Redator na Exame
Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 07h32.
Última atualização em 27 de janeiro de 2025 às 09h43.
No domingo, 26, os Estados Unidos e a Colômbia chegaram a um acordo após tensões diplomáticas envolvendo a deportação de migrantes colombianos. A Colômbia aceitou de forma "irrestrita" o recebimento de deportados em aviões militares americanos, enquanto o governo dos EUA suspendeu a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos colombianos, desde que o país cumpra integralmente o acordo.
O impasse começou quando o presidente colombiano, Gustavo Petro, bloqueou a entrada de aviões militares americanos transportando migrantes. Em resposta, o presidente Donald Trump ordenou as tarifas emergenciais, ameaçando dobrá-las em uma semana. Petro reagiu com críticas ao tratamento dado aos deportados, especialmente o uso de algemas, e ameaçou aplicar tarifas semelhantes contra os EUA.
Embora o acordo tenha desativado as tarifas, as sanções de vistos a funcionários colombianos e inspeções alfandegárias mais rigorosas permanecem em vigor até a realização do primeiro voo com deportados.
Marco Rubio afirmou que os voos transportando os migrantes colombianos haviam sido autorizados pelo governo da Colômbia, mas que o país cancelou a ordem após as aeronaves já estarem no ar.
Contudo, Petro contestou a aprovação dizendo que não permitiria que colombianos fossem trazidos algemados. “Marco, se funcionários do Ministério das Relações Exteriores permitiram isso, nunca seria sob minha direção”, afirmou o presidente em seu X (antigo Twitter.)
De acordo com a CNN, que teve acesso aos documentos dos voos, as autoridades colombianas haviam aprovado os voos. Fica claro, assim, que a atitude de Petro vem em decorrência do tratamento do governo americano para com os colombianos.
Donald Trump, novo presidente dos EUA, já prometia durante sua campanha eleitoral que realizaria a deportação em massa de imigrantes ilegais no país. Após assumir o cargo, no dia 20 de janeiro, deu início à nova política e as deportações se iniciaram nos dias seguintes usando aviões militares para transporte.
Tom Homan, que agora é intitulado de “czar da fronteira”, está encarregado de executar o plano de deportação e afirmou que os voos transportando migrantes continuem diariamente.
O governo americano pediu ao México que cooperasse com o processo de repatriação, solicitando portos de entrada terrestres ao longo da fronteira. Contudo, ao que tudo indica o país latino também recusou um avião de migrantes na última semana.
No Brasil, um voo com imigrantes ilegais tinha como destino Belo Horizonte, mas pousou em Manaus devido a um erro técnico na sexta, 24. Porém, não foi permitido que o transporte continuasse devido às condições dos brasileiros que usavam algemas e correntes, além da aeronave apresentar más condições.
Por conta disso, o Brasil seguiu o mesmo caminho da Colômbia e realizou diversas críticas contra o governo dos EUA por conta da forma que está conduzindo suas operações, “condenando” o tratamento dado aos brasileiros.
A aplicação de tarifas é uma política defendida por Trump desde sua campanha. O político prometeu taxar diversos países, inclusive aliados comerciais, como México e Canadá. Contudo, a medida contra a Colômbia foi a primeira grande ação de Trump de sua nova política.
Contudo, essa “guerra tarifária” entre os países, se for para frente, não teria um impacto tão relevante para a economia dos EUA. De acordo com o Comtrade, a Colômbia exportou cerca de US$ 14 bilhões, em 2023, equivalente antes em minerais, petróleo, metais e café.
Um dos efeitos da aplicação das tarifas entre os países seria o encarecimento do café, que já subiu de preço em 2024. Isso ocorre pois, com uma taxação maior, as empresas repassam o valor para o consumidor e isso causa uma inflação nos preços.
Por conta disso, a aplicação de tarifas sobre uma vasta gama de produtos pode causar uma inflação generalizada, além de desencadear guerras comerciais, o que eleva ainda mais os preços. Dessa forma, essa política acaba sendo mal vista por diferentes economistas.
Mesmo assim, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, disse à CNBC que se as tarifas ajudarem na segurança nacional e causarem um pouco de inflação, as pessoas deveriam “superar isso.”
O Conselho Colombiano de Relações Internacionais (CORI), formado por ex-ministros das Relações Exteriores, emitiu um comunicado pedindo para que o governo da Colômbia aja com cautela ante os EUA.
“O governo nacional deve exercer sua política externa com responsabilidade, pragmatismo e estratégia [...] Não há espaço para improvisação nas relações internacionais", disse o grupo.
Além disso, o CORI afirmou que um embate comercial com os EUA prejudicaria apenas a Colômbia.
María Claudia Lacouture, presidente da Câmara de Comércio Colombo-Americana, seguiu o mesmo caminho do Conselho e pediu por sensatez, diálogo e bom senso para superar a crise diplomática entre os dois países. Além disso, frisou o impacto negativo que a aplicação da tarifa teria sobre a Colômbia
"Apenas no setor de café, mais de 500.000 famílias dependem desse mercado. Na produção de flores, milhares de mães solteiras perderiam sua fonte de renda. E podemos continuar listando setores que seriam afetados", afirmou.