Medida arrisca aumentar os custos e impulsionar a produção em outros lugares (Divulgação/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 4 de julho de 2023 às 16h24.
Última atualização em 4 de julho de 2023 às 16h44.
A decisão da China de controlar as exportações de dois metais-chave mostrou que o país tem algum poder para retaliar contra medidas dos Estados Unidos, Japão e Europa, destinadas a cortar o acesso do governo de Pequim a tecnologias avançadas. Mas a ação também corre o risco de sair pela culatra.
O novo sistema de licenciamento de exportação divulgado na segunda-feira destacou a posição dominante da China na produção global de gálio e germânio, que são usados para fabricar chips, carros elétricos e equipamentos de telecomunicações. O anúncio — poucos dias antes da visita a Pequim da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen — parece oportuno para dar vantagem à China e pressionar a Casa Branca a remover os controles de exportação que ameaçam prejudicar o desenvolvimento do país
No entanto, a medida é uma faca de dois gumes e pode simplesmente acelerar os esforços desses países para reduzir a dependência em relação à segunda maior economia do mundo. Se o governo chinês, em algum momento, usar essas novas regras para restringir os embarques e cortar a oferta para outras nações, os preços provavelmente subiriam e seria mais econômico aumentar a produção no Japão, Canadá, EUA ou em outros lugares.
“Faz parte do olho por olho que a RPC está jogando com os EUA e aliados”, disse Ja Ian Chong, professor associado de ciência política da Universidade Nacional de Singapura, em referência ao nome oficial do país, a República Popular da China. “Pode haver algum choque inicial nos mercados e nas empresas, mas, com o tempo, caso essas restrições persistam, os mercados e as companhias se ajustam.”
A medida destaca o dilema enfrentado pelo presidente Xi Jinping ao tentar frear os esforços dos EUA para impedir que a China acesse os chips necessários para dominar tecnologias como inteligência artificial e computação quântica. Qualquer ação recíproca apenas dá aos EUA e à Europa mais munição para pressionar pelo chamado “derisking”, ou desacoplamento, algo que o governo de Xi tem buscado combater.
“A China sempre adota uma abordagem do olho por olho”, disse Roy Lee, vice-ministro de Relações Exteriores de Taiwan, sobre as novas medidas, classificadas por ele como retaliação aos controles de exportação dos EUA e de outras nações democráticas. Isso “se tornará um acelerador para países como Taiwan, Coreia do Sul e Japão reduzirem nossa dependência do fornecimento da China desses minerais e materiais críticos”.
Os esforços anteriores da China para limitar a venda de terras raras apenas diminuíram sua participação de mercado, à medida que outros países trabalham para garantir a oferta de metais que não são controlados pela nação asiática.
A China introduziu um sistema de licenciamento de exportação para terras raras na década de 1990, ao mesmo tempo que aumentou gradualmente os impostos, colocando pressão sobre empresas no Japão e em outros países que dependiam de suprimentos chineses. Mas a grande mudança aconteceu em 2010, quando o governo de Pequim interrompeu temporariamente as exportações para o Japão em reação a uma colisão entre um barco de pesca chinês e a guarda costeira japonesa perto de ilhas reivindicadas por ambos os países.
Esse incidente desencadeou uma corrida para encontrar suprimentos alternativos aos da China. A produção na Austrália e nos EUA aumentou posteriormente, reduzindo a participação chinesa na produção de mineração para 70% da oferta global em 2022, frente a um pico de 98% em 2010, de acordo com a US Geological Survey.
Atualmente, a China responde por cerca de 94% da produção mundial de gálio, de acordo com o Centro de Inteligência de Minerais Críticos do Reino Unido. Ainda assim, os metais não são particularmente raros ou difíceis de encontrar, embora a China mantenha os preços baratos e o custo para extraí-los seja relativamente alto.
“A imposição de restrições à exportação corre o risco de reduzir o domínio do mercado”, escreveram pesquisadores do Eurasia Group, como Anna Ashton, em nota. “Se implementadas como estão, as novas restrições de exportação de minerais da China podem oferecer um novo ímpeto para produtores estrangeiros transferirem a produção para fora da China, acelerando a tendência de diversificação da cadeia de suprimentos”.
A China disse que o novo sistema de licenciamento para exportações de gálio e germânio, juntamente com seus compostos químicos, visa proteger a segurança nacional – a mesma justificativa dada pelos EUA e seus aliados para seus controles de exportação.
O anúncio, no entanto, despertou preocupação na Europa sobre possíveis gargalos nas cadeias de suprimentos no curto prazo e, provavelmente, vai estimular discussões sobre como reduzir a dependência do bloco em relação à China.