Acordo de paz: a votação, que não é obrigatória, tem a presença de 200 observadores de 25 países (Jaime Saldarriaga / Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2016 às 17h12.
A Colômbia vota neste domingo (2) em um plebiscito sobre o histórico acordo de paz para acabar com 52 anos de conflito armado com a guerrilha das Farc.
A votação, na qual 34,9 milhões de colombianos devem se pronunciar sobre o acordo assinado em 26 de setembro entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo de Juan Manuel Santos, começou às 8h (11h, horário de Brasília), sob intensa chuva.
"A paz é o caminho para que nossos filhos, nossos netos, tenham um país melhor", disse o presidente, de guarda-chuvas na mão, ao votar no centro de Bogotá.
"Todos os colombianos devem ser protagonistas dessa mudança histórica", completou.
A votação, que não é obrigatória, tem a presença de 200 observadores de 25 países.
O acordo negociado desde 2012 em Havana será ratificado, se o "Sim" receber mais de 4,4 milhões de votos e se for superior ao número de votos "não". O resultado deve ser divulgado a partir de 17h (19h, horário de Brasília).
O governo já disse que não tem um plano B, mas de acordo com as pesquisas o "Sim" deve vencer o plebiscito que tem como pergunta: "Você apoia o acordo final para o término do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?".
"Votei no 'sim', porque acredito em que temos de olhar não para os que nos fizeram mal, mas para todos os camponeses e para toda nossa população pobre que sofreu muitíssimo", disse à AFP a consultora Consuelo Ballesteros, de 59 anos.
De acordo com as pesquisas mais recentes, o "sim" tem entre 55% e 66% das intenções de voto. Apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), o "não" aparecia com 35%.
"A paz é ilusória. Os textos de Havana são decepcionantes", criticou o senador e ex-presidente.
"Não entreguemos a Colômbia", repetiu Uribe, para quem o acordo concede impunidade aos rebeldes e encaminha o país ao "castrochavismo" de Cuba e Venezuela.
O aposentado José Gómez, de 70 anos, votou convencido no "não": "é um absurdo premiar alguns traficantes de drogas assassinos que fizeram do país um desastre".
De Berlim a Nova Délhi, os colombianos já votaram em 39 países.
Uma aposta alta
O pacto de 297 páginas com as Farc pretende acabar com o principal e mais antigo conflito armado nas Américas, um complexo emaranhado de violência entre guerrilhas, paramilitares e agentes do Estado, com balanço de 260.000 mortos e 6,9 milhões de deslocados.
"A Colômbia aposta tudo nesse plebiscito, o social, o econômico e o político", disse à AFP o diretor do centro de análises Cerac, Jorge Restrepo.
A professora Arlene Tickner, da Universidade do Rosario, calcula um elevado índice de abstenção, mas afirma que, independentemente do resultado, "a vontade de paz entre as partes é muito forte e o apoio da comunidade internacional também".
"Votar 'não' acreditando em que voltaremos para corrigir o que desejamos é uma ilusão. Este é o melhor acordo possível", disse à AFP o negociador-chefe do governo com as Farc, Humberto de la Calle.
Os colombianos se dizem cansados da guerra, mas muitos resistem a fazer concessões às Farc. A guerrilha marcou a história recente do país com massacres, sequestros, extorsões e desaparecimentos forçados.
Se o acordo for aprovado, as Farc entrarão na política pela via legal. Os 5.765 combatentes, de acordo com números de guerrilha, deverão se concentrar em 27 locais para o desarmamento e posterior reinserção na vida civil, um processo de seis meses que será supervisionado pela ONU.
No sábado, a guerrilha das Farc anunciou que vai indenizar materialmente as vítimas do conflito armado no país.
"Conforme o estabelecido no acordo final, procederemos à reparação material das vítimas, no marco das medidas de reparação integral", confirmou o grupo rebelde, em um comunicado.
Além disso, depois que o principal líder rebelde, Rodrigo Londoño ("Timochenko"), pediu perdão na assinatura do pacto em Cartagena, chefes guerrilheiros se desculparam "por toda a dor" que podem ter provocado.
"Sabemos que cometemos erros. Oferecemos perdão a toda Colômbia", reconheceu o grupo rebelde neste domingo em sua conta no Twitter, garantindo que, agora, quer "construir juntos um país em paz".
No sábado, a ONU verificou a destruição "voluntária" pela guerrilha de 620 quilos de explosivos, um tema controverso porque os opositores não acreditam no desarmamento dos insurgentes.
Após a desmobilização dos paramilitares há uma década, a Colômbia ainda precisa estabelecer a paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), que conta com 1.500 membros armados e foi criado em 1964, assim como as Farc.
"Continuamos cumprindo o cessar-fogo unilateral", indicou a guerrilha, que declarou uma trégua até a próxima quarta-feira (5) para favorecer o bom andamento do plebiscito.
O ELN tem pelo menos três reféns, de acordo com o governo, o qual exige sua libertação para instalar um diálogo formal.