Donald Trump: até mesmo as pesquisas internas da campanha de Hillary foram interpretadas de maneira equivocadas (Brian Snyder/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 11h39.
Donald Trump conquistou uma vitória espetacular sobre a favorita, Hillary Clinton, um resultado que, além da democrata, teve um claro perdedor em todo o processo: as pesquisas de intenção de voto.
O fracasso dos institutos de pesquisa e dos analistas foi tão evidente na eleição que o futuro de todo o setor está no centro de uma polêmica.
Das 20 maiores empresas de pesquisas, incluindo redes nacionais de televisão e jornais que realizaram mais de 80 sondagens desde meados de setembro, apenas uma - a do jornal Los Angeles Times em associação com a USC Tracking (instituto da Universidade South California) - indicou de forma consistente a vantagem de Trump.
Na terça-feira, o site especializado RealClearPolitics, considerado uma fonte confiável na análise de tendências, indicava uma vantagem média de 3,3% para Hillary.
O prestigioso analista Nate Silver foi consultado sobre o desempenho das pesquisas na eleição americana e respondeu com apenas uma palavra: "Terrível".
O site de Silver, FiveThirtyEight, projetou vitórias da democrata na Flórida, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin. Trump venceu nos quatro estados-chaves.
Mesmo quando a apuração indicava uma clara vantagem de Trump, o FiveThirtyEight apontava que Hillary tinha quase 70% de probabilidades de vencer a eleição.
O respeitado sistema do jornal New York Times, chamado Upshot, calculou que a democrata tinha 85% de probabilidades de vencer a eleição e especificamente 93% no Wisconsin. Mais uma vez, Trump contrariou as estimativas e triunfou no estado.
Larry Sabato, professor da Universidade da Virginia, tem um famosos blog chamado a "Bola de Cristal de Sabato", no qual previu a vitória de Clinton.
"Bola de Cristal tem agora uma enorme rachadura", disse Sabato à AFP.
"É evidente que algo aconteceu", afirmou Sabato ao comentar o fracasso generalizado em interpretar a realidade. O especialista recordou que foram realizadas centenas de pesquisas sobre a eleição presidencial este ano.
Um dos problemas, indicou Sabato, é que as sondagens basearam suas amostragens no eleitorado como estava composto na eleição passada. Desta forma, simplesmente não captaram o número de eleitores de Trump, muito tímidos ou habilidosos em evitar os pesquisadores.
"A participação de pessoas brancas nas zonas rurais foi enorme", disse, enquanto a de negros e 'millenials' caiu.
Até mesmo as pesquisas internas da campanha de Hillary foram interpretadas de maneira equivocadas, de acordo com um analista que teve acesso aos documentos e respondeu à AFP com a condição do anonimato.
"Estavam completamente equivocados e gastaram uma fortuna", disse.
De acordo com Sabato, não. "As pesquisas mostraram claramente", disse.
Mas a maioria reconheceu muito tarde que os entrevistadores não entenderam a profundidade do ressentimento contra a ex-senadora e ex-secretária de Estado, que muitos consideram uma corrupta integrante da elite de Washington.
"Eu não tinha ideia da profundidade das divisões", admitiu Paul Begala, estrategista do Partido Democrata.
Sabato afirmou ter ficado "desconcertado", levando em consideração que "literalmente centenas de pesquisas estavam equivocadas".
Mas o especialistas se negou a decretar a derrota das pesquisas.
"A análise somente por meio da anedota não é acadêmica. Você não pode se basear apenas em instintos, deve ter como base os dados", afirmou.
Ele também mencionou o forte retrocesso no número de pessoas que aceitam participar em pesquisas por telefone.
"No futuro, a maior parte das pesquisas terá que ser feita on-line", afirmou, ao descartar as preocupações de que este tipo de sondagem poderia ser facilmente manipulado.
"Não são dados de pouca confiança, caso as coisas sejam feitas da maneira correta", concluiu.