Espanha: após assegurar durante dias não querer "entrar em polêmica", o governo independentista catalão se mostrou visivelmente incomodado (Sergio Perez/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de agosto de 2017 às 15h33.
A investigação dos atentados extremistas na Catalunha deu resultados rápidos, mas sua eficiência foi manchada por críticas às autoridades separatistas catalãs, acusadas de excluir os corpos policiais espanhóis por motivos políticos, desconsiderando informações relevantes.
Após assegurar durante dias não querer "entrar em polêmica", o governo independentista catalão se mostrou visivelmente incomodado nesta quinta-feira.
"Para alguns meios de comunicação a única coisa que interessa é desacreditar", disse o ministro do Interior, Joaquim Forn.
Reagia assim a informações que diziam que a polícia autônoma catalã não consultou Madri sobre possíveis antecedentes do suposto cérebro dos atentados e recusou ajuda nas pesquisas sobre a explosão de uma casa onde depois se soube que os extremistas fabricavam explosivos.
Apesar do conflito aberto entre o Executivo espanhol de Mariano Rajoy e os nacionalistas determinados a convocar um referendo de autodeterminação proibido, ambas as partes se esforçaram para passar uma imagem de unidade diante da comoção provocada pelos ataques e pela rapidez da investigação.
No próprio dia dos atentados, reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), a polícia autônoma catalã, Mossos d'Esquadra, abateu cinco suspeitos de integrar a célula.
Quatro dias depois matou o fugitivo Younes Abouyaaqoub, identificado como o motorista da van que atropelou a multidão em Las Ramblas.
Rapidamente deteve e interrogou quatro suspeitos.
Suas declarações permitiram designar o imã marroquino Abdelbaki Es Satty como o cérebro dos atentados e determinar que morreu junto a outro extremista na explosão acidental das bombas que estavam preparando.
Em menos de uma semana a célula havia sido desmantelada e só eram ouvidos elogios a Mossos até que, na terça-feira, sindicatos, representantes da Guarda Civil e da Polícia Nacional começaram a polêmica com uma acusação.
O Executivo independentista catalão excluiu da investigação a Guarda Civil e a Polícia Nacional para "transmitir uma imagem ao exterior de nossas fronteiras de um Estado catalão autossuficiente", asseguram em comunicado conjunto a Associação Unificada dos Guardas Civis (AUGC) e o Sindicato Unificado da Polícia (SUP).
"Houve uma colaboração permanente, constante e fluida entre as diferentes instituições, tanto a nível político como a nível técnico dos diferentes corpos e forças de segurança", assegurou na quarta-feira o delegado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo.
Mas a polêmica ganhou maiores proporções um dia depois com informações da imprensa.
Alguns jornais asseguraram que a juíza designada após a explosão de Alcanar avisou a Mossos que as inúmeros bombas de butano encontradas estavam destinadas a um atentado, e eles desconsideraram a sua opinião.
Nenhuma das fontes policiais e judiciais contactadas pela AFP pôde confirmar essa informação.
Outros acrescentavam que a polícia belga se dirigiu a Mossos para adverti-los sobre Satty em março de 2016, quando tentou encontrar trabalho em uma mesquita perto de Bruxelas.
Falso, afirmou Forn, assegurando que existiu somente uma consulta "informal" de antecedentes de um agente belga a um catalão porque se conheciam pessoalmente. E destacou que a Mossos, cuja comunicação oficial com policiais estrangeiros deve passar por Madri, nunca dispuseram de informações sobre o imã.
"É muito injusto ouvir ou ler coisas" que "deem um sentido político à atuação policial", respondeu o Sindicato da Mossos d'Esquadra, enquanto o jornal El País qualificava em um editorial de "irresponsáveis [...] as acusações trocadas e a utilização política de supostos sucessos ou fracassos" da polícia catalã.