Pompeo e Araújo: comissão do Senado vai ouvir chanceler brasileiro sobre visita do americano (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Lucas Amorim
Publicado em 22 de setembro de 2020 às 08h08.
Última atualização em 22 de setembro de 2020 às 09h21.
O Brasil virou palco de um escalada na Guerra Fria entre China e Estados Unidos às vésperas das eleições presidenciais americanas. A embaixada chinesa no Brasil acusou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, de liderar uma "conspiração vil" para romper as relações chinesas com a América Latina. A informação é do diário South China Morning Post, sediado em Hong Kong.
Pompeo, como se sabe, esteve numa viagem à fronteira norte do Brasil que passa também por outros três países da região: Colômbia, Suriname e Guiana. Segundo o diário chinês, o objetivo da visita é oferecer aos países alternativas à China para seu desenvolvimento econômico, além de aumentar a pressão sobre a Venezuela, um dos principais parceiros de Pequim na região.
A visita de Pompeo tem gerado polêmicas desde sua chegada, no domingo. Após conversas com o ministro brasileiro das relações exteriores, Ernesto Araújo, o americano afirmou que discutiu "a importância de manter o futuro do Brasil livre do partido comunista chinês". Além disso Pompeo ainda afirmou que pretende trabalhar para aumentar a segurança digital na região. A declaração pode ser vista como mais um capítulo da disputa da Casa Branca contra empresas de tecnologia da China.
Trump, às vésperas da eleição que tem seu adversário Joe Biden como favorito, ampliou a pressão sobre os aplicativos chineses TikTok e WeChat. A operação americana do TikTok, app popular entre adolescentes, deve finalmente ser vendida à empresa de tecnologia Oracle após Trump ameaçar banir o serviço do país. Outro alvo preferido de Trump é o conglomerado Huawei, principal fabricante de tecnologias para redes 5G no mundo.
Os comentários da China sobre a visita chinesa foram feitos pelo Twitter, uma rede que tem sido cada vez mais usada por diplomatas chineses numa mudança de postura mundo afora. A embaixada chinesa "condena fortemente palavras e ações que instiguem e rompam a relação da China com o Brasil e com outros países latinos. Sua conspiração vil não vai ser bem sucedida".
Ainda segundo o SCMP, o ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, teve uma conversa telefônica com Araújo no sábado e reforçou os interesses em investir em energia, infraestrutura e tecnologia.
Durante a visita ao Brasil, Pompeo criticou duramente Nicolás Maduro, num tom que gerou críticas em Brasília. Senadores chegaram a estudar adiar sabatinas de novos embaixadores, previstas para esta semana, e em seu lugar ouvir o próprio Araújo. Araújo deve ser ouvido na quinta no Senado, embora as sabatinas continuem.