Espanhóis formam fila para entrar em uma agência de empregos de Madri (Angel Navarrete/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2014 às 16h55.
Madri - Estancada em seu estágio quatro anos depois de se formar na esperança de se tornar assistente social, Beatriz Biota ainda não pode se mudar da casa dos pais.
“Tudo o que eu encontrei foi trabalho voluntário não remunerado”, disse Biota, 29, em uma entrevista telefônica de Zaragoza, no norte da Espanha. “Eu mantive meu trabalho de promoção em supermercados nos fins de semana e eu estaria disposta a trabalhar em tempo integral também. Mas essa não é uma opção”.
O legado da pior crise da história democrática da Espanha está arruinando uma geração de candidatos com vontade de trabalhar e que procuram trabalho, mas não conseguem achar nenhum com um salário suficiente para viver.
Dados de hoje mostraram que um em cada quatro espanhóis continua sem emprego mesmo depois que a economia mostrou um ano de crescimento.
A taxa está em ligeiro declínio, com sinais de que a criação de emprego está revivendo na quarta maior economia da zona do euro, mas ela não pode proporcionar estabilidade suficiente para aqueles que buscam independência financeira.
Junto com Biota, que está aferrada aos seus 350 euros mensais (US$ 471), onze meses por ano até encontrar trabalho social remunerado, 76 por cento dos espanhóis de sua idade ou menos vivem com suas famílias.
A taxa de desemprego do país caiu para 24,5 por cento nos três meses até junho frente a 25,9 por cento no trimestre anterior,disse hoje o Instituto Nacional de Estatísticas da Espanha, em Madri .
Apesar de ser menor do que a estimativa média de 24,9 por cento de uma pesquisa da Bloomberg News, continua a ser a segunda maior taxa da União Europeia depois da Grécia.
Criação de emprego
“Não vai ser fácil arrumar a casa”, disse Alfredo Arahuetes García, chefe do departamento de economia na Universidade Pontifícia Comillas, em Madri, em entrevista telefônica.
“É simples. Por um lado, os salários caíram e por outro os aluguéis ou preços das casas caíram muito pouco e vão subir de novo com a recuperação”.
O governo espanhol estima que o Produto Interno Bruto crescerá 1,2 por cento neste ano depois de se contrair a mesma quantidade em 2013. Ele vê a média do desemprego em 24,9 por cento em 2014, antes de cair para 23,3 por cento em 2015.
Emprego temporário
O governo diz que a melhora na economia está criando empregos, o que se reflete no número de pessoas que contribuem para o sistema de aposentadoria estatal ou “previdência social”.
Apesar disso, cerca de 92 por cento dos novos contratos foram temporários no primeiro semestre deste ano, uma parcela que tem se mantido estável nos últimos 25 anos, mostra estudo da IESE Business School.
No total, cerca de um quarto dos trabalhadores espanhóis tem empregos de meio período, porção que sobe para 50 por cento para os que têm menos de 30 anos de idade, de acordo com o INE.
Enquanto a Espanha não é exceção na Europa meridional e oriental, cerca de metade dos que têm menos de 30 anos de idade moram com os pais na França e 40 por cento ou menos nos países escandinavos.
Isso reflete uma taxa de desemprego de 42 por cento nessa faixa etária na Espanha, mais de duas vezes a taxa da França e da Suécia.
A falta de empregos motivou Pablo Padilla, 25, a continuar estudando depois que se formou em sociologia em 2010.
Ele também iniciou um grupo de protesto chamado “Jovem sem Futuro”, junto com amigos, colegas e estudantes do mesmo ano.
“Já tivemos que escolher entre a precariedade, o desemprego e o exílio em 2005, antes da crise. Nós não queremos mais isso”, disse ele.
Em Jerez de la Frontera, no sul da Espanha, Inmaculada Román diz que ela teria mergulhado em uma depressão se ela tivesse continuado pensando sobre suas perspectivas de trabalho.
Ela chegou aos 38 anos fazendo malabarismos entre os trabalhos de substituição como química, o ensino e os trabalhos ocasionais.
“Eu nunca passei fome, mas meus pais não estarão por perto para sempre”, disse ela. “É muito, muito triste”.