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China e UE decididem liderar luta do clima após decisão de Trump

Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, declarou que a luta "continuará com ou sem os Estados Unidos"

China: os EUA e a China representam juntos cerca de 40% das emissões de gases (Fotonen/Thinkstock)

China: os EUA e a China representam juntos cerca de 40% das emissões de gases (Fotonen/Thinkstock)

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AFP

Publicado em 2 de junho de 2017 às 16h23.

A China e a União Europeia (UE) reafirmaram nesta sexta-feira a intenção de lutar contra as mudanças climáticas, em um contexto de decepção global pela decisão de Washington de se retirar do Acordo de Paris, embora não tenham conseguido expressar essa vontade em uma declaração conjunta.

"Hoje intensificamos a nossa cooperação sobre a mudança climática com a China", uma luta que "continuará com ou sem os Estados Unidos", disse o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, ao fim de uma cúpula em Bruxelas com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.

A cúpula deveria terminar com a assinatura de uma declaração conjunta para expressar a "firme determinação [...] na luta contra a mudança climática", segundo um rascunho consultado pela AFP, mas as diferenças sobre o comércio impediram a sua adoção.

Várias fontes europeias asseguraram que ambas as partes concordam com a visão sobre o clima. De fato, Pequim urgiu horas antes para que "cuidassem deste resultado tão dificilmente alcançado" em Paris em 12 de dezembro de 2015.

Nesse dia, o mundo comemorou a conclusão de um histórico acordo climático de alcance internacional que busca limitar o aumento da temperatura do planeta "para menos de 2ºC" em relação à era pré-industrial.

Essa alegria se tornou motivo de consternação na quinta-feira, depois do anúncio de Trump de que os "Estados Unidos acabarão com toda a implementação do acordo", em um momento em que ficam a definir inúmeras regras.

Putin "não julga" Trump

Da Europa à China, passando pela América Latina, as capitais mostraram a sua indignação com esta decisão que, nas palavras do ex-presidente americano Barack Obama, representa um "repúdio ao futuro".

Este passo atrás poderia adicionar até 0,3ºC ao aquecimento global no século XXI "no pior cenário", declarou o chefe do Departamento de Meio Ambiente e de Pesquisa Atmosférica da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Deon Terblanche.

Da Rússia, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, chamou os países a "seguir comprometidos" já que a mudança climática é "inegável" e "uma das maiores ameaças" para o "futuro" do planeta.

A Índia, um dos maiores emissores de CO2, atrás de China, Estados Unidos e UE, se mostrou favorável a respeitar o Acordo de Paris, mas a Rússia se negou a condenar a decisão de Trump.

"Não deveriam fazer um escândalo sobre isto, e sim deveriam criar as condições para um trabalho conjunto", declarou o presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou que "não julgaria" seu contraparte americano.

"Antecedentes espetaculares"

Diante desta onda de indignação, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, assegurou nesta sexta-feira que o seu país, com "antecedentes espetaculares em redução de emissões", manterá os seus esforços e pediu à comunidade internacional que "mantenha a perspectiva".

A UE, entretanto, se encarregou de lembrar outros antecedentes de Washington em matéria climática, concretamente sua não ratificação do Protocolo de Kyoto.

"Os Estados Unidos já não fizeram uma vez em Kyoto, deveriam aprender com a História", disse o comissário europeu de Ação para o Clima, Miguel Arias Cañete, um dos líderes durante as negociações de Paris e para quem a UE e a China "estão do lado correto da História".

Com a sua decisão, o presidente americano enfrenta também um forte pressão interna, liderada por empresários, governadores e prefeitos americanos, que anunciaram que lutarão contra a mudança climática.

Responsáveis de empresas como Tesla, Disney, General Electric e as petroleiras ExxonMobil e Chevron reiteraram também os seus compromissos com o acordo climático.

E a maioria dos americanos em cada estado - 69% dos eleitores do país - acreditam que os Estados Unidos devem participar do acordo, segundo uma pesquisa recente do programa de mudança climática da Universidade de Yale.

Saída efetiva em 2020

Desde a sua chegada ao poder, Trump criou uma incerteza sobre este acordo climático e, portanto, sobre o seu compromisso de reduzir entre 26% e 28% as suas emissões de gases de efeito estufa antes de 2025, em relação aos níveis de 2005.

A China e os Estados Unidos representam juntos cerca de 40% das emissões de gases de efeito estufa e o seu compromisso havia sido crucial para chegar ao Acordo de Paris.

Junto com a China, a UE buscará agora "novas alianças das maiores economias do mundo com os Estados insulares mais vulneráveis", declarou Cañete, que também descartou qualquer renegociação deste acordo, como sugeriu Trump.

Embora a saída efetiva dos Estados Unidos possa acontecer em 2020, depois de invocar o artigo 28 do acordo, Trump afirmou que todos os compromissos não vinculantes cessam no "dia de hoje".

Mas a incerteza real fica por conta do financiamento americano à Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que alcança 23% do orçamento total, e sua ajuda aos países menos desenvolvidos, por exemplo, como parte do Fundo Verde.

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