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Como a União Europeia sobreviverá sem a Grã-Bretanha

Embora nenhuma mudança seja notada de imediato, o brexit irá forçar mudanças fundamentais em um bloco à mercê dos eurocéticos e pressionada por inúmeras crises


	União Europeia: "a longo prazo, poderia assistir ao seu lento declínio e o surgimento de algo diferente"
 (Francois Lenoir / Reuters)

União Europeia: "a longo prazo, poderia assistir ao seu lento declínio e o surgimento de algo diferente" (Francois Lenoir / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2016 às 11h37.

A União Europeia poderá sobreviver à humilhante derrotada infligida pelo Brexit ao seu projeto de integração, que nasceu das ruínas da Segunda Guerra Mundial? Em Bruxelas, a questão circula em todas as bocas.

Embora nenhuma mudança seja notada de imediato, a saída do Reino Unido, sem precedentes na União Europeia, irá forçar mudanças fundamentais em um bloco à mercê dos eurocéticos e pressionada por inúmeras crises, tais como a migratória e econômica.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não hesitou em falar esta semana de forma dramática: "Temo que um Brexit possa marcar não só apenas o início da destruição da UE, mas também da civilização ocidental", declarou ao jornal alemão Bild.

De acordo com Tusk, o Brexit "encorajará" todas as forças anti-europeias radicais na UE, mas também os "inimigos externos que beberão champanhe".

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi menos apocalíptico e não considerou que a União está "em perigo de morte", mas reconheceu que será necessário tomar nota das lições do referendo britânico.

Território desconhecido

"Eu não acredito que a União vai desaparecer de repente. Mas a longo prazo, poderia assistir ao seu lento declínio e o surgimento de algo diferente", analisa Chris Bickerton, especialista da UE na Universidade de Cambridge.

Bickerton prevê um desvio para uma União "mais flexível", o que não será fácil.

"Entramos verdadeiramente em território desconhecido. Eu não acredito que os líderes europeus acreditavam realmente que um Brexit era possível, pelo menos não quando negociavam com (o primeiro-ministro britânico David) Cameron, caso contrário, teriam fechado um acordo muito diferente", analisa.

Em 20 de fevereiro, após 30 horas de negociações com os outros líderes da UE, Cameron obteve a possibilidade de cortar as ajudas sociais aos migrantes europeus, entre outras reformas.

A partir de agora começa um processo longo e doloroso de divórcio, e é muito provável que outros Estados-membros queiram, apesar de tudo, seguir em frente.

O presidente francês, François Hollande, já anunciou uma visita à Alemanha na próxima semana para "trabalhar no relançamento da construção europeia".

Mas o dueto franco-alemão, motor histórico da construção europeia, parece não estar em plena sintonia, mostrando recentemente suas divergências sobre a integração da zona do euro. Desta forma, o projeto destinado a refundar o bloco poderia terminar sendo modesto.

Efeito dominó

A saída do Reino Unido da UE também poderia incentivar os apelos a uma Europa "a duas velocidades", a de um núcleo para uma integração "cada vez maior" em torno do qual gravitariam outros membros.

Alguns países poderiam gozar de exceções à integração ou de disposições especiais, como é o caso atual do Reino Unido ou da Dinamarca nas áreas de justiça e assuntos internos.

A adesão à moeda única também poderia ser negociada por aqueles que o desejarem, quando hoje é obrigatória para os novos membros.

Mas o que os líderes europeus temem acima de tudo é um "efeito dominó".

O resultado do referendo britânico já incitou, de fato, os anti-europeus. Na extrema-direita, a presidente da Frente Nacional francesa (FN), Marine Le Pen, pediu a realização em cada país de um referendo popular sobre a adesão à União, e o mesmo fizeram os eurocéticos da Dinamarca, Holanda e Suécia.

"As instituições raramente morrem", afirma Vivien Pertusot, do Instituto Francês de Relações Exteriores (IFRI).

"Talvez não haja um deslocamento, uma desintegração, mas apenas uma perda de relevância: a UE já não é um fórum onde o interesse coletivo prevalece, e é cada vez mais difícil encontrar compromissos" com um bloco de 28 países, argumenta Pertusot.

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