O Haiti está sem presidente desde o assassinato de Jovenel Moïse, em 2021 (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 30 de maio de 2024 às 18h43.
Última atualização em 30 de maio de 2024 às 18h50.
"Espero que tenha sucesso". Assim como David, refugiado em um acampamento em Porto Príncipe, os haitianos querem que seu novo primeiro-ministro, Garry Conille, tire o país da profunda crise em que vive, embora mantenham a cautela diante da magnitude do trabalho que o espera.
Após semanas de diálogos, o conselho presidencial de transição nomeou Conille na terça-feira como primeiro-ministro do Haiti. Este médico de formação, que já foi premiê durante um breve período entre 2011 e 2012, era até agora diretor regional do Unicef.
Conille deve fazer frente a um trabalho monumental: tentar tirar o Haiti, assolado por gangues, de sua profunda crise política, de segurança e humanitária para abrir o caminho para a organização de eleições, as primeiras desde 2016.
"Ele tem muito trabalho pela frente", resume o antropólogo Vermont Saintyl. E "uma responsabilidade com a nação porque deve servir a um conselho presidencial que não foi eleito pelo povo, mas imposto pela comunidade internacional".
Saintyl fez menção às negociações entre funcionários haitianos e vários países e organizações, em particular a Comunidade do Caribe, que resultaram no estabelecimento de autoridades de transição após a renúncia do controverso primeiro-ministro Ariel Henry.
Para o professor James Innocent, Conille tem a vantagem de "conhecer" o cargo e de "ter muita experiência internacional". "Agora, deve lutar para salvar o país".
"Apoio todos aqueles que têm algo positivo para o país porque eu não posso viver assim. Ouvimos tiros todos os dias", diz o comerciante Mylove Similka em alusão à violência que perturba a vida dos moradores da capital, onde as gangues controlam 80% do território.
Nerette Celisca, morador de Porto Príncipe, considera que Conille é "um cidadão honesto" que lutará "contra a corrupção".
O primeiro-ministro interino disse na quarta-feira que se sentia "muito honrado" pelo cargo e agradeceu à sociedade civil, aos partidos políticos e aos membros da diáspora por sua nomeação.
"Vamos trabalhar juntos por um futuro melhor para todas as crianças da nossa nação", escreveu em crioulo no X.
Os Estados Unidos receberam com satisfação, nesta quinta-feira (30), a nomeação de Conille e instou o Conselho de transição presidencial e o próprio primeiro-ministro a "agir rapidamente para nomear um governo inclusivo, responsável e confiável, assim como um conselho eleitoral provisório para permitir eleições livres e justas".
O presidente do Quênia, William Ruto, cujo país vai liderar uma força multinacional para apoiar a polícia haitiana, cumprimentou Conille e qualificou sua nomeação como um "passo importante".
O presidente africano prevê que a mobilização da força de intervenção comece em três semanas, assim que tiver sido realizada "a avaliação acordada com a polícia haitiana e os líderes haitianos", disse recentemente à BBC.
O Haiti está sem presidente desde o assassinato de Jovenel Moïse, em 2021. O mandato do conselho presidencial de transição terminará no mais tardar em fevereiro de 2026.