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Com fronteiras fechadas, Grécia não quer ser "depósito"

Na semana passada, a polícia grega transferiu 2.500 pessoas consideradas "migrantes econômicos" amontoados ao lado da nova cerca erguida pelo governo macedônio


	Refugiados: são poucos os que querem pedir asilo na Grécia, onde quase não veem possibilidades de futuro
 (Alexandros Avramidis / Reuters)

Refugiados: são poucos os que querem pedir asilo na Grécia, onde quase não veem possibilidades de futuro (Alexandros Avramidis / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de dezembro de 2015 às 07h49.

Atenas - O bloqueio da fronteira da Macedônia para cidadãos que não são considerados refugiados representou um golpe extra para a Grécia que, nas palavras do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, está agora ameaçada de se transformar em um "depósito de almas".

Na semana passada e após dias de tensões na fronteira, a polícia grega transferiu de ônibus 2.500 pessoas consideradas "migrantes econômicos" que tinham se amontoado ao lado da nova cerca erguida pelo governo macedônio para impedir a entrada de todo cidadão que não proceda de Síria, Afeganistão ou Iraque.

A maioria nem sequer chegou a pisar em algum dos três centros de amparo dispostos em Atenas.

São poucos os que querem pedir asilo na Grécia, onde quase não veem possibilidades de futuro por conta das dificuldades econômicas que este país vive.

Farad, Armam, Mass e Nasser são exemplos de uma geração de jovens iranianos cultos que não quer seguir aguentando a repressão em seu país.

Junto a várias dezenas de compatriotas, eles esperam na Praça Omonia, no centro de Atenas, que um traficante os leve de novo rumo à fronteira com a Macedônia para tentar novamente passar para o norte da Europa, desta vez através da fronteira verde e antes de pagar os 2 mil euros (mais de R$ 8 mil) por cabeça.

O fechamento da fronteira caiu como uma dádiva dos céus para as redes de traficantes, que cobravam por enquanto 500 euros (R$ 2 mil) por pessoa para o curto percurso marítimo que separa a Turquia das ilhas gregas, um calvário que mais de 790 mil refugiados já viveram neste ano.

Nasser, um dos jovens iranianos, é ator e tem 23 anos. Ele conta que a opinião pública internacional tem uma imagem muito distorcida da situação do Irã, um país que, segundo ele, mudou o governo, mas permanece com a repressão.

"O governo iraniano quer mostrar que tudo vai bem e que existe liberdade. Então, ninguém de fora entende por que fugimos de nosso país. As pessoas perguntam: por que vocês fugiram se não existe guerra? Mas o que nós temos não é um conflito externo, e sim interno", relatou.

Ele decidiu deixar o país depois que o regime o proibiu de trabalhar por dois anos, isso porque em uma peça de teatro ele interpretava um diálogo que aludia aos cristãos e falava de Jesus Cristo.

"Sou cristão e nós não temos um lugar para professar nossa fé. Temos que praticar em casa. Essa é a razão pela qual abandonei meu país", explicou.

Entre os amigos que fugiram com ele está Armam. Ele é pianista e cantor e também foi proibido de trabalhar por suas letras críticas.

Essas letras levam as pessoas à prisão ou, no mínimo, a perder o direito a trabalhar no Irã, contou Mass, uma jovem professora de inglês que faz parte do grupo e se ofereceu para ser intérprete.

Todos querem chegar a Áustria, Alemanha ou ao Reino Unido. Alguns têm famílias por lá, apesar de o sonho real ser ir aos Estados Unidos ou Canadá.

Nasser tem outro sonho. "Se pudesse escolher livremente um país para ir, escolheria o Irã", disse.

A poucos metros deste grupo alguns marroquinos esperam o tempo passar e que algo aconteça para que possam empreender de novo seu caminho.

Fazem parte dos que tiveram que voltar da fronteira macedônia e, embora por conta da aparência se pareçam aos iranianos, a motivação para dar sai de lá é completamente diferente, e evidentemente econômica.

Eles reconhecem que não sofrem perseguição política, mas lamentam que o Marrocos não pode oferecer outro futuro que não seja o pautado no desemprego.

O fato de a travessia pela Europa ser longa, de faltar recursos para pagar um traficante e ter de dormir na rua não tira o sorriso do rosto e a esperança de poder começar uma vida nova em algum lugar do norte da Europa.

Enquanto todos conversavam sobre seus sonhos, uma mulher grega se aproximou carregando uma sacola repleta de sanduíches.

"Para vocês comerem alguma coisa", disse ela, que entregou a bolsa e saiu andando calmamente.

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