Chile: Piñera prometeu na quinta-feira, em seu último comício, ser o governante da "unidade" (Pablo Sanhueza/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de dezembro de 2017 às 15h18.
O ex-presidente de direita Sebastián Piñera e o candidato de centro-esquerda Alejandro Guillier disputam neste domingo a presidência do Chile, em um segundo turno de difícil previsão para definir o sucessor de Michelle Bachelet.
A dispersão do voto no primeiro turno de 19 de novembro, quando o partido de esquerda radical Frente Ampla surpreendeu e virou a terceira força política do país, dificulta a vitória de Piñera e transforma numa incógnita o resultado de Guillier.
O ex-presidente, que governou o Chile de 2010 a 2014, conseguiu 36,6% dos votos (muito abaixo do esperado), contra 22% do senador Guillier e 20% da candidata da esquerda radical, Beatriz Sánchez.
"Provavelmente, a eleição será definida por menos de 200.000 votos de diferença", prevê o analistas político da Universidade de Santiago, Marcelo Mella.
O resultado dependerá, sobretudo, do que decidirem os eleitores da Frente Ampla, que deu liberdade de decisão a seus seguidores, apesar de Sánchez ter anunciado que votará em Guillier.
O fantasma da derrota começou a rondar a coalizão de direita de Piñera ante a possibilidade de uma união de todas as forças centro-esquerda - que disputou o primeiro turno fragmentada em seis candidaturas - e que juntas somariam 55% dos votos para Guillier.
Piñera prometeu na quinta-feira, em seu último comício, ser o governante da "unidade".
"Vou ser o presidente da unidade, da mudança, do progresso, do futuro e da esperança", disse Piñera.
Afirmou ainda que os chilenos querem "mudanças profundas, mas bem feitas, baseadas no diálogo e não no confronto".
O ex-presidente, que encerrou a campanha em um teatro no centro de Santiago, diante de cerca de 3 mil pessoas, recebeu o apoio de vários ex-mandatários, como o espanhol José María Aznar, os colombianos Andrés Pastrana e Álvaro Uribe, e o mexicano Felipe Calderón.
Piñera pediu o voto dos menos favorecidos e da classe média para colocar em marcha seu lema de campanha: "Tempos melhores", com mais empregos, salários e melhores aposentadorias, além do combate ao crime e a promoção da saúde para todos.
"Se sente, se sente, Piñera presidente", gritava o público, majoritariamente feminino, procedente de muitos bairros periféricos de Santiago.
Se vencer, Piñera será o único político de direita a governar o Chile em duas ocasiões, ao final de um longo caminho que sempre trilhou junto ao manejo de seus negócios, que o levaram a ter hoje uma fortuna avaliada em 2,7 bilhões de dólares, segundo a revista Forbes.
Já Alejandro Guillier encerrou sua campanha com um comício em Santiago, ao lado do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica.
Com o Palácio de la Moneda como pano de fundo, Guillier discursou para cerca de 5 mil pessoas.
"A história me colocou em um lugar que não procurei, mas aceito este desafio. Quero ser presidente do Chile", afirmou Guillier para seus partidários.
Guillier recebeu o apoio de Mujica, o ex-guerrilheiro que governou o Uruguai entre 2010 e 2015, queparticipou de distintas atividades com o candidato governista.
"O ex-presidente Piñera sempre falou muito bem do Uruguai e reconheço isto, mas estou com o mundoprogressista", declarou Mujica, 82 anos, em referência ao candidato da oposição.
"A presença de Pepe Mujica é uma lição de humildade, de onde queremos ir. Sua presença nos vitaliza e nos ajuda a unir os progressistas".
"Michelle Bachelet começou o caminho e precisamos consolidar este caminho, avançar em novos temas, em novos desafios".
Guillier acusou Piñera de ser o "retrocesso" para o Chile ao beneficiar as elites chilenas.
"Este domingo podemos dizer ao senhor Sebastián Piñera que ele representa o passado, tudo o que queremos deixar para trás".
Guillier foi durante três décadas repórter, editor chefe e apresentador dos principais telejornais do país, que o tornaram um dos jornalistas de maior credibilidade do Chile.
Neste domingo, 13,4 milhões de chilenos estão convocados a votar para definir o sucessor da socialista Michelle Bachelet a partir de 11 de março de 2018.