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China tornou-se mais potente e inflexível em 2010

Após superar França, Grã-Bretanha e Alemanha graças a um crescimento sustentado de 10% do PIB, a China ultrapassou nesse ano o Japão como segunda economia mundial

Hu Jintao, presidente da China: a portas fechadas, há cada vez mais vozes no Comitê Central pedindo reformas políticas (Pool/Getty Images)

Hu Jintao, presidente da China: a portas fechadas, há cada vez mais vozes no Comitê Central pedindo reformas políticas (Pool/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2010 às 11h52.

Pequim - Convertida neste ano na segunda maior economia mundial, e cada vez mais solicitada para participar do governo do planeta, a China apareceu, no entanto, em muitas ocasiões, isolada e inflexível, como foi demonstrado com o Prêmio Nobel da Paz.

Após superar França, Grã-Bretanha e Alemanha graças a um crescimento sustentado de cerca de 10% do PIB, a China ultrapassou neste ano o Japão como segunda economia mundial.

Sua voz é cada vez mais solicitada nos fóruns mundiais, sobretudo no G20. Mas o nível artificialmente baixo de sua moeda, uma questão de disputa com os Estados Unidos, dominou as conferências internacionais, e suas decisões de política monetária têm abalado os grandes mercados de ações, além dos preços do petróleo e do ouro.

"A China agora tem uma economia muito maior, e as escolhas que faz têm repercussões em todo o mundo", constata Tom Orlik, analista em Pequim da Stone & McCarthy Research Associates.

O plenário do Partido Comunista confirmou em outubro que a sucessão do presidente Hu Jintao está avançando, com o lançamento de seu provável sucessor, Xi Jinping. A portas fechadas, há cada vez mais vozes no Comitê Central pedindo reformas políticas.

Neste contexto, a concessão do prêmio Nobel da Paz ao dissidente preso Liu Xiaobo, condenado por assinar um manifesto a favor de uma democratização do país, foi intolerável para Pequim.

As diferenças com grande parte do resto do mundo se destacaram com este prêmio, desprezado na sexta-feira pela China, embora a imagem da cadeira vazia na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz em Oslo tenha sido um desastre para Pequim.

Sem qualquer complexo, Pequim recorreu por dois meses à censura, aos insultos, às ameaças e pressões para tentar desacreditar o prêmio, dando à comunidade internacional uma imagem de uma China intratável.

"As reações das autoridades chinesas (...) não fizeram mais que reforçar um sentimento de desconfiança crescente em relação a Pequim", estima Valérie Niquet, diretora do Centro Ásia no IFRI (Instituto Francês de Relações Internacionais).

No plano diplomático, a China marcou o ano com uma série de "reveses nas suas relações com a maioria das demais potências", segundo Jonathan Holslag, do Instituto de Pesquisa sobre a China Contemporânea de Bruxelas (BICCS).

"As dificuldades com os Estados Unidos mostram que existem diferenças de interesses e expectativas, que podem não se resolver", acrescenta. "A China não gosta do domínio americano no leste da Ásia", garante.

Enquanto Pequim se abstém, apesar das pressões internacionais, de condenar seu aliado norte-coreano pelo bombardeio de uma ilha sul-coreana, "foi constatado um fortalecimento das relações estratégicas entre Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos", diz Valerie Niquet.

"Ao contrário do ano passado, quando a China foi muito elogiada por seu papel na crise financeira, este ano tem sido fortemente criticada pela crise coreana", aponta Hu Xingdou, da Universidade Tecnológica de Pequim.

Para 2011, muitos analistas preveem, na linha de Holslag, que "as relações com o Ocidente continuem ácidas".

"Há um número crescente de líderes (chineses) que acreditam que a China deve ser firme em suas posições", diz Holslag, acrescentando que a cúpula dirigente "é perfeitamente consciente de que Pequim precisa do resto do planeta".

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