Dalai Lama anunciou nesta quinta-feira a intenção de ceder o poder político formal que ostenta como chefe das autoridades tibetanas (Mario Tama/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 06h28.
Pequim - O Governo chinês demonstrou ceticismo nesta quinta-feira diante do anúncio do Dalai Lama de ceder seu poder político a representantes "livremente eleitos", assegurando que as palavras do líder tibetano são "um truque para enganar a comunidade internacional".
Em entrevista coletiva, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Jiang Yu, qualificou o Nobel da Paz de "exilado político sob o disfarce de um religioso", além de acusá-lo de estar "envolvido em atividades destinadas à divisão da China".
Jiang também ressaltou que o anúncio de sua aposentadoria política não é uma novidade, já que o líder político e religioso mencionou abertamente essa possibilidade nos últimos anos, e também lançou críticas contra o Governo tibetano no exílio, ao qual qualificou de "organização política ilegal não reconhecida por nenhum país".
A porta-voz da chancelaria destacou que a China não mudará sua política no Tibete e que esta continuará a ser centrada no desenvolvimento e na estabilidade dessa região, que as tropas comunistas ocuparam em 1951 (embora o regime se refira ao caso como uma "libertação").
O Dalai Lama anunciou nesta quinta-feira, desde a cidade indiana de Dharamsala, onde vive exilado desde 1959, a intenção de ceder o poder político formal que ostenta como chefe das autoridades tibetanas no exílio a um representante "livremente eleito" pelo seu povo.
Em comunicado por ocasião do 52º aniversário da fracassada insurreição tibetana contra a China, o Dalai Lama, de 75 anos, explicou que na próxima sessão do Parlamento, que terá início na próxima segunda-feira, proporá "formalmente" uma emenda à Constituição para tornar possível seu desejo de "transferir a autoridade" a um líder eleito.
O Dalai Lama teve alguns problemas de saúde nos últimos anos, o que o obrigou a relaxar sua agenda oficial, embora as viagens ao exterior, as reuniões com líderes e os seminários de filosofia e prática budista continuem frequentes.
O presidente da região autônoma do Tibete, Padma Choling (do Partido Comunista da China), se mostrou no início da semana contra as propostas de mudança na figura do Dalai Lama, assegurando que "devem ser respeitadas as instituições históricas e os rituais religiosos do budismo tibetano".
A morte do Dalai Lama no futuro pode desencadear mais tensões entre o regime comunista chinês e o Governo tibetano no exílio.
O presidente da Assembleia Popular do Tibete (Legislativo regional, também ligado ao regime comunista), Qiangba Puncog, assinalou durante esta semana que a futura morte do Nobel da Paz "poderá ter pequenas repercussões devido a fatores religiosos" e levantou a possibilidade de haver "incidentes" na região.