de complicações de um acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Conhecido por seu estilo simples e próximo dos mais humildes, ele também imprimiu essa marca nos detalhes de seu funeral.
Ao contrário dos papas anteriores, que moraram no Palácio Apostólico, Francisco viveu até seus últimos dias na Casa Santa Marta, residência de hóspedes do Vaticano. Ali, seu caixão foi colocado no centro da capela privada, sob a imagem de Cristo crucificado.
Os funerais papais seguem três grandes etapas, chamadas de “estações”. A primeira ocorre na capela do papa, após a confirmação médica do falecimento. Coube ao camerlengo — atualmente o cardeal Kevin Joseph Farrell, nomeado por Francisco em 2019 — organizar a cerimônia e administrar temporariamente o Vaticano até a eleição do novo papa.
Seguindo tradições seculares, o camerlengo chamou o pontífice pelo nome de batismo, Jorge Mario Bergoglio, e realizou o ritual da destruição do Anel do Pescador, símbolo do poder papal, para impedir seu uso indevido. Os aposentos papais também foram lacrados.
Nos funerais anteriores, como o de Bento XVI, o corpo era acomodado em três caixões: um de cipreste, um de chumbo e um de madeira olmo. Cada camada tinha um significado simbólico e prático.
Tradicionalmente, o corpo era colocado primeiro em um caixão de madeira, depois selado em um de metal para conservação e, por fim, protegido com outro de madeira nobre, simbolizando a dignidade papal. "O caixão de madeira representa a humildade, o de metal é para conservar, e o de madeira externa é para mostrar a dignidade real do papa", conta Paulo Raphael Oliv. Andrade, professor de filosofia e teologia da PUC-SP.
Dentro do caixão, foram colocados objetos com profundo simbolismo. "O corpo do papa é coberto com um pano branco, que representa a pureza e a vida eterna. Também são incluídas moedas cunhadas durante seu pontificado, com seu rosto gravado, e um resumo biográfico, para que, mesmo daqui a séculos, seja possível identificar seu corpo e legado", afirma Andrade.
No caso de Francisco, houve uma simplificação no funeral, segundo o teólogo Dayvid da Silva, professor da PUC-SP.
“O papa simplificou o seu funeral. Em vez de três caixões, agora são dois: um de madeira e um de chumbo ". Segundo ele, também houve mudança na exposição do corpo. " Francisco também escolheu que seu corpo fosse colocado direto no caixão. Os últimos papas tiveram os corpos velados fora do caixão", afirma.
Vestido com a batina branca e paramentos vermelhos, o corpo de Francisco foi exposto ao público na Basílica de São Pedro durante três dias. No encerramento da visitação, na sexta-feira, ocorreu a cerimônia de fechamento do caixão, presidida pelo camerlengo.
Segundo o teólogo Silva, o caixão do papa é fechado antes da missa de exéquias. “Após a missa, ele é levado para a igreja onde será sepultado".
No início da missa solene neste sábado, 3, o caixão foi levado da Basílica para a Praça de São Pedro. Após a cerimônia, um cortejo fúnebre percorreu cerca de 6 quilômetros pelas ruas de Roma, passando pelo Coliseu, rumo à Basílica de Santa Maria Maior — uma escolha que rompe novamente com a tradição.
Francisco será o primeiro papa em mais de 100 anos a ser enterrado fora da Basílica de São Pedro. O local escolhido, a Basílica de Santa Maria Maior, tem forte ligação com seu pontificado e representa seu desejo de permanecer próximo do povo e da simplicidade cristã, afastando-se dos tradicionais túmulos papais nas criptas vaticanas.
"Ele foi mais de 100 vezes a Santa Maria Maior para rezar, inclusive antes e depois de suas viagens internacionais. Essa basílica tem um significado muito grande para ele, especialmente como jesuíta", afirma Andrade.
O túmulo também será simples, afirma Silva: "Ele será sepultado em um túmulo simples, por devoção à mãe de Jesus".
Sobre o tipo de sepultamento, Andrade lembra que não se trata de uma novidade completa. "Os papas mais recentes, como João Paulo II e Bento XVI, também foram enterrados no chão. A diferença é que, se canonizados, seus restos são transferidos para um altar", afirma.
O conclave para a eleição do novo papa deve começar em 6 de maio. Estarão reunidos 135 cardeais eleitores, e entre os nomes mais cotados estão Matteo Zuppi (Itália), Pietro Parolin (Secretário de Estado) e Luis Antonio Tagle (Filipinas).