Emmanuel Macron, presidente da França, durante discurso na Fiesp (Miguel Schincariol /AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 28 de março de 2024 às 14h49.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) rebateu as críticas do presidente francês Emmanuel Macron ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, feitas durante discurso na sede da Fiesp, em São Paulo.
Em nota, o presidente da entidade, Ricardo Alban, defendeu que "mesmo tendo 20 anos o início do processo, um recomeço demandaria uma quantidade maior de tempo, o que, certamente, implicará em novos ciclos de ajuste. E assim sucessivamente".
No começo da noite de quarta, 27, Macron fez um discurso na Fiesp no qual fez críticas ao tratado. "Este acordo não pode ser defendido, porque foi negociado há 20 anos. A vida diplomática, dos negócios, não pode se basear em uma regra antiga. O acordo precisa ser refeito", disse.
"Deixemos de lado as lições de 20 anos atrás e vamos criar um novo acordo, um acordo comercial responsável, que tenha o desenvolvimento, a biodiversidade e o clima no centro, com cláusulas que tenham reciprocidade e mais exigências de todas as partes", prosseguiu o líder francês.
Antes da fala, Macron havia se reunido com Alban, Josué Gomes, presidente da Fiesp, e outros empresários, para debater como ampliar negócios entre os dois países e como avançar o acordo do Mercosul.
Na nota desta quinta, Alban defendeu que o acordo passou por atualizações nos últimos anos, conforme era negociado. “Como qualquer outro acordo comercial, este não é um acordo estático. Ou seja, essa negociação faz parte de um processo cíclico, que permite atualizações, sempre que for necessário", afirmou.
No evento na Fiesp, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também fez uma defesa do acordo. "É verdade que perdemos uma oportunidade no ano passado, mas nós não devemos desistir desse acordo. Se foi possível aprovar uma Reforma Tributária depois de 40 anos, por que não, depois de 20 anos, aprovar um bom acordo para a União Europeia e o Mercosul?", afirmou o ministro, em pronunciamento cerca de uma hora antes da fala de Macron.
O Mercosul, bloco comercial que reúne o Brasil e mais países da América do Sul, negocia há 20 anos um acordo com a União Europeia para facilitar a venda de produtos entre os dois lados. O acordo esteve perto de ser fechado em 2023, mas a França é uma das principais resistências. Nos últimos meses, produtores rurais de pelo menos sete países (Alemanha, Bélgica, França, Grécia, Itália, Romênia e Polônia) fizeram protestos contra acordos de livre comércio com países fora do bloco.
Em fevereiro, o Ministério das Relações Exteriores do Paraguai (atual presidente do Mercosul) disse que as negociações estão suspensas até as eleições para o Parlamento Europeu, que ocorrem em junho.