Contagem de votos na Rússia: para os cientistas, houve fraude (Natalia Kolesnikova/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2012 às 15h52.
Viena - Pesquisadores da Universidade de Viena elaboraram um modelo estatístico para quantificar o alcance da manipulação em processos eleitorais, como o ocorrido no último ano nas eleições parlamentares da Rússia, onde calcularam que houve fraude em 64% dos distritos.
Os cálculos da equipe, liderada pelo físico austríaco Peter Klimek, revelam que em 3 mil distritos eleitorais, dos 60 mil do total, foram registrado o que os cientistas qualificam como 'fraude eleitoral extremo'.
Nestes distritos, a Rússia Unida, partido do primeiro-ministro, Vladimir Putin, obteve 100% dos votos, com participação de 100% dos eleitores. Para explicar melhor o alcance dessa fraude, Klimek recorre ao mundo do futebol: 'É tão provável como se um time tivesse vencido 5% de suas partidas com um marcador de 100 gols a zero'.
Os dados analisados pelos cientistas austríacos também indicam que a fraude eleitoral na Rússia parece crescer em intensidade de eleição em eleição.
No pleito de 2003 e 2007, as manipulações afetaram algo próximo de 30% dos colégios eleitorais, enquanto a percentagem das 'fraudes extremas' foi 'só' de 1% há nove anos e de 4% há cinco.
Com estas manipulações - que segundo Klimek se devem ao chamado 'ballot stuffing', ou seja, encher as urnas com cédulas antes do começo do pleito -, o partido de Putin conseguiu quase 50% dos votos e uma maioria absoluta no Parlamento nas últimas eleições, o que causou uma onda de protestos em todo país.
'Se isto for feito sistematicamente, os distritos afetados aumentam a participação e o apoio de certo partido, enquanto os demais seguem em seu nível normal', explica o físico austríaco, que realiza suas pesquisas no centro estatístico da Universidade de Medicina de Viena.
Segundo os cálculos de sua equipe, em condições regulares, o partido de Putin teria conseguido apenas entre 30% e 35% dos votos nas últimas eleições.
O estudo de Klimek analisa a apuração oficial de eleições realizadas nos últimos dez anos na Espanha, Finlândia, Reino Unido, Áustria, Suíça, Estados Unidos, Rússia e Uganda.
O estudo, escrito por três pesquisadores austríacos e um russo, é chamado de 'Não é a votação o que faz a democracia, é a apuração: detecção estatística de irregularidades sistemáticas em eleições', e será publicado nos próximos meses em uma revista científica internacional.
Aparentemente, este título faz alusão a uma famosa frase atribuída ao ditador soviético Josef Stalin: 'Não importa como se vota, mas quem faz a apuração'.
'Nosso objetivo é oferecer aos observadores internacionais em processos eleitorais uma ferramenta para poder detectar rapidamente manipulações nas eleições', assegura Klimek.
No entanto, o investigador reconhece que o modelo elaborado não serve como 'prova' de acusação para uma suposta fraude eleitoral, já que o estudo só oferece um cálculo estatístico.