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Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2014 às 14h53.
Kiev - A corrida presidencial que começou nesta terça-feira formalizou a luta pelo poder na Ucrânia, enquanto o governo provisório pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que processe o presidente deposto, Viktor Yanukovich, por crimes contra a Humanidade.
"Apresentarei-me ao cargo de presidente da Ucrânia, já que estou firmemente convencido que na Ucrânia é preciso mudar as regras do jogo. Deve haver justiça. Tenho certeza que isto é possível", anunciou Vitali Klitschko, um dos líderes dos protestos que culminaram na queda do governo.
O líder do partido UDAR (Golpe), que pendurou recentemente as luvas - ele foi campeão do mundo de boxe na categoria de pesos pesados - é considerado o opositor com mais gancho eleitoral e, além disso, conta com o apoio da Alemanha, onde viveu por muitos anos.
A campanha para as eleições presidenciais, marcadas para 25 de maio, começa com a incógnita sobre a possível candidatura da ex-primeira-ministra, Yulia Tymoshenko, posta em liberdade sábado.
Por enquanto, Tymoshenko decidiu aceitar o convite da chanceler alemã, Angela Merkel, e viajar à Alemanha para se submeter a um tratamento de hérnia de disco, doença que sofre há dois anos.
"Ao ver que não havia um grande interesse em seu discurso (no Maidan), decidiu ficar em segundo plano. Espero que, após uma pausa, que terminará depois das presidenciais, Tymoshenko retorne à política ativa", comentou o analista político Taras Chornovil.
Para ele, Tymoshenko precisa de tempo para assumir as reivindicações do Maidan, que são diferentes da Revolução Laranja que ela mesma protagonizou em 2004, por isso não participará da corrida presidencial. Já outros analistas consideram que a pausa será breve e que ela apresentará sua candidatura.
Por outro lado, as consultas para a formação do governo de União Nacional se estagnaram, o que obrigou o presidente interino, Aleksandr Turchinov, a adiar a votação na Rada Suprema (parlamento) até amanhã.
"Na quinta-feira teremos novo governo. Não podemos tomar decisões precipitadas. É preciso consultar o povo", disse à agência Efe o nacionalista Oleg Tiagnibok, líder do partido Svoboda (Liberdade), após a sessão parlamentar.
O líder do principal partido do país, Batkivschina (Pátria), Arseni Yatseniuk, desponta como o grande favorito a assumir o cargo de primeiro-ministro.
"Insto às forças políticas democráticas a não negociarem cargos. O governo será legítimo não quando for votado no parlamento, mas quando receber o respaldo das pessoas que estiverem no Maidan", disse.
Yatseniuk, que defendeu a participação dos líderes dos protestos na formação do executivo, destacou a importância de ser constituído com urgência, "não nos bastidores", mas de maneira transparente.
Se ainda tiver ficado alguma dúvida sobre a força das ruas em Kiev, o Maidan emitiu um comunicado em que estabelece as condições que cada candidato deve cumprir para poder concorrer a um posto no governo, entre eles o de não ter tido nenhum cargo público desde 2010, quando Yanukovich assumiu o poder.
Também não podem aspirar a entrar no executivo quem estiver na lista dos cem homens mais ricos do país e nem quem tiver tido algum envolvimento com violações de direitos humanos ou casos de corrupção.
"Checaremos se todos os candidatos cumprem estes requisitos. Cada um dos membros do governo terá de contar com a aprovação do Maidan", afirmou a declaração do Kolo (círculo) do Maidan.
Os representantes dos protestos defenderam que os membros do governo devem ser "profissionais reconhecidos com reputação impecável e não funcionários de partido".
Uma boa notícia hoje para a Ucrânia é que a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, garantiu,em Kiev, que a EU estuda a possibilidade de conceder ao país créditos de curto e de longo prazo em parceria com o Fundo Monetário Internacional.
A Ucrânia, que mantém sua aspiração de assinar um Acordo de Associação e ingressar na União Europeia, avaliou em US$ 35 bilhões de dólares a ajuda necessária para reestruturar a economia e evitar a falência em curto prazo.
E o parlamento ucraniano pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, que processe Yanukovich, que tem contra ele um mandado de busca e prisão, e outros antigos altos cargos de seu governo por crimes contra a Humanidade.
O documento os acusa de "assassinato em massa de cidadãos ucranianos durante os maciços protestos que aconteceram no período compreendido entre 21 de novembro e 22 de fevereiro de 2014".
Essas ações, acrescentou, "conduziram à morte mais de cem cidadãos da Ucrânia e de outros países, e mais de dois mil feridos, dos quais mais de 500 continuam atualmente em estado grave".