Decidimos ir embora porque a Turquia atacou com toda a força Afrîn e os bombardeios eram desumanos, denunciou Jaafar (Khalil Ashawi/Reuters)
EFE
Publicado em 19 de março de 2018 às 10h33.
Última atualização em 19 de março de 2018 às 10h35.
Beirute - "Estou dormindo no meu carro desde que saí de Afrin", afirmou nesta segunda-feira à Agência Efe Suleiman Jaafar, que da mesma forma que muitos dos seus vizinhos, se viu obrigado a abandonar a própria casa no fim de semana diante do avanço das tropas da Turquia nesta cidade do noroeste da Síria.
Jaafar, responsável pelo setor de Relações Exteriores da administração autônoma curdo-síria em Afrin, fugiu "com o posto" e a família da cidade, que foi conquistada ontem pelo Exército turco e por facções rebeldes sírias pró-Turquia. No seu caso, optou por parar em uma área montanhosa da cidade, que ele prefere não identificar por razões de segurança, e que ainda está em poder da milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG, na sigla em curdo).
Segundo os dados de Jaafar, aproximadamente, 100 mil pessoas escaparam da região desde o início da ofensiva da Turquia, em 20 de janeiro. Esse número foi corroborado hoje pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) na Síria que confirmou que 98 mil pessoas se foram de Afrîn para outras partes de Aleppo, como Tel Rifaat, Nubul e Zahraa.
"Decidimos ir embora porque a Turquia atacou com toda a força a cidade de Afrîn e os bombardeios eram desumanos", denunciou Jaafar na sua conversa que teve por telefônica com Efe.
Agora está na região secreta, onde "não há água nem serviços básicos".
"A administração autônoma (curdo-síria) está tentando entregar pão para todos os deslocados, mas é complicado", lamentou.
Outro morador de Afrîn que fugiu é Emad Jabu. Ele saiu de casa com a mulher e dois filhos, um de sete anos e outro de oito meses.
Esta não é a primeira vez que Jabu vive os dramas do deslocamento interno. Ano passado ele chegou a Afrîn vindo de Aleppo que no antes esteva ocupada pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI), depois pela Frente al Nusra e atualmente por facções opositoras apoiadas pela Turquia. Jabu e a família foram para Fafin, também em Aleppo e controlada pelas YPG.
"Saímos há três dias, após um longo período de assédio e bombardeios que tinham como alvo os civis. Existe uma grande quantidade de deslocados", relembrou Jabu.
Demoraram dois dias para chegar a Fafin, a cerca 100 quilômetros de Afrin, já que, afirmou, as tropas turcas e os rebeldes sírios que as apoiam "disparavam foguetes na estrada".