Mundo

Como a minúscula Bélgica tem a pior situação de coronavírus da Europa

O ministro da Saúde da Bélgica disse nesta segunda-feira que país pode enfrentar um "tsunami" e perder o controle sobre o coronavírus

Pedestres perto de universidade na Bélgica: regiões do país têm pior situação da Europa contra o coronavírus, diz ministro (Geert Vanden Wijngaert/Bloomberg/Getty Images)

Pedestres perto de universidade na Bélgica: regiões do país têm pior situação da Europa contra o coronavírus, diz ministro (Geert Vanden Wijngaert/Bloomberg/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 14h43.

Última atualização em 19 de outubro de 2020 às 17h45.

A Bélgica pode estar perto de um "tsunami" causado pelo novo coronavírus. É o que disse o ministro da Saúde do país, Frank Vandenbroucke, à rede de televisão RTL.

O ministro classificou a situação em algumas regiões do país como "as piores e mais perigosas" em relação à covid-19 em toda a Europa. Não é pouca coisa: a Europa vive uma intensa segunda onda de contágios pela covid-19, que já ultrapassa o pico anterior da doença no primeiro semestre.

As duas regiões mais afetadas na Bélgica são a Valônia, ao sul (e falante de francês), e a capital Bruxelas. O país, dividido entre uma região falante de francês e outra de holandês, tem pouco mais de 11 milhões de habitantes.

"Somos a região mais afetada em toda a Europa. Estamos muito perto de um tsunami [...] onde não mais se controla o que está acontecendo. Hoje, ainda conseguimos controlar os acontecimentos, mas com enorme dificuldade e estresse"

Vandenbroucke, ministro da Saúde da Bélgica

O ministro também lembrou que, caso o número de hospitalizações continue subindo na Bélgica (a alta em entradas nos hospitais já chega a 90%), o cuidado médico com outras doenças graves pode ficar comprometido.

"O governo só tem uma mensagem para o público: se protejam e protejam seus entes queridos de forma a não se contaminarem", disse.

Uma professora mede a temperatura de uma criança na frente de um colégio na Bélgica (15/05/2020)

Medição de temperatura em escola na Bélgica: volta às aulas em setembro foi um dos fatores que levou à segunda onda de casos no país (Johanna Geron/Reuters)

A Bélgica havia conseguido escapar da segunda onda de contágios em agosto, quando parte da Europa começava a sofrer. Mas os casos subiram em setembro, com a volta das crianças às escolas e pais retornando ao trabalho após férias de verão.

Nos números absolutos, a Bélgica não tem a pior situação da Europa. Mas a preocupação do ministro reside no tamanho pequeno do país para tal número de casos. A França tem mais de 66 milhões de habitantes; a Espanha, 47 milhões; o Reino Unido, 67 milhões; a Holanda, 17 milhões.

A Bélgica tem tido número de casos diários parecidos aos da Alemanha, um país muito maior.

Em outubro, algumas semanas chegaram a ter alta de 70% nos contágios. A Bélgica vem tendo cerca de 7.000 novos casos por dia, e teve o número mais alto de casos desde o começo da pandemia na última terça-feira.

É o mesmo patamar de casos da Alemanha, que tem 83 milhões de habitantes (e também vem sofrendo com alta nos contágios).

  • Mortes por dia na Bélgica: cerca de 30 mortes
  • Casos por dia na Bélgica: cerca de 7.000 casos
  • Casos totais na Bélgica: mais de 222.000 casos (até segunda-feira, 19)
  • Mortes totais na Bélgica: 10.400 mortes (até segunda-feira, 19)

A título de comparação, o Brasil, que tem uma população mais de 15 vezes maior, tem registrado pouco mais que o dobro dos casos diários belgas, com novos casos diários na casa dos 20.000, segundo a média móvel brasileira. O número de mortes na Bélgica, contudo, é muito menor, na casa de 30 mortes por dia, ante pouco menos de 500 no Brasil.

Tentativas contra o lockdown

Nesta segunda-feira, 19, o governo belga entrou em uma tentativa de última hora para evitar um novo lockdown. Bares e restaurantes serão fechados por um mês a partir de hoje.

Uma das medidas, que já havia sido usada nos meses anteriores, é limitar o número de encontros entre grupos sociais, incluindo entre familiares, se ocorrerem dentro de lugares fechados.

O modelo belga foi inclusive copiado pelo Reino Unido, que restringiu encontros entre familiares e amigos na semana passada. Outras regiões em toda a Europa já têm imposto medidas de restrição de horários e encontros, na esperança de evitar novo lockdown.

O governo belga tem sido criticado por não fazer testes suficientes e, depois da testagem, por não conseguir rastrear os infectados e as pessoas com quem tiveram contato. O rastreamento é essencial porque é capaz de garantir que pessoas não estejam transmitindo o coronavírus sem saber.

Em parte graças à Europa, a semana passada teve o maior número de novos casos de coronavírus no mundo desde o começo da pandemia.

A alta de casos na Europa preocupa, embora o número de mortes esteja menor desta vez (devido ao contágio mais alto em jovens em vez de idosos, mais técnicas médicas contra a doença e alguma imunidade já desenvolvida na população).

Uma projeção pessimista da Organização Mundial da Saúde estima que, se medidas não forem tomadas, o número de mortes na Europa pode quintuplicar. Outra preocupação é a chegada do inverno no Hemisfério Norte. A mesma preocupação vale para os Estados Unidos, que também têm tido novas altas de contágios.

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaBélgicaCoronavírusEuropaHolandaOMS (Organização Mundial da Saúde)

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru