Papa Francisco: líder da Igreja tem defendido uma simplificação dos rituais fúnebres papais (Tiziana FABI/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 29 de março de 2025 às 14h56.
Recuperado após ficar internado em estado grave por severos problemas respiratórios, o Papa Francisco havia anunciado, em novembro do ano passado, uma simplificação dos rituais fúnebres papais, com intuito de refletir melhor o status do chefe da Igreja Católica como um pastor humilde, em vez de "pessoa de poder".
Os papas falecidos, por exemplo, tradicionalmente têm três caixões, um feito de cipreste, um de chumbo e um de olmo, que são colocados um dentro do outro, antes que o corpo papal seja enterrado. A partir de agora haverá apenas um caixão simples, feito de madeira e zinco.
Quando ocorrer, a confirmação da morte do papa não será mais feita no quarto onde ele estava, mas em sua capela particular, e seu corpo será colocado imediatamente em um caixão. O caixão aberto será então exposto para veneração dos fiéis na Basílica de São Pedro, pondo fim à exibição dos corpos papais em uma plataforma elevada, apoiados por almofadas, conforme a tradição.
Com as novas regras, Francisco disse, na ocasião, querer mostrar que "o funeral do pontífice romano é o de um pastor e discípulo de Cristo, e não o de um homem poderoso deste mundo", segundo Diego Ravelli, mestre de celebrações litúrgicas pontifícias, ao Vatican News. Esta versão do "Ordo Exsequiarum Romani Pontificis" (livro litúrgico que trata de cerimônias fúnebres) atualizada, aprovada no final de abril pelo papa argentino, substitui uma edição de 2000 que foi usada no funeral de João Paulo II em 2005.
Francisco já havia dito em 2023 que estava trabalhando para simplificar os funerais papais. Ele disse, por exemplo, não querer ser enterrado na Basílica de São Pedro ao lado de seus antecessores imediatos, mas em uma basílica em Roma. Com isso, ele se tornará o primeiro papa a ser enterrado fora do Vaticano em mais de 100 anos.
Desde sua eleição como chefe da Igreja Católica em 2013, Francisco tem procurado se livrar da pompa dos rituais em favor de mais simplicidade, preferindo viver em uma residência discreta dentro do Vaticano em vez do palácio apostólico dourado.
O Papa Francisco enfrentou um risco real de morte durante sua recente internação no Hospital Gemelli, em Roma, na Itália. A gravidade do quadro levou os médicos a cogitarem interromper o tratamento e deixar o líder da Igreja Católica “ir”, segundo revelou o médico Sergio Alfieri, que acompanhou Francisco durante todo o período de recuperação, em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera.
Ele apontou que houve ao menos duas crises muito preocupantes, que levaram o Pontífice a sofrer, afirmou que a reação do paciente foi melhor do que o esperado e comparou a recuperação a um milagre. O momento mais grave, relatou o médico, ocorreu no dia 28 de fevereiro, quando o jesuíta argentino apresentou uma crise de broncoespasmo — contração das vias aéreas que dificulta a passagem de ar para os pulmões.
A situação foi de extrema gravidade, explicou Alfieri, relatando que a equipe médica e os acompanhantes do Pontífice chegaram a esperar pelo pior.
"Houve um momento em que tivemos que escolher entre parar e deixá-lo ir ou forçar com todos os medicamentos e terapias possíveis, correndo um risco muito alto de danificar outros órgãos. E no final, seguimos esse caminho", contou Alfieri ao jornal italiano. "Pela primeira vez, vi lágrimas nos olhos de algumas pessoas ao seu redor. Pessoas que, como entendi neste período de internação, o amam sinceramente, como um pai. Todos sabíamos que a situação havia piorado ainda mais e havia o risco de que ele não sobrevivesse."
Francisco retornou no domingo para a residência de Santa Marta, no Vaticano, onde ainda está sujeito a uma intensa lista de cuidados no período de convalescença. De acordo com a Santa Sé, o Papa continua com o tratamento farmacológico e a fisioterapia, especialmente a reabilitação respiratória, com foco em "recuperar completamente o uso da respiração e da fala".
O Papa concelebrou missas na capela situada no segundo andar do edifício, mas nos últimos dois dias não recebeu visitas, "exceto de seus colaboradores mais próximos", segundo o Vaticano. Ele deve permanecer por pelo menos dois meses com cuidados mais intensos. Ele não presidirá a tradicional audiência geral semanal na quarta-feira e o texto de sua catequese será transmitido por escrito. "Provavelmente" ele também não estará presente na Oração do Angelus no domingo.