George Osborne (centro), ministro britânico de Economia, em encontro com Christine Lagarde e dirigentes de bancos (Facundo Arrizabalaga/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2011 às 13h02.
Londres - Os grandes bancos britânicos terão que implementar uma importante reforma estrutural para evitar que o contribuinte tenha que financiar eventuais resgates no caso de nova crise, mas terão prazo até 2019 para a aplicação.
Uma comissão independente recomendou em seu relatório final de 363 páginas que seja dado um prazo às instituições até 2019 para que apliquem a polêmica reforma anunciada em abril que as obrigará a separar as atividades bancárias clássicas das operações de investimento, mais arriscadas, para proteger os ativos dos particulares.
A aplicação da reforma, duramente criticada pelos bancos, custará ao setor financeiro entre quatro e sete bilhões de libras anuais (6,4 a 11,1 bilhões de dólares), e os obrigará a reforçar os fundos próprios.
O presidente da comissão, John Vickers, defendeu em uma entrevista coletiva o "pacote coerente" de recomendações, que ainda deve ser aprovado pelo governo, e afirmou que o "status quo não era uma opção".
Ao falar sobre o custo da reforma, disse que devolve o risco aos que devem assumi-lo.
"Para a economia em geral é um benefício, não um custo", acrescentou o renomado economista britânico.
O ministro das Finanças, George Osborne, recebeu com satisfação o relatório encomendado ano passado pelo governo e se comprometeu a aplicar as recomendações da comissão.
"Agora temos um compromisso para legislar e estabelecer as regras durante esta legislatura, em 2015. Depois precisaremos de algum tempo para que entrem em vigor, como recomenda a própria comissão", declarou.
O Reino Unido destinou de 2007 a 2009 dezenas de bilhões de libras para resgatar bancos como Royal Bank of Scotland (RBS), Lloyds Banking Group (LBG) ou Northern Rock, o que provocou uma explosão do déficit e da dívida do país.
Após assumir o poder, em maio de 2010, a coalizão de conservadores e liberal-democratas liderada por David Cameron apresentou a conta ao contribuinte com um drástico plano de ajuste, cujos efeitos começaram a ser sentidos pela população.
A Associação de Banqueiros Britânicos (BBA na sigla em inglês) advertiu, no entanto, para as consequências da reforma para uma economia britânica que se desacelerou nos últimos meses, e que só cresceu 0,2% no segundo trimestre.
"Qualquer medida de reforma adicional adotada pelas autoridades britânicas deve ser cuidadosamente analisada e comparada com as que foram acordadas internacionalmente", reagiu em um comunicado.
"É vital que se entenda o impacto global que estas reformas adicionais terão na economia, na recuperação e na capacidade dos bancos para respaldar seus clientes no Reino Unido", acrescenta o texto da BBA.
Entre as recomendações da comissão está o aumento dos fundos próprios "duros" dos bancos (ações e lucros deixados na reserva) em até pelo menos 10%, mais que os 7% contemplados no recente acordo da Basileia III, que também deve ser aplicado em definitivo até 2019.
O relatório provocou uma breve queda de até 4% das ações dos bancos como Barclays e os resgatados RBS e LBG na bolsa de Londres, mas todas se recuperaram algumas horas depois.