Panelaço, greve geral e protestos contra o presidente Iván Duque na Colômbia (Luisa Gonzalez/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de novembro de 2019 às 11h38.
Última atualização em 22 de novembro de 2019 às 11h43.
"Panelaço", greve geral e protesto. Dezenas de milhares de pessoas participaram na última quinta-feira (21) das maiores manifestações contra o governo do presidente Iván Duque, presidente da Colômbia, que enfrenta a mais baixa popularidade desde que assumiu o cargo, há 15 meses.
O variado grupo de entidades organizadoras dos protestos, que inclui sindicatos, estudantes, indígenas, ambientalistas e opositores de Duque, convocou uma "greve nacional" nas principais cidades da Colômbia contra as políticas econômicas, sociais e de segurança do presidente conservador.
"É um acúmulo de situações que esperamos que, assim que estiverem em uma grande mesa nacional de negociações, possam ser revistas depois desta jornada de greve", disse à AFP Julio Roberto Gomez, presidente da Confederação Geral do Trabalho.
Na noite desta quinta-feira, Duque se dirigiu ao país para dizer que escutou o recado da população.
"Hoje falaram os colombianos, e estamos escutando. O diálogo social tem sido a bandeira principal deste governo e devemos aprofundá-lo com todos os setores da nossa sociedade", declarou o presidente em rede nacional.
Embora não tenham coincidido em um cálculo em definitivo, quatro porta-vozes de organizações que promoveram a paralisação afirmaram à AFP que mais de um milhão de pessoas se manifestaram em todo o país. A ministra do Interior, Nancy Patricia Gutiérrez, fez uma avaliação de 207.000, no ponto mais alto do dia.
Gutiérrez assegurou que "em termos gerais, os participantes das marchas o fizeram de forma pacífica", embora tenha reportado enfrentamentos em toda a Colômbia que deixaram 42 civis e 37 policiais feridos, além de 36 detidos.
Na capital, policiais da tropa de choque enfrentaram estudantes, que pretendiam chegar ao aeroporto internacional, e encapuzados na Praça de Bolívar.
A maioria das mobilizações minguou à tarde, especialmente na capital, devido às chuvas. Também houve atos em Madri, Berlim e Sydney.
Com a chegada da noite, "panelaços" que se estenderam por mais de duas horas ocorreram em diversos bairros de Bogotá, Cali e Medellin.
Com ar vitorioso, algumas centrais operárias e manifestantes pediram que as marchas prossigam até obterem uma resposta do governo Duque, que já enfrentou em seu mandato protestos de menor envergadura.
"Esta paralisação está programada por 24 horas, mas se o governo não fizer um pronunciamento sobre as solicitações dos manifestantes, muitos de nós manteremos a greve por tempo indeterminado", disse à AFP Óscar Romero, diretor da Central Única dos Trabalhadores, um dos principais sindicatos.
A universitária Johanna Suárez acompanhava o protesto até a Praça de Bolívar, coração político da Colômbia, um país de 48 milhões de habitantes. Em sua volta, estudantes cantavam, dançavam e alguns tocavam instrumentos musicais.
"A ideia de uma paralisação é que continue através do tempo", afirmou Suárez. Ao seu lado, caminhavam indígenas e camponeses vindos do sul do país.
Em Medellín, um dos lugares com mais participação, o ex-comandante da ex-guerrilha das Farc Rodrigo Londoño (Timochenko) pediu ao presidente que ouça as reivindicações. "Espero que escutem o povo, tenho a esperança de que raciocinem".
Duque, que reconhece a legitimidade de algumas reivindicações, acompanhou o desenvolvimento da greve de um posto de comando unificado em Bogotá com as mais elevadas autoridadesmilitares e policiais, e os ministros da Defesa e do Interior.
"Não se pode invocar direitos para passar por cima dos direitos dos demais", disse mais cedo, em alusão a possíveis atos de vandalismo e contra a mobilidade.
Antes do protesto, o governo fechou as fronteiras e mobilizou militares em algumas cidades, apelando a manter a "ordem pública". Também expulsou 24 venezuelanos acusados de querer se infiltrar nas marchas e a Polícia fez batidas contra os centros culturais e os meios de comunicação alternativos.
Sem maioria no Congresso e uma rejeição de 69% em pesquisas de opinião, Duque assegurou que a greve responde a uma campanha de "mentiras", que busca desatar a violência.
Para o analista Jason Marczak, as manifestações contra Duque, que desde que assumiu o cargo em agosto de 2018 enfrentou vários protestos, são "uma considerável demonstração de descontentamento na região".
"As reivindicações não atendidas e a profunda polarização servem como cenário para essa demonstração maciça", disse o especialista do centro de estudos do Atlantic Council, com sede em Washington.
As centrais dos trabalhadores convocaram o protesto no mês passado e, desde então, uniram-se a vários setores contrários a Duque, incapaz de consolidar uma maioria no Congresso.
O movimento trabalhista rejeita as reformas do governo para tornar o mercado de trabalho mais flexível e mudar o sistema previdenciário, os indígenas exigem proteção após o assassinato de 134 membros da comunidade desde que Duque assumiu o cargo, e os estudantes querem mais recursos para a educação pública.
Todos questionam as políticas econômicas do governo, sua política de segurança concentrada na luta contra o narcotráfico e sua tentativa de modificar o pacto de paz que levou ao desarmamento da antiga guerrilha das Farc em 2016.
Numa Colômbia que espera um crescimento econômico acima da média regional, mas com altas taxas de desigualdade e desemprego, a "greve nacional" gerou uma expectativa especial pela revolta social que, sem um denominador comum, abalou o Equador, o Chile e a Bolívia.