Diretor da CIA, John Brennan: "a imensa maioria dos trabalhadores da agência fez o que foi pedido" (Larry Downing/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2014 às 22h25.
Washington - O diretor da CIA, John Brennan, defendeu nesta quinta-feira a legalidade dos métodos de interrogatório aplicados aos suspeitos de terrorismo após o 11 de setembro de 2001, mas admitiu práticas "abomináveis" e que não é possível saber se informação "valiosa" obtida foi graças a essas técnicas.
Brennan fez um discurso, seguido por uma rara entrevista coletiva para responder ao relatório do Senado divulgado esta semana, na sede da Agência Nacional de Inteligência (CIA) em Langley (Virgínia).
Esse relatório, fruto de uma investigação de mais de cinco anos da Comissão de Inteligência do Senado, chegou a conclusão que a CIA realizou práticas de interrogatório "mais brutais" e menos efetivas do que tinha admitido nos anos posteriores aos atentados terroristas de 11 de setembro.
"Não havia respostas fáceis" ao atentado, sustentou Brennan ao apontar que a CIA "não estava preparada para iniciar um programa para deter suspeitos de terrorismo no mundo todo" encomendado pelo então presidente, George W. Bush.
Houve casos nos quais agentes da CIA usaram práticas "que não tinham sido autorizadas e que foram abomináveis, mas a imensa maioria dos trabalhadores da agência fez o que foi pedido em serviço da nossa nação", argumentou Brennan.
Segundo o relatório do Senado, os métodos de interrogatório de suspeitos de terrorismo nos oito anos posteriores ao 11/9 incluíram asfixias simuladas, banhos em água gelada, privação de sonho durante mais de uma semana, alimentação e hidratação retal, assim como ameaças de abusos e morte.
Brennan assegurou hoje que "houve inteligência muito valiosa obtida de indivíduos que tinham sido, em algum momento, submetidos" a esses métodos, mas ele disse acreditar que é impossível saber se a causa foi o uso das técnicas.
Além disso, disse que a CIA acredita que a informação facilitada por esses detidos ajudou a operação que permitiu localizar e matar o então líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, no Paquistão em 2011, o que o relatório do Senado pôs em dúvida.
A senadora democrata Dianne Feinstein, presidente do comitê que elaborou o relatório, refutou através do Twitter as afirmações de Brennan enquanto este pronunciava seu discurso e respondia as perguntas dos jornalistas.
De acordo com Feinstein, "não há evidências" que esses interrogatórios tenham evitado atentados ou ajudado a capturar terroristas.
Para Brennan, o processo de investigação desenvolvido por esse comitê foi "defeituoso", porque, entre outras coisas, ninguém da CIA envolvido nessas práticas foi entrevistado.
O presidente Barack Obama proibiu o uso dos polêmicos métodos de interrogatório logo após chegar à Casa Branca em 2009, e hoje Brennan assinalou que apoia "totalmente" essa decisão, embora tenha se recusado a dizer se considera que eram "tortura".
Enquanto isso a Casa Branca voltou a defender o trabalho de Brennan, a quem o porta-voz de Obama, Josh Earnest, qualificou de "patriota" e "profissional dedicado".
Depois de trabalhar na CIA durante o governo Bush, Brennan foi o principal assessor em matéria antiterrorista de Obama até que ser nomeado para ficar à frente da agência no início de 2013.
Obama reconheceu na terça-feira que os métodos de interrogatório da CIA "causaram um dano significativo à imagem dos Estados Unidos no mundo", mas foi evasivo quando perguntado hoje sobre o tema durante uma reunião com um conselho de assessores econômicos na Casa Branca.
"Nenhum país é perfeito. Mas uma das fortalezas que fazem esta nação excepcional é nossa vontade de confrontar nosso passado abertamente, enfrentar nossas imperfeições, corrigi-las e fazer melhor no futuro", refletiu Obama.
Apesar das revelações do relatório do Senado, o Departamento de Justiça descartou abrir uma investigação sobre o tratamento dado pela CIA aos detidos por suspeita de terrorismo.
Brennan também defendeu hoje "deixar esse debate de lado e seguir em frente".