A presidente da Convenção Constitucional do Chile, María Elisa Quinteros, exibe a primeira versão da nova Constituição (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 6 de julho de 2022 às 15h53.
O Chile iniciou, nesta quarta-feira (6), a campanha para o referendo de 4 de setembro que definirá o destino da nova constituição, com líderes políticos tradicionais inclinados a rejeitá-la, enquanto movimentos sociais e o mundo da cultura levantam a bandeira da aprovação.
A dois meses da consulta em que os mais de 15 milhões de cidadãos responderão se aprovam ou rechaçam o texto, "será novamente o povo quem terá a última palavra sobre o seu destino", disse na segunda-feira o presidente Gabriel Boric.
No plebiscito de outubro de 2020, 78% dos que votaram aprovaram a redação de uma nova Carta Magna. No entanto, como a participação foi voluntária, apenas 50% dos eleitores compareceram às urnas. Agora, a aprovação ou não do texto em 4 de setembro deverá ser feita por voto obrigatório.
As pesquisas mais recentes dão vantagem ao 'Rejeito'. Segundo o levantamento realizado pela Criteria, a não aprovação tem 48%, o 'Aprovo' tem 31%, e 22% se disseram indecisos, enquanto a pesquisa da Cadem aponta 51% para o "Rejeito", 34% para o "Aprovo" e 15% de indecisos e o site TuInfluyes.com mostra 46% de rejeição, 41% de aprovação e 13% de indecisos.
A campanha iniciada hoje mostra forte presença nos meios de comunicação nacionais de vozes que rejeitam o projeto que consideram "partidário", pois, segundo elas, "não suscita consenso" e foi elaborado por uma Constituinte com ares revanchistas.
"O Chile merece uma Constituição que suscite consenso [...] O desafio político é continuar com o debate constitucional até chegar a uma Constituição que interprete a maioria", escreveu em uma carta de grande repercussão o ex-presidente socialista Ricardo Lagos, de 84 anos.
Por outro lado, nas redes sociais, viralizou uma postagem do ator Pedro Pascal, famoso por protagonizar a série "The Mandalorian" do universo Star Wars, com uma imagem em que ele aparece mordendo um "exemplar" da nova Constituição acompanhada das hashtags #Apruebo ("aprovo", em tradução livre) e #AprueboFeliz ("aprovo feliz").
Para Rodrigo Espinoza, cientista político da Universidade Diego Portales, "as elites dos partidos tradicionais estão se inclinando para o 'Rejeito', enquanto do lado do 'Aprovo' estão ressoando vozes cidadãs como as do mundo da cultura, dos movimentos sociais, do movimento feminista".
"Acredito que o 'Aprovo' vai ficar mais nas mãos do mundo social do que dos partidos políticos no Chile", acrescentou o acadêmico.
O novo texto estabelece um catálogo de direitos sociais com base nas reivindicações apresentadas durante a onda de protestos de 2019.
Saúde pública universal e de qualidade, educação gratuita, aposentadorias dignas e a proteção da água e do meio ambiente foram algumas das reivindicações que ficaram refletidas na nova carta.
São 388 artigos, divididos em 11 capítulos e 57 normas transitórias de aplicação. O primeiro artigo diz: "O Chile é um Estado social e democrático de direito. É plurinacional, intercultural, regional e ecológico".