Um jato belga F-16 voa para se juntar à coalizão internacional que luta contra o Estado Islâmico (Eric Vidal/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2014 às 21h32.
Depois de mais de dois meses de bombardeios, a coalizão liderada pelos Estados Unidos evitou temporariamente a queda da cidade síria de Kobane nas mãos de jihadistas, mas não consegue conter o avanço do Estado Islâmico (EI) em outras frentes.
Os números do balanço dos ataques lançados desde 8 de agosto pelos Estados Unidos e seus aliados vêm diminuindo, enquanto o EI continua ganhando terreno no oeste do Iraque.
Ainda assim, as autoridades americanas insistem em que não se deve tirar conclusões, já que as forças iraquianas e curdas não reconstituíram suas capacidades.
"Estamos apenas nos primeiros minutos da partida", disse um funcionário de alta patente do CentCom, o comando militar americano para o Oriente Médio e a Ásia Central, que dirige a operação.
Membros do alto escalão do governo e do Exército americanos reconhecem que a renovação do Exército iraquiano ainda levará meses - pelo menos até que possa recuperar do EI faixas do território tomadas no oeste e no norte do país.
Além disso, as tribos sunitas do Iraque ainda não se uniram, já que seus chefes esperam uma abertura política do novo primeiro-ministro, Haider Abadi.
Em Kobane, na fronteira entre Síria e Turquia, as autoridades americanas destacam que as forças curdas conseguiram, por enquanto, repelir os assaltos dos jihadistas com vários bombardeios.
Até agora, os americanos privaram o EI de uma vitória simbólica. No terreno, porém, a situação está em ponto morto. Os desesperados pedidos de ajuda dos curdos e a fria resposta dos turcos revelaram as profundas divisões na coalizão que luta contra o EI.
Os objetivos americanos "não podem ser alcançados, porque os interesses dos diversos sócios são diametralmente opostos", analisa o professor de Estratégia e general reformado Vincent Desportes.
A fragilidade da coalizão contrasta com a relativa unidade dos aliados da Guerra do Golfo, em 1991, afirma Desportes, explicando que, naquele ano, "teve êxito, porque os americanos tiveram êxito, ao se aliar com os países do Golfo".
O papel da Turquia é uma fonte constante de tensão. Segundo analistas, os Estados Unidos subestimaram a determinação de Ancara de evitar qualquer ação que possa reforçar os curdos no terreno.
Já os europeus participam da operação no Iraque, mas se recusam a enviar seus aviões para a Síria.
Segundo uma autoridade francesa, os objetivos da guerra estão mal definidos para unir os integrantes da coalizão.
"Há uma série de problemas políticos, que têm repercussões na estratégia militar", admite a fonte consultada pela AFP, que pediu para não ser identificada.
O objetivo inicial era deter os avanços dos jihadistas, erguendo uma "barreira de fogo", e, ao mesmo tempo, as forças iraquianas lançariam uma contraofensiva terrestre.
Ofensiva da coalizão é 'chuvinha'
Apesar das mais de 630 incursões aéreas na Síria e no Iraque, o EI continua ganhando terreno - principalmente na província de Anbar, no oeste do Iraque.
Os Estados Unidos "viram que as forças iraquianas eram ainda mais fracas do que pensavam inicialmente", escreveu Anthony Cordesman, do think tank Center for Strategic and International Studies (CSIS), que fica em Washington.
A campanha aérea é menos intensa do que a desenvolvida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na Líbia, em 2011, e muitos a classificam como tímida. Para o general da reserva americano David Deptula, os americanos provocaram uma "chuvinha", quando deveria ter sido uma "tempestade".
No Pentágono, alega-se que os ataques sejam limitados pelo temor de provocar vítimas civis e pelo fato de as forças iraquianas ainda não serem capazes de lançar assaltos em larga escala.
Segundo eles, porém, a operação bem-sucedida da tomada de Mossul por parte das forças curdas, em agosto passado, mostra que as forças locais têm condições de realizar missões complexas.
Em declarações recentes, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, prometeu que outras conquistas virão. "Consideramos que a estratégia funciona, é boa, e que a coalizão continua ganhando impulso e força", afirmou.