Polícia prende estudante durante protesto contra o governo Piñera em Santiago no dia 2 de fevereiro (©AFP / Claudio Santana)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2012 às 17h25.
Santiago - O direitista Sebastián Piñera completa dois anos no poder preso a um paradoxo: a economia do Chile cresce e conseguiu colocar em andamento uma série de ambiciosas reformas sociais, mas sua popularidade não aumenta, com um governo preso a um crescente conflito social.
Piñera, um empresário milionário de 62 anos, completará neste domingo a primeira metade de seu mandato de quatro anos, um período de convulsão social no qual teve de lidar com os maiores protestos estudantis em duas décadas, com a reconstrução do país após um terremoto devastador e com um midiático resgate de 33 mineiros presos por 69 dias a 600 metros de profundidade.
Nestes dois anos, seu governo obteve várias conquistas: a economia cresceu em 2011 em torno de 6,5% e o desemprego alcançou em janeiro passado 6,6%, enquanto que conseguiu colocar em andamento importantes reformas sociais, autorizando licença maternidade de seis meses, inédita na América Latina, e o fim de um corte nas pensões dos aposentados.
Além disso, o sistema eleitoral foi reformado para instaurar o voto voluntário e a inscrição automática dos eleitores.
No entanto, Piñera encerra este ciclo com uma popularidade de 33%, muito abaixo dos 63% alcançados em outubro de 2010 após um resgate de mineiros bem sucedido, demonstrando a promessa de eficiência com a qual chegou ao poder, colocando fim a hegemonia de centro-esquerda que governou o país após o fim da ditadura de Augusto Pinochet em 1990.
Com uma personalidade que o leva a cometer frequentes gafes - difundidas nas redes sociais - e sem carisma, o presidente não conseguiu retomar seu apoio.
"Os problemas de popularidade de Piñera têm mais a ver com sua personalidade do que com as políticas de governo. Se fossem problemas políticos, poderia anunciar mudanças e assim melhorar sua aprovação. Mas fica difícil mudar a personalidade do presidente", disse à AFP o analista Patricio Navia, da Universidade Diego Portales.
"Cerca de 33% é ruim para um presidente que conseguiu fazer o que ele fez. Não é esperado em um caso em que se fez várias coisas bem. É o paradoxo que persegue Piñera", afirma por sua vez o cientista político Guillermo Holzmann, da Universidade do Chile.
"Para Piñera, foi mais complexo do que imaginava ser presidente da República; ele funciona muito com sua visão de fazer as coisas, mas uma coisa é administrar uma empresa e outra é governar o país", explica Holzmann.
A oposição reprova Piñera pela falta de "rua" de seus principais assessores, formados em prestigiados colégios e universidades privadas, mas que parecem carecer de um real conhecimento da sociedade chilena.
Para Holzmann, trata-se de uma falta de "sintonia com os cidadãos".
"Não há dúvida sobre suas capacidades intelectuais e de que ele quer fazer direito, mas custa a ele gerar sintonia com os cidadãos. Piñera aposta que depois destes anos vão reconhecer o que fez", disse Holzmann à AFP.
O pouco apoio ao presidente faz prever um segundo período ainda mais difícil.
"Uma adesão de 33% é muito baixa para um presidente que precisa lutar contra a síndrome da perda do poder. Como em 2012 há eleições municipais, o governo deverá competir com outros assuntos importantes na agenda e dificilmente conseguirá impor sua própria agenda", explica Patricio Navia.
Na segunda parte de seu governo, Piñera deverá fazer frente a um conflito social crescente, iniciado no ano passado com os amplos protestos estudantis que exigem educação pública gratuita e de qualidade, e que até hoje não terminaram.
Esta exigência, em um país que tem um dos sistemas educativos mais desiguais do planeta, gerou um amplo apoio da população, especialmente na classe média, que voltou a sair às ruas para reclamar seus direitos.
Como resposta, Piñera lançou vários projetos de lei que pretendiam obter melhoras parciais, mas aumentou a repressão policial e defendeu o modelo, afirmando que a educação era "um bem de consumo".
Tal como os estudantes, saíram às ruas funcionários públicos, ambientalistas, representantes das minorias e moradores de regiões afastadas, como Aysén, na Patagônia chilena, que estão exigindo há quatro semanas medidas que os ajudem a enfrentar seu isolamento.
Outras regiões do norte do país já ameaçaram realizar novas manifestações.