O Congresso colombiano apresenta 84% desaprovação, diz pesquisa do Instituto Gallup (John Vizcaino/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de março de 2018 às 14h51.
Pela primeira vez em seu longo histórico de conflito, a Colômbia elegerá um novo Congresso, neste domingo (11), sem a ameaça das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e sob a trégua do Exército de Libertação Nacional (ELN), as guerrilhas que sempre sabotaram as eleições do país.
Agora, as Farc são um partido. Para trás fica meio século de luta frustrada pelo poder, graças ao histórico acordo de 2016, que terminou com aquele que foi o grupo rebelde mais poderoso da América.
E, com o ELN, o governo de Juan Manuel Santos, que deixará o poder em 7 de agosto, tenta um acordo similar. Embora os diálogos estejam congelados pelo recrudescimento das ações militares, o ELN anunciou uma trégua para a jornada eleitoral.
Em um país onde a abstenção beira os 60%, essas eleições serão determinantes para a paz e para a sobrevivência da esquerda.
E podem ser a antessala do retorno ao poder de uma direita dura que quer meter medo, diante da crise na Venezuela, além de modificar o que foi acertado com o agora partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc).
A ex-guerrilha estreia nas urnas como uma força de esquerda que ainda precisa confessar seus crimes e indenizar as vítimas.
O pacto, que estabelece um sistema especial de justiça que deverá entrar em operação este ano, garante-lhe dez das 280 cadeiras que serão eleitas para o próximo Congresso. Nenhuma pesquisa prevê uma votação suficiente para aumentar essa representação.
"Apesar de, muito certamente, não conseguirem ter a votação que esperam, o que está em jogo para a Farc é o posicionamento e a possibilidade de ser considerada, de olho em seu verdadeiro interesse político: as eleições para prefeitos e governadores em 2020", disse à AFP Carlos Arias Orjuela, consultor político da Universidade Externado.
Além disso, a Farc cedeu mais espaço ao se retirar da campanha presidencial na quinta-feira, devido à situação de seu líder e candidato, Rodrigo Londoño (Timochenko), internado em uma clínica em Bogotá por problemas coronarianos.
Com as legislativas, intensifica-se a corrida para a sucessão de Santos na eleição de 27 de maio. Os colombianos definirão os candidatos das coalizões de esquerda e de direita em consultas interpartidárias.
O ex-guerrilheiro e ex-prefeito Gustavo Petro tem praticamente assegurada sua vitória na coalizão da esquerda, enquanto Iván Duque parte como favorito no lado oposto, como herdeiro político do senador e ex-presidente Álvaro Uribe.
Ambos dominam as intenções de voto para a eleição presidencial.
Uribe desponta, porém, como o grande ganhador: não apenas manteria sua cadeira, como poderia liderar a bancada majoritária no Congresso e, talvez, levar Duque à vitória em um primeiro turno.
Depois de oito anos de um governo e de um Congresso que firmaram um acordo de paz com a outrora guerrilha comunista, a direita mais contrária ao pacto poderia tomar o controle absoluto do Parlamento.
Tudo aponta que "a direita forte" será maioria, corrobora Ariel Ávila, da Fundación Paz y Reconciliación, que monitora o processo eleitoral.
A direita é a mais cotada para ocupar o espaço que será deixado pelo partido de La U, que apoiou Santos e foi maioria durante esses anos. A força governista caiu em desgraça por casos de corrupção e se absteve de apresentar candidato para a disputa de maio.
Se as pesquisas estiverem corretas, o Congresso ficaria sob controle do Centro Democrático, liderado por Uribe, e do partido Cambio Radical, que apoia Germán Vargas Lleras, ex-vice de Santos que se afastou do governo com críticas ao acordo de paz para se lançar à Presidência.
A esquerda chega fragmentada às legislativas e evitando alianças com a Farc. Seu objetivo consiste basicamente em obter o voto suficiente para salvar sua minoritária representação.
A Colômbia é um país polarizado pelo acordo com a ex-guerrilha, e o Congresso é, hoje, a instituição mais desprestigiada com 84% desaprovação, revela pesquisa do Instituto Gallup de dezembro passado.
A Justiça investiga dezenas de parlamentares por corrupção, e 11 perderam o cargo, ou estão presos pela mesma acusação. Os casos de mais visibilidade estão ligados ao escândalo da construtora Odebrecht, que montou um esquema de suborno em 12 países em troca de contratos.
O Ministério Público estima que, na Colômbia, a empresa tenha pagado até 27,7 milhões de dólares em propina.
Além disso, persistem as suspeitas contra pelo menos 80 dos 2.730 candidatos por casos de desvio de dinheiro público, ou de vínculo com políticos condenados por ligações com paramilitares de extrema direita, segundo um informe da Paz y Reconciliación.