Deslizamento na Colômbia: "Devo informar com grande pesar que o número de falecidos continua aumentando", disse o presidente Juan Manuel Santos (Jaime Saldarriaga/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de abril de 2017 às 21h41.
A Colômbia declarou emergência econômica nesta segunda-feira após um deslizamento de grandes proporções na cidade amazônica de Mocoa, onde subiu para 262 o número de mortos, entre eles 43 crianças, e as expectativas de encontrar sobreviventes diminuem com o passar das horas.
"Devo informar com grande pesar que o número de falecidos continua aumentando", disse o presidente Juan Manuel Santos, antes de voltar pelo terceiro dia seguido à região para liderar os esforços de recuperação.
O deslizamento, ocorrido à meia-noite de sexta-feira pelo transbordamento de três rios após fortes chuvas, que cobriu de lama, pedras e troncos a capital do departamento (estado) de Putumayo, deixa 262 mortos e o mesmo número de feridos e mais de 200 desaparecidos, afetando 45 mil pessoas.
Quem conseguiu se salvar do turbilhão se desespera para saber algo dos seus entes queridos.
"Falta minha filha Diana Vanesa, que deixou um menininho de três anos, Santiago [...] Tinha uma tatuagem no pé esquerdo com o nome do filho. Todos os dias saio em busca dela e nada, não consegui encontrá-la", conta à AFP Ercy López, de 39 anos, encostada em um colchonete em um abrigo com seus dois filhos e seu genro, todos com arranhões.
"E as esperanças de encontrá-la com vida são muito poucas", acrescenta ao falar Da filha de 22 anos, depois de perder a casa e ter que ficar agarrada a uma árvore, assim como o filho de 15 anos, que se segurou em um muro.
Milagre aguardado
Por um momento, alguns em Mocoa acreditaram que poderiam comemorar o milagre de encontrar uma pessoa viva sob a lama: socorristas, jornalistas e curiosos se amontoaram em frente a uma casa em ruínas, onde foram reportados ruídos pelos vizinhos.
"É o primeiro caso nas últimas horas, mas isto está sendo feito por toda a área afetada, dois dias sem parar e o terceiro, hoje. Foram encontrados corpos, mas não descartamos as possibilidades de encontrar alguém com vida", disse à AFP o diretor da Unidade Nacional para a Gestão de Risco de Desastres (UNGRD), Carlos Iván Márquez, que lidera os esforços do governo para normalizar a situação em Mocoa.
Mas as esperanças sumiram e os socorristas foram algumas casas acima para encontrar o cadáver de uma mulher grávida.
Márquez explicou também que nesta segunda-feira termina "a primeira fase da busca" e agora entrarão "com maquinário para ir fazendo a remoção dos escombros".
Pois, em catástrofes como esta, depois das 72 horas se fecha a janela para encontrar vida fora algum caso muito excepcional.
Na quente Mocoa, onde o barro cheira mal e já começa a levantar poeira ao secar, as ruas estão cheias de pessoas com máscaras.
Para evitar um surto de doenças, o governo começou uma campanha de prevenção e vacinação. Além disso, os desabrigados, entre os quais dezenas de menores de idade, recebem kits de ajuda alimentar e de higiene, assim como assistência psicológica e refúgio em cinco albergues.
Para atender com celeridade o desastre, Santos decretou a emergência econômica, social e ecológica e nomeou, ainda, seu ministro de Defesa, Luis Carlos Villegas, como gerente de reconstrução.
O governo aprovou também o desvio de 400 bilhões de pesos colombianos (13,7 milhões de dólares) à UNGRD, que lidera os esforços para normalizar a situação em Mocoa.
Disposto a fazer renascer do barro Mocoa, ainda sem água corrente e com 80% da população sem energia elétrica, Santos prometeu novos aqueduto, hospital e moradias, e o desenho de um plano de energia "para superar a emergência e ficar melhor do que antes".
Entre os que não encontram consolo após perder seus entes queridos, alguns lutam por suas vidas depois de renascer da lama.
"Vomitei muito barro (...) Espirrei barro, tudo era barro, até que consegui voltar a respirar", contou Carlos Acosta, de 25 anos, que depois de ter a casa inundada conseguiu se abraçar a um pedaço de pau e salvar sua vida, mas perdeu o filho Camilo, de três anos.
Muitos velavam seus mortos em casa nesta segunda-feira, após receber os corpos identificados.
O Parque Cemitério Normandia parecia uma fábrica de enterros, com missa maciça, corpos envoltos em plásticos brancos e um montão de caixões empilhados e homens abrindo buracos no chão para depositá-los, comentaram jornalistas à AFP.
Este deslizamento que, segundo um estudo poderia se repetir em 385 outros locais da Colômbia, supera o último grande desastre natural registrado no país, uma enxurrada em Salgar, que matou 92 pessoas em maio de 2015.