Para o consultor climático francês, Jean-Marc Jancovici, no entanto, as propostas só têm efeito local (©AFP/Arquivo / Emmanuel Dunand)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2012 às 16h12.
Paris - Cientistas lançaram nesta sexta-feira a ideia de transformar as cidades em gigantescos refletores da luz solar para ajudar a enfrentar o aquecimento global, mas a sugestão enfrenta o ceticismo de alguns acadêmicos.
A substituição do material usado em telhados e rodovias por outros de cor branca ou tonalidades mais claras produziria um benefício refrescante que, ao longo de 50 anos, seria equivalente a uma redução das emissões de 25 a 150 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), principal gás causador do efeito estufa, responsabilizado pelo aquecimento global, afirmaram cientistas reunidos no Canadá.
Este valor corresponde às emissões de todos os carros do mundo neste período, segundo estudo publicado no Environmental Research Letters, periódico do Insituto de Física da Grã-Bretanha.
Materiais de cores claras ajudam a refletir os raios solares ao invés de absorvê-los e transformá-los em calor, um fenômeno conhecido no meio científico como albedo.
Calçamentos e telhados correspondem a mais de 60% das superfícies urbanas e, ao aprisionar a energia solar, são amplamente responsabilizados por gerar "ilhas de calor", locais onde as cidades se tornam verdadeiros fornos.
As ilhas de calor urbanas também representam um aumento do consumo de energia com refrigeração de ambientes e infringem custos sanitários por causa do "smog", fenômeno provocado pela reação química entre a poluição e a luz do sol.
Para que suas sugestões possam ser apropriadas, os custos dos materiais refletores não devem ser proibitivos e as superfícies pavimentadas precisam ser reformadas de tempos em tempos, argumentaram os cientistas.
Para o consultor climático francês, Jean-Marc Jancovici, no entanto, as propostas só têm efeito local.
"Se você reduz significativamente a temperatura em áreas locais, por exemplo, pintando os telhados de branco, isto não garante que você terá um declínio das temperaturas em áreas remotas", argumentou.
Alfredo Stein, do Centro Global de Pesquisas Urbanas (Global Urban Research Centre em inglês), vinculado à Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, também previu dificuldades práticas, particularmente nas áreas de favelas, que tendem a uma expansão.
A medida "demandará uma adesão muito forte daqueles que vendem telhados", declarou à AFP, considerando especialmente que cerca de 70% das casas em todo o mundo são construídas pelos próprios donos, sobretudo em assentamentos informais.
A preferência das pessoas por materiais para usar no telhado é amplamente determinada pelo custo e a disponibilidade, argumentou Stein.
Em uma pesquisa de 2009 sobre as chamadas opções de geo-engenharia para enfrentar o aquecimento global, a British Royal Society, academia de ciências britânica, avaliou negativamente os telhados brancos.
Segundo a respeitada instituição, os benefícios seriam locais em países quentes. Apenas 0,05% a 1% da superfície do planeta seria coberta, o que representaria uma falta de eficácia em escala global, acrescentou.
E seu custo seria estimado em "cerca de US$ 300 bilhões ao ano, fazendo deste um dos métodos menos eficientes e mais caros" para enfrentar o aquecimento global.