O aumento das concentrações de dióxido de carbono "atualmente precede a variação da temperatura global, o que seria de se esperar se o CO2 está causando o aquecimento" (©AFP/Arquivo / Martin Bureau)
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2012 às 17h23.
Paris - O dióxido de carbono (CO2), gás de efeito estufa apontado como o maior responsável pelo aquecimento global, foi o principal fator que pôs fim à última Era do Gelo, afirmam cientistas nesta quarta-feira em um estudo que acaba com um argumento lapidar usado pelos céticos do clima.
Entre 10.000 e 20.000 anos atrás, a Terra começou a emergir de 250 mil anos de uma profunda glaciação, quando a cobertura de gelo terrestre começou a recuar e temperaturas mais quentes ajudaram o Homem a se espalhar e conquistar a Terra.
O que provocou o fim desta era, conhecida como Pleistosceno, sempre foi discutido.
Até agora, as principais evidências eram testemunhos de gelo coletados na Antártica, cujas bolhas de ar são como uma pequena cápsula do tempo do nosso passado climático.
Vestígios de CO2 - o principal gás causador de efeito estufa, que mantém o calor do sol preso próximo à superfície terrestre - indicam que as concentrações de carbono na atmosfera subiram depois que as temperaturas se elevaram e não antes disto.
O período de tempo em que isto ocorreu tem sido usado pelos céticos do clima como uma prova de que as emissões de carbono produzidas pelo homem ou não são responsáveis pelo aquecimento global ou pelo menos não fazem tão mal quanto defende a principal corrente da comunidade científica.
Segundo estes dissidentes, mudanças naturais na órbita da Terra, que aproximaram o nosso planeta do Sol, seriam a causa do aquecimento global.
Mas segundo um novo estudo, uma imagem muito mais precisa do fenômeno demonstra que a mudança orbital apenas deu início às coisas. Segundo a pesquisa, o responsável pelo aquecimento climático de fato é o CO2.
"As mudanças orbitais foram o gatilho, mas elas não vão muito longe", explicou o cientista Jeremy Shakun, da Universidade de Harvard.
"Nosso estudo demonstra que o CO2 foi um fator muito mais decisivo e realmente impeliu o aquecimento global na última deglaciação", acrescentou.
O estudo, publicado na revista científica britânica Nature, foi feito com base em 80 testemunhos de gelo e amostras sedimentares coletadas na Groenlândia, em fundos de lagos e leitos marinhos em cada continente.
"Reunir todos estes registros em uma reconstrução das temperaturas globais mostra uma bela correlação com o aumento da concentração de CO2 e o final da Era Glacial", afirmou Shakun.
O aumento das concentrações de dióxido de carbono "atualmente precede a variação da temperatura global, o que seria de se esperar se o CO2 está causando o aquecimento".
Os cientistas teorizam que a variação orbital intensificou a incidência da luz solar que aqueceu o hemisfério norte, fazendo com que parte de sua cobertura de gelo derretesse, liberando gigatoneladas de água doce gelada no Oceano Atlântico.
A torrente teve um efeito retardatário sobre a chamada "esteira transportadora" de correntes, na qual a água quente viaja para o norte na superfície do Atlântico antes de se resfriar, descer às profundezas, e voltar ao sul.
Quando esta esteira reduziu sua velocidade, a água quente começou a subir no Atlântico sul, onde rapidamente começou a aquecer a Antártica e o Oceano Austral.
Segundo a hipótese destes cientistas, esquentar o sul, por sua vez, alterou o vento e derreteu o gelo marinho, liberando parte da grande quantidade de CO2 que tinha sido absorvida pelo oceano e armazenado em suas profundezas.
Hoje, o dióxido de carbono - emitido pela queima de carvão, petróleo e gás - está novamente na berlinda.
Durante encontro celebrado na semana passada em Londres, 20 ganhadores do prestigioso Blue Planet Prize, um dos mais respeitados prêmios concedidos por iniciativas sustentáveis, afirmaram que as emissões atuais de gases causadores de efeito estufa, como o CO2, são tão elevadas que há apenas uma chance "50 a 50" de limitarmos a elevação da temperatura no planeta a 2ºC, meta estabelecida pela ONU.
Haveria "riscos sérios" de uma elevação de 5ºC, temperatura vista pela última vez no planeta 30 milhões de anos atrás, afirmaram.
"O CO2 teve grande responsabilidade em tirar o mundo da última Era do Gelo e levou cerca de 10.000 anos para fazê-lo", afirmou Shakun.
"Agora, os níveis de CO2 estão aumentando de novo (...) e há sinais claros de que o planeta está começando a responder", acrescentou.