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Colômbia está pronta para dialogar com a guerrilha ELN

Depois de três anos de contatos secretos e vários meses de atraso, delegados do governo e do ELN instalarão a mesa de negociações em Quito

ELN: "A fase pública de conversações (...) nos permitirá alcançar a paz completa", afirmou há alguns dias o presidente Juan Manuel Santos (Guillermo Granja/Reuters)

ELN: "A fase pública de conversações (...) nos permitirá alcançar a paz completa", afirmou há alguns dias o presidente Juan Manuel Santos (Guillermo Granja/Reuters)

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AFP

Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 19h04.

O governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha ativa no país, se preparavam nesta terça-feira para abrir diálogos de paz para por um fim ao conflito mais longo e sangrento das Américas.

Depois de três anos de contatos secretos e vários meses de atraso, delegados do governo de Juan Manuel Santos e do ELN instalarão a mesa de negociações às 17h00 locais (20h00 de Brasília) na Fazenda Cashapamba, uma propriedade dos jesuítas a 30 km de Quito.

"A fase pública de conversações (...) nos permitirá alcançar a paz completa", afirmou há alguns dias o presidente Juan Manuel Santos, Nobel da Paz por assinar um histórico acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), principal e mais antigo grupo insurgente do país.

"Muito bom dia para o mundo e para a Colômbia, um grande amanhecer latino-americano pleno de esperança, convicção, alegria e paz", escreveu nesta terça-feira no Twitter o ELN, que pegou em armas em 1964.

Em uma cerimônia de uma hora e meia, os principais negociadores do governo, Juan Camilo Restrepo, e da guerrilha, Pablo Beltrán, abrirão o processo de paz diante dos representantes dos países mediadores (Equador, Brasil, Chile, Cuba, Noruega e Venezuela), 150 convidados e quase 60 meios de comunicação nacionais e estrangeiros.

As discussões começarão na quarta-feira a portas fechadas, segundo fontes da chancelaria do Equador, onde serão realizadas a primeira e a última rodada de negociações. O restante está previsto nos outros países avalistas.

Mais fundamentalistas que as Farc

O processo de paz com o ELN "se anuncia difícil" e diferente ao realizado durante quatro anos em Cuba com as Farc, informou à AFP o cientista político Frédéric Massé.

"O ELN tem reivindicações um pouco mais fundamentalistas que as Farc (...), quer mudanças muito mais profundas", disse este professor da Universidade Externado de Bogotá.

"Não se apresenta como um representante do povo, mas como um mediador. Para o ELN, é a sociedade que deve negociar", acrescentou.

A "participação da sociedade civil na construção da paz" é precisamente um dos seis pontos da agenda, que também inclui os de "democracia para a paz", "transformações para a paz", "vítimas", "fim do conflito armado" e "implementação".

Desde o sábado em Bogotá e desde a terça-feira no centro de Quito, organizações sociais se reúnem na chamada Mesa Social para a Paz para apoiar o diálogo e dar ideias.

No entanto, segundo uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pelo jornal El Tiempo e a W Radio, 61,2% dos consultados "não acreditam" nas intenções do ELN de alcançar um acordo de paz.

"Um dos pontos mais difíceis será o das transformações para a paz, não porque o ELN esteja pedindo uma coisa maximalista, mas porque um setor do governo continua pensando que a paz é igual ao desarmamento dos guerrilheiros sem fazer nenhum tipo de transformação social", explicou Víctor de Currea, autor de vários livros sobre o ELN.

"Por nossos filhos"

Com os diálogos com o ELN, a Colômbia, que implementa o pacto assinado com as Farc em novembro, busca superar uma conflagração interna que envolveu, além de guerrilhas, paramilitares e forças do Estado, deixando 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

"Quero crer que nesta oportunidade, o ELN tem a decisão de abandonar a violência. Por nossos filhos, tomara que seja assim", tuitou o ministro do Interior colombiano, Juan Fernando Cristo, cujo pai foi assassinado pelo ELN em 1997.

A mesa devia ter sido instalada em outubro, mas foi adiada pela exigência de Santos de que fosse libertado um ex-congressista do ELN, mantido refém desde abril, e da guerrilha de que o governo indultasse dois rebeldes presos e nomeasse outros dois facilitadores de paz.

A entrega do militar Fredy Moreno Mahecha, que o ELN havia capturado em 24 de janeiro no nordeste da Colômbia, reforçou a confiança no processo. "Gera um bom ambiente", declarou à AFP, em Quito, o senador de esquerda Iván Cepeda, facilitador dos diálogos com as Farc.

Sem isso, "a mesa teria começado já com questionamentos sérios", explicou Kyle Johnson, do International Crisis Group.

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