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Comissão de juízes busca responsáveis pela crise do Chipre

O grupo tentará esclarecer a partir desta terça-feira se houve algum tipo de atuação política ou bancária que tenha gerado a crise


	Presidente cipriota, Nicos Anastasiades: ele ressaltou que os cidadãos estão pagando as consequências de "uma série de atos ou omissões" de pessoas responsáveis pela economia
 (Christos Avraamides/AFP)

Presidente cipriota, Nicos Anastasiades: ele ressaltou que os cidadãos estão pagando as consequências de "uma série de atos ou omissões" de pessoas responsáveis pela economia (Christos Avraamides/AFP)

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Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2013 às 09h15.

Nicósia - Uma comissão independente de juízes tentará esclarecer a partir desta terça-feira se houve algum tipo de atuação política ou bancária que tenha gerado a crise financeira no Chipre, uma investigação com componentes de escândalo em um momento no qual os cidadãos têm acesso limitado ao seu capital.

Os três ex-juízes do Supremo Tribunal que comandarão a investigação durante aproximadamente três meses tomaram posse de seus cargos em um ato solene realizado no Palácio Presidencial, no qual o presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, disse que a constituição desta comissão é o "mínimo que o Estado pode fazer para seu povo".

População que deu nas últimas semanas lições de paciência e disciplina, pois apesar das rígidas restrições aos movimentos de capital, impostas na semana passada após a reabertura dos bancos, não houve incidentes nem grandes manifestações.

No ato de hoje, Anastasiadis ressaltou que os cidadãos estão pagando as consequências de "uma série de atos ou omissões" de pessoas responsáveis pela economia e pelos bancos que levaram o país à beira da falência.

O leque de tarefas que os três designados deverão investigar, em cooperação com uma equipe de juristas e economistas, é tão amplo que parece impossível que possam ser abordadas em tão pouco tempo.

A investigação abrange o período compreendido a partir da separação do banco britânico HSBC do Banco Popular (Laiki), agora em processo de liquidação, até 23 de março passado, quando o acordo final com o Eurogrupo para o resgate do país estava para ser fechado.


Algumas das questões que a comissão tentará responder são: por que o Banco Popular foi expandido para a Grécia quando a crise já estava em andamento? E por que os bancos locais compraram bônus do Estado grego no mercado secundário enquanto as grandes entidades internacionais se desfaziam destes títulos?

Além disso, serão tema de análise o pagamento de bonificações a altos executivos bancários, assim como todos os aspectos políticos e econômicos relacionados com a negociação do resgate.

Nem todos os aspectos da investigação constituem potencialmente um delito, mas no caso de questões passíveis de punições, os ex-juízes encaminharão os resultados à Procuradoria Geral, que seria encarregada de abrir um processo.

Apesar da lista de tarefas ser imensa, o interesse midiático está centrado em dois aspectos. Primeiro, a saída maciça de capital nos dias anteriores ao primeiro acordo com o Eurogrupo (15 de março), que estipulava um imposto para todos os depósitos bancários mas que foi depois rejeitado no Parlamento.

A imprensa cipriota publicou uma lista com 132 operações de particulares e empresas que tiraram pelo menos 700 milhões de euros do país antes desta data.

Entre eles figura o consogro do presidente, cuja empresa transferiu para o exterior entre 12 e 13 de março um total de 21 milhões de euros.


Anastasiadis não se esquivou das acusações e hoje pediu aos juízes que deem prioridade ao seu caso e investiguem não apenas o seu consogro, mas também a empresa da qual ele próprio foi sócio.

Ontem, o presidente negou que tenha passado informação privilegiada para qualquer pessoa e que sua preocupação na época "era evitar a taxa bancária".

A princípio, este debate tem mais caráter moral do que legal, pois todo mundo sabia desde fevereiro que algo iria mudar no Chipre, como demonstra o aumento da retirada de depósitos nesse mês por parte de clientes da eurozona, segundo dados publicados recentemente pelo Banco Central do Chipre.

De maior gravidade é a denúncia de que políticos, empresários e sindicalistas tiveram empréstimos perdoados parcial ou totalmente, ou pelo menos não precisaram dar as mesmas garantias cobradas do restante dos clientes, pelos três principais bancos do país.

De acordo com as listas publicadas por vários meios de comunicação, todos os partidos políticos, excetuando-se social-democratas e ecologistas, estariam envolvidos no escândalo.

Entre os personagens mais conhecidos figura o ex-presidente Yorgos Vassiliu, que teve um empréstimo de 5,8 milhões de euros destinado a sua empresa perdoado. 

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