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China impõe tarifas aos EUA no valor de US$ 14 bi e abre nova guerra comercial, diz FT

As táticas de choque de Donald Trump podem ter afastado Pequim da mesa de negociações, disseram especialistas ao FT

Trump: embaixada da China em Washington disse que as tarifas entraram em vigor às 12h01 de segunda-feira, pelo horário de Pequim — ou 11h01 deste domingo, pelo horário de Washington, D.C (Andrew Harnik/AFP)

Trump: embaixada da China em Washington disse que as tarifas entraram em vigor às 12h01 de segunda-feira, pelo horário de Pequim — ou 11h01 deste domingo, pelo horário de Washington, D.C (Andrew Harnik/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 9 de fevereiro de 2025 às 19h21.

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A China impôs tarifas de retaliação sobre produtos dos Estados Unidos, de acordo com informações do Financial Times. A medida atinge cerca de US$ 14 bilhões em mercadorias e serviços americanos e põe fim às esperanças de que uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo pudesse ser evitada.

Segundo o FT, a embaixada da China em Washington disse que as tarifas entraram em vigor às 12h01 de segunda-feira, pelo horário de Pequim — ou 11h01 deste domingo, pelo horário de Washington, D.C.

Semana passada, o presidente Donald Trump anunciou uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses para pressionar Pequim a tomar mais medidas contra exportações relacionadas ao fentanil para os EUA e o México, ameaçando impor tarifas ainda maiores caso a China retaliasse.

Quando as tarifas dos EUA entraram em vigor três dias depois, Pequim respondeu imediatamente, anunciando tarifas adicionais de 10% a 15% sobre exportações de energia e equipamentos agrícolas dos EUA.

"Isso pode ser apenas o começo desta fase da guerra comercial", disse ao FT Zhang Yanshen, especialista do Centro Chinês de Intercâmbios Econômicos Internacionais. “Isso pode se tornar uma situação muito, muito ruim”.

Segundo o FT, alguns analistas esperavam que os EUA e a China realizassem negociações para evitar hostilidades comerciais graves. Inicialmente, Trump disse que esperava conversar com o presidente Xi Jinping, mas, após a retaliação chinesa, afirmou que não tinha pressa e que as tarifas eram um “tiro de abertura”, com medidas “muito substanciais” ainda por vir.

Quando questionado se a equipe de Trump estava lidando com a China da mesma forma que fez com o Canadá e o México — que enfrentaram tarifas mais altas antes de receberem uma trégua de um mês —, um funcionário da Casa Branca disse que os EUA estavam “em contato constante com nossos colegas, tanto em Pequim quanto aqui em Washington”.

Um porta-voz da embaixada chinesa em Washington afirmou ao FT que não houve “nenhum novo desenvolvimento” desde que a China anunciou suas tarifas retaliatórias.

Especialistas em Pequim disseram que a tática de choque de Trump, destinada a pressionar Xi a fechar um acordo rapidamente, pode ter saído pela culatra. O presidente dos EUA deu apenas dois dias entre o anúncio e a implementação das tarifas — um prazo que provavelmente foi inaceitável para Xi.

“A China não quer um acordo como esse”, disse ao jornal o pesquisador do Institute of American Studies, (IAS) afiliado ao governo chinês, Ma Wei,. “É preciso ter conversas e acordos iguais, e não um acordo em que primeiro você me impõe uma tarifa alta e depois diz que temos que fazer um acordo.”

Ma disse que as táticas dos Estados Unidos têm ecos de um ditado chinês “cheng xia zhi meng” - lidar com seu inimigo sob coação quando ele está nos portões de seu castelo.

No entanto, analistas observaram que o alcance limitado da retaliação da China — que incluiu investigações antitruste contra o Google e a Nvidia, mas afetou uma gama mais restrita de bens em comparação com as tarifas dos EUA — sugeria espaço para negociações.

Autoridades da administração Trump enfatizaram que o presidente dos EUA queria que a China contivesse o fluxo de fentanil, um opioide mortal que se tornou a principal causa de morte de americanos com idades entre 18 e 45 anos.

Mas especialistas em Pequim disseram que as negociações podem ter sido interrompidas porque Trump estava exigindo cooperação em outras frentes, como pressionar a Rússia sobre sua invasão da Ucrânia ou ceder a propriedade da plataforma de vídeos curtos TikTok a um comprador americano.

"O fentanil é uma questão que pode ser facilmente resolvida — a China já tem cooperado com os Estados Unidos sobre isso", disse John Gong, professor da Universidade de Negócios e Economia Internacional ao jornal. "Então, provavelmente, Trump quer algo mais que eles não podem discutir publicamente."

Trump disse na sexta-feira que revelaria “tarifas recíprocas” sobre os países na próxima semana, mas não forneceu informações sobre quais nações seriam visadas.

A Casa Branca também suspendeu temporariamente as chamadas isenções de minimis sobre as tarifas para remessas de baixo custo da China, o que proporcionou uma vantagem para empresas como a Shein e a Temu.

Wendy Cutler, especialista em comércio e vice-presidente do Asia Society Policy Institute, disse ao FT que, ao contrário do Canadá e do México, a China jogaria um jogo mais longo. Segundo ele, Pequim provavelmente adotará uma abordagem do tipo “esperar para ver” antes de considerar o engajamento, "inclusive para ter mais certeza se será ainda mais impactada por tarifas adicionais recíprocas, setoriais ou universais”.

Especialistas chineses afirmaram que seria difícil para Pequim chegar a uma “grande barganha” em um prazo curto, especialmente em assuntos espinhosos, como a guerra na Ucrânia, na qual os EUA acusaram a China de ajudar a Rússia.

Em recente fórum da Universidade da Califórnia em San Diego e do Conselho de Relações Exteriores sobre a China, especialistas disseram que Pequim estava mais preocupada com os controles de exportação de tecnologia dos EUA do que com as tarifas.

"Mas alguns economistas acreditam que a totalidade da força das tarifas ameaçadas por Trump — como a tarifa de 60% sugerida durante a campanha presidencial — teria um grande impacto na economia da China.

No entanto, alguns economistas disseram ao FT acreditar que a força total das tarifas ameaçadas por Trump - como a taxa de 60% sugerida durante a campanha presidencial - teria um grande impacto na economia da China.

Hui Shan, economista-chefe na China do Goldman Sachs, estimou que cada aumento de 20 pontos percentuais nas tarifas dos EUA reduziria o crescimento do PIB da China em 0,7 ponto percentual."

Pequim poderia compensar parte desse golpe com a depreciação da moeda, pacotes de estímulo ao consumidor e outras medidas, mas ainda assim provavelmente absorveria um impacto de cerca de 0,2 ponto percentual no crescimento do PIB, disse ela.

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