Guaidó: ao se declarar presidente, o político da oposição recebeu apoio de diversos países (Carlos Becerra/Getty Images)
Reuters
Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 11h55.
Última atualização em 24 de janeiro de 2019 às 14h47.
Caracas - A oposição venezuelana tentará manter a pressão contra o isolado presidente Nicolás Maduro nesta quinta-feira, depois que o líder do Congresso, Juan Guaidó, se autodeclarou presidente interino do país com o apoio de diversos países da região.
Guaidó ganhou apoio diplomático dos Estados Unidos, do Canadá e de governos de direita na América Latina na quarta-feira, após se declarar presidente interino ante uma multidão de apoiadores entusiasmados que encheram as ruas de Caracas com a esperança de mudança.
A União Europeia disse que a vontade democrática dos venezuelanos “não pode ser ignorada” e pediu que os “direitos civis, a liberdade e a segurança” de Guaidó sejam respeitados, por pouco não o reconhecendo como líder do país.
O engenheiro de 35 anos, catapultado quase do dia para a noite ao cargo de líder nacional, tem prometido eleições livres e justas, um governo de transição para recuperar a hiperinflacionada economia venezuelana e anistia para os militares que ajudarem a tirar Maduro do poder.
Guaidó enfrenta a difícil tarefa de seguir em frente com o plano de transição sem o controle de cruciais instituições estatais e das Forças Armadas, que o rejeitaram.
Comandantes militares, incluindo o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, têm, até agora, prometido permanecer com o socialista Maduro.
A Rússia, que tem altos investimentos na indústria petrolífera da Venezuela e fornece apoio às suas Forças Armadas, advertiu os Estados Unidos contra uma intervenção militar e disse que irá proteger a soberania do país.
O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, disse ao jornal russo International Affairs que Moscou irá defender o princípio de não interferência em questões venezuelanas. Ele não mencionou o nome de Maduro, mas deixou claro que a Rússia apoia o governo dele.
A Turquia assumiu posicionamento semelhante, com o presidente Tayyip Erdogan ligando para Maduro para oferecer apoio.
A maior parte dos países da América Latina, incluindo o Brasil, reconheceu o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, deixando Nicolás Maduro ainda mais isolado enquanto enfrenta instabilidade em casa e ameaças dos Estados Unidos.
O governo brasileiro afirmou, em nota do Ministério das Relações Exteriores, que está comprometido em apoiar o "processo de transição" na Venezuela, e o presidente Jair Bolsonaro comentou a situação do país vizinho durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.
"A história tem nos mostrado que ditaduras não passam o poder para a oposição de forma pacífica, e nós tememos as ações da ditadura Maduro", disse Bolsonaro em entrevista à TV Record na noite de quarta-feira.
"Obviamente tem países fortes dispostos a outras consequência... como anunciado pelo governo Trump. Obviamente o Brasil acompanha com muita atenção e estamos no limite daquilo que podemos fazer para restabelecer a democracia naquele país".
Em referência aos protestos antigoverno de quarta-feira, a União Europeia disse que o povo venezuelano havia “clamado em massa pela democracia e pela possibilidade de determinar livremente seu próprio destino. Essas vozes não podem ser ignoradas”.
“O povo venezuelano tem o direito de se manifestar pacificamente, de escolher livremente os seus líderes e de decidir o seu futuro”, disse o bloco em comunicado.
A União Europeia impôs sanções contra a Venezuela e boicotou a cerimônia de posse de Maduro para um segundo mandato este mês, após reeleição que muitos governos estrangeiros classificaram como uma fraude.
O bloco pretende estabelecer um grupo de contato internacional com países da América do Sul em fevereiro para buscar conversas entre Maduro e a oposição, que, segundo diplomatas, precisariam incluir Guaidó.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, usou o Twitter para pedir que “toda a Europa se una em apoio às forças democráticas” na Venezuela.