Mundo

Com oposição crescente, Trump não altera postura sobre crianças imigrantes

Separações de famílias e detenções de crianças na fronteira, destacadas por vídeos de jovens em celas e áudio de crianças chorando, geraram protestos

Donald Trump: líder norte-americano transformou uma posição dura sobre imigração em peça central de sua Presidência (Jonathan Ernst/Reuters)

Donald Trump: líder norte-americano transformou uma posição dura sobre imigração em peça central de sua Presidência (Jonathan Ernst/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 19 de junho de 2018 às 19h42.

Última atualização em 19 de junho de 2018 às 19h43.

Washington - Democratas realizaram um protesto imprevisto no Congresso dos Estados Unidos e republicanos moderados e grupos empresariais importantes do país pressionaram o presidente Donald Trump nesta terça-feira para parar a separação de crianças imigrantes de seus pais, conforme uma pesquisa de opinião mostrava que a maior parte dos norte-americanos se opõe à política.

As separações de famílias e detenções de crianças na fronteira sul dos EUA, destacadas por vídeos de jovens em celas e uma gravação em áudio de crianças chorando, geraram protestos no país e forte condenação no exterior.

Trump, que transformou uma posição dura sobre imigração em peça central de sua Presidência, tem defendido com firmeza as ações de seu governo. Ele colocou a culpa em democratas pelas separações, embora seus colegas republicanos controlem ambas câmaras do Congresso e seu próprio governo tenha implementado a política atual de adesão estrita das leis de imigração.

Nesta terça-feira, o presidente tentou novamente culpar democratas pelo que chamou de "brechas" na lei que exige que famílias detidas por entrarem ilegalmente no país sejam separadas ou libertadas.

"Estas são brechas debilitantes que causam separações familiares, o que não queremos", disse em comentários à Federação Nacional de Negócios Independentes, acrescentando querer que o Congresso lhe dê autoridade para deter e deportar famílias juntas.

O presidente buscou relacionar um fim às separações familiares com aprovação de uma lei mais ampla sobre imigração, fazendo com que democratas o acusassem de usar crianças como reféns.

Dois dos principais grupos comerciais dos EUA, a Câmara de Comércio dos EUA e a Business Roundtable, criticaram a política de separação nesta terça-feira e pediram seu fim imediato.

"Esta prática é cruel e contrária aos valores americanos", disse o chefe-executivo da Cisco Systems, Chuck Robbins, que comanda o comitê de imigração do grupo, em comunicado.As separações - quase 2 mil crianças foram separadas de seus pais entre meados de abril e o final de maio - foram criticadas por democratas, alguns republicanos, profissionais médicos, ativistas de direitos humanos e clérigos.

Elas começaram após o secretário de Justiça dos EUA, Jeff Sessions, anunciar em abril que todos os imigrantes apreendidos durante travessia ilegal da fronteira EUA-México deveriam ser processados criminalmente.

Pais que são encaminhados por agentes fronteiriços para processos são mantidos em prisões federais, enquanto seus filhos são transferidos para instalações de abrigo na fronteira sob custódia do escritório de Reassentamento de Refugiados, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

Uma pesquisa de opinião nacional Reuters/Ipsos divulgada nesta terça-feira mostrava que menos de um em cada três adultos norte-americanos apoiava a política. A pesquisa feita de 16 a 19 de junho descobriu que 28 por cento das pessoas entrevistadas apoiavam a política, enquanto 57 por cento eram opostas e os 15 por cento restantes disseram não saber.

As imagens que geraram ampla condenação, de crianças em celas de arame, são de um centro de processamento da patrulha fronteiriça em McAllen, no Texas.

Possibilidades legislativas

Três senadores republicanos - Ron Johnson, Ted Cruz e John Kennedy - pediram nesta terça-feira para Trump permitir que famílias ficassem juntas caso cruzassem ilegalmente a fronteira, enquanto parlamentares buscam legislação de reforma imigratória mais ampla.

Cruz, que concorreu contra Trump nas primárias presidenciais republicanas de 2016, planeja apresentar um projeto de lei nesta semana que irá proibir as separações, além de outras reformas.

"O que eu faria até aprovarmos o projeto de Ted é continuar prendendo e processando pessoas por quebrarem a lei, mas permitir que suas crianças continuem com elas", disse Kennedy em entrevista coletiva com Johnson e Cruz.

Trump planejava se encontrar com parlamentares republicanos mais tarde nesta terça-feira, antes de votações esperadas para esta semana sobre legislação de imigração. Ele está focado em conseguir financiamento congressional para uma fronteira que há tempos deseja construir na fronteira do sul dos EUA com o México, e democratas há tempos dizem que irão resistir a isto.

(Reportagem de Sarah N. Lynch e Susan Cornwell; Reportagem adicional de Tim Ahmann, Amanda Becker, Makini Brice, Doina Chiacu e Lisa Lambert, em Washington, Richard Lough, em Paris, e Tom Miles, em Genebra)

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)Imigração

Mais de Mundo

Justiça da Bolívia retira Evo Morales da chefia do partido governista após quase 3 décadas

Aerolineas Argentinas fecha acordo com sindicatos após meses de conflito

Agricultores franceses jogam esterco em prédio em ação contra acordo com Mercosul

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA