Mundo

Comissário da ONU critica 'desfile de corpos' em Gaza; 'Imagens quase insuportáveis'

Entrega de restos mortais de idoso de 84 anos, mãe e dois filhos em cerimônia pública foi amplamente apontada como uma violação de direitos dos falecidos

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 15h19.

Tudo sobreFaixa de Gaza
Saiba mais

A maneira como o Hamas encenou a entrega dos restos mortais de quatro reféns israelenses foi classificada como “abominável e cruel” pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Os corpos dos reféns, levados a Gaza durante o ataque de 7 de outubro de 2023, foram entregues nesta quinta-feira (20) como parte de um acordo de troca de prisioneiros palestinos.

Após a cerimônia pública, o alto comissário da ONU, Volker Türk, criticou o que chamou de “desfile de corpos”, alegando que a ação violava o direito internacional.

“O desfile de corpos que vimos esta manhã é abominável e cruel, e vai contra a lei internacional. Pedimos que todos os retornos sejam realizados confidencialmente, com respeito e cuidado”, disse Türk a repórteres.

Os corpos entregues serão submetidos a um processo de identificação em Israel, mas, segundo o Hamas, pertencem a Oded Lifshitz, de 84 anos, e à mãe Shiri Bibas e seus filhos, Kfir e Ariel Bibas. A família Bibas tornou-se um símbolo da campanha internacional pela libertação dos reféns.

Reação internacional à cerimônia

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, também condenou o Hamas pela encenação do evento antes da entrega dos corpos à Cruz Vermelha.

“Quatro caixões exibidos em um palco – imagens quase insuportáveis”, escreveu Baerbock na rede X. “As famílias dos reféns são expostas ao terror sem limites do Hamas.”

Os quatro cidadãos israelenses foram sequestrados no kibutz Nir Oz, no sul de Israel, durante o atentado terrorista do Hamas. As imagens de Shiri Bibas abraçada aos filhos, envolta em um pano branco, enquanto era levada por homens armados, tornaram-se um dos símbolos da tragédia.

Seu filho mais novo, Kfir Bibas, sequestrado aos nove meses de idade, era o refém mais jovem levado para Gaza. Após o retorno dos corpos a Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que o país estava “unido em uma dor insuportável” e prometeu retaliação.

“Todos nós sofremos com uma dor misturada com raiva. Estamos todos furiosos com os monstros do Hamas”, afirmou Netanyahu, citando o Salmo 94: “Ó Eterno, Deus de vingança, mostra-te. Aparece, ó Deus da vingança.”

Hamas encena devolução dos corpos

Embora esta seja a primeira vez que o Hamas devolve corpos de reféns a Israel, o grupo repetiu a cerimônia coreografada que já havia utilizado na troca de prisioneiros vivos.

Durante o evento em Khan Younis, homens fardados se posicionaram em um palco, onde os caixões pretos foram exibidos. Pequenas fotos dos reféns mortos estavam sobre os caixões, e ao fundo um painel exibia Netanyahu como um vampiro, sugerindo que os reféns teriam sido mortos em ataques israelenses.

Réplicas de projéteis de fabricação americana foram posicionadas no palco, reforçando a narrativa de que os reféns morreram sob bombardeios do Exército de Israel.

“O criminoso de guerra Netanyahu e seu Exército nazista mataram-nos com mísseis disparados de aviões sionistas”, dizia uma mensagem no mural montado pelo Hamas.

O grupo terrorista anunciou em novembro que Shiri e seus filhos haviam morrido durante um ataque israelense a Gaza, mas a informação nunca foi confirmada oficialmente. Muitos israelenses mantiveram a esperança de que as crianças e a mãe pudessem retornar com vida.

O porta-voz do governo de Israel, David Mencer, classificou o Hamas como um “culto à morte” após a exibição dos caixões.

“O Hamas não é um movimento de resistência. O Hamas é um culto à morte que assassina, tortura e exibe cadáveres”, declarou Mencer.

Investigação e desconfiança entre as partes

Durante a cerimônia, um membro do Hamas, com o rosto coberto por um lenço palestino vermelho e branco, assinou documentos de entrega com um oficial da Cruz Vermelha.

Mais tarde, as Forças Armadas de Israel confirmaram o recebimento dos corpos, que foram levados ao Instituto Nacional de Medicina Forense para identificação, um processo que pode levar até 48 horas. Até o momento, apenas Oded Lifshitz foi identificado.

Para garantir a segurança do transporte, os caixões passaram por inspeção, evidenciando a desconfiança entre as partes mesmo após o cessar-fogo negociado com mediação internacional.

O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, organização que representa os parentes dos sequestrados, anunciou uma cerimônia pública em Tel Aviv para homenagear Oded Lifshitz e a família Bibas.

“Juntos, carregaremos a dor e a memória, e declararemos em voz clara: o tempo acabou para os reféns que ficaram para trás! Eles devem ser devolvidos imediatamente — os vivos para reabilitação, e os caídos para um enterro adequado”, declarou a organização.

Hamas quer nova troca de reféns

O Hamas afirmou estar pronto para um novo acordo de troca de reféns por prisioneiros palestinos, propondo a libertação simultânea de todos os sequestrados ainda mantidos em Gaza.

A exigência do grupo inclui um cessar-fogo permanente e a retirada total das forças israelenses do território palestino, que foi amplamente destruído desde o início do conflito.

Na quarta-feira (19), um líder do Hamas declarou que a proposta já foi apresentada aos mediadores internacionais.

(Com O Globo, AFP e The New York Times)

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaFaixa de GazaConflito árabe-israelenseIsraelHamas

Mais de Mundo

Deportados pelos EUA esperam repatriação em abrigo em selva no Panamá: 'tem jaulas com grades'

Reino Unido e Noruega se comprometem a apoiar Ucrânia no front e nas negociações

Enviado de Trump a Kiev cancela coletiva de imprensa com Zelensky

Em novo decreto, Trump ordena fim de benefícios federais para migrantes em situação irregular