Primeiro-ministro luso, José Sócrates, anunciou crescimento acima do esperado diante do Parlamento, mas não acalmou investidores (Osvaldo Gago/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 9 de janeiro de 2011 às 14h51.
Lisboa - A campanha para o pleito presidencial de 23 de janeiro em Portugal começou oficialmente neste domingo, em meio ao temor de que a pressão dos mercados obrigue o país a recorrer à ajuda externa e das acusações de tráfico de influência em direção ao favorito à reeleição, Aníbal Cavaco Silva.
Na semana passada, os investidores demonstraram desconfiança sobre a situação do país, receosos de seu elevado déficit público e de que o país não possa cumprir com suas obrigações financeiras, o que disparou as especulações sobre um possível resgate da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Cada vez é mais sufocante a pressão dos mercados sobre Portugal, o que se traduziu na alta dos juros sobre sua dívida soberana até os máximos históricos (acima de 7%) nesta última semana.
Nos primeiros dias de 2011, o país viu aumentar o desemprego (0,8% em novembro), minguar a confiança de consumidores e empresários aos menores níveis nunca conhecidos antes de cair com força a Bolsa de Lisboa (-3,9%).
Em meio ao emaranhado da crise, um dado positivo. Na semana passada Portugal anunciou que cresceu em 2010 o dobro do esperado, em torno de 1,4%, e que o objetivo de reduzir o déficit público em dois pontos com relação ao ano anterior, para 7,3%, havia sido alcançado com sucesso.
Duas notícias positivas para o país feitas pelo primeiro-ministro luso, José Sócrates, diante do Parlamento na sexta-feira, mas que tiveram pouco impacto entre os investidores.
No sábado mesmo, a revista alemã "Deir Zeitung" indicava em seu site que os Governos da França e Alemanha estudam pedir a Portugal que solicite o mais rápido possível a ajuda da UE e o FMI.
O Executivo português insiste em não recorrer à ajuda externa e que, no nível macroeconômico, o país apresenta um desempenho que não o torna merecedor da desconfiança dos mercados.
Os investidores, no entanto, parecem concentrar-se mais nas necessidades de financiamento de Portugal, que estimam seja de 20 bilhões de euros.
Para os analistas, a verdadeira prova de fogo para o país será a emissão desta semana, que será no valor entre 750 milhões de euros a 1,250 bilhão de euros em obrigações do Tesouro para três e dez anos, ao coincidir em poucos dias com as da Grécia, Espanha e Itália.
A corrida presidencial começou com acusações em direção ao atual chefe do Estado, Aníbal Cavaco Silva, por ter recebido tratamento de graça para comprar em 2001 um pacote de títulos da sociedade proprietária do Banco Português de Negócios (BPN) a 1 euro, preço sensivelmente mais baixo do valor pago pela maioria de acionistas.
O dirigente vendeu os títulos dois anos depois a 2,4 euros por ação, o que representa um acréscimo de 140%, para os 147,5 mil euros, segundo publicou a imprensa lusa.
Seus rivais exigem que Cavaco Silva esclareça quem adquiriu seu pacote de ações - a compra e venda aconteceu em um período durante o qual se manteve fora da política ativa - e denunciam que a operação foi fabricada junto ao ex-presidente do BPN José de Oliveira e Costa.
Oliveira e Costa foi secretário de Estado de Assuntos Fiscais no primeiro Governo de Cavaco Silva e atualmente é processado por suposta atuação irregular no comando do BPN, entidade nacionalizada em 2008 pelo risco de quebra, após descobrir um buraco de 700 milhões de euros em suas contas.
No meio desta situação, Aníbal Cavaco Silva, de 71 anos e todo seu histórico da política lusa (também foi primeiro-ministro entre 1985 e 1995) se apresenta como fiador da estabilidade do país para revalidar seu cargo, apoiado pelos dois partidos de centro-direita, o Social Democrata (PSD) e o CDS-PP.
A este pleito, aos quais estão aptos a participar 9,6 milhões de portugueses, concorrem outros cinco candidatos.
Deles, quem mais opções têm de concorrer com Cavaco - líder de todas as pesquisas - é o socialista Manuel Alegre, que conta com o respaldo de seu partido (agora no Governo) e o Bloco de Esquerda.
Alegre confia que conseguirá os votos suficientes para ir ao segundo turno, embora para isso seja preciso sobrepor-se às estatísticas, que diz que os três presidentes que teve Portugal desde 1974 foram sempre reeleitos pelo menos uma segunda vez.