Chile: até então, a lei chilena não permitia a convocação de plebiscitos para este fim (Roberto Gallardo / EyeEm/Getty Images)
EFE
Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 21h12.
Santiago — A Câmara de Deputados do Chile aprovou nesta quarta-feira uma reforma constitucional que permitirá a convocação de um plebiscito no próximo dia 26 de abril para que a população do país decida se quer a elaboração de uma nova Carta Magna para substituir a vigente desde a ditadura de Augusto Pinochet.
Depois de uma longa sessão de debates, o projeto de lei para reformar o capítulo XV da atual Constituição, em vigor desde 1980, passou com 127 votos favoráveis, 18 contrários e cinco abstenções. Até então, a lei chilena não permitia a convocação de plebiscitos para este fim.
A reforma constitucional, que ainda precisa ser aprovada no Senado, é o resultado do histórico acordo firmado entre governo e oposição no último dia 15 de novembro para tentar solucionar a crise que abala o país. Os protestos começaram há exatos dois meses e já deixaram 24 mortos, além de milhares de feridos.
A redação de uma nova Carta Magna é um dos principais clamores dos manifestantes, que culpam o texto constitucional atual de ser a origem das grandes desigualdades no país.
Eles consideram que a Constituição em vigor, elaborada durante a ditadura de Pinochet, deu ao governo um papel secundário no oferecimento de serviços básicos à população, como a saúde, a educação e a previdência, o que teria favorecido privatizações.
Com o plebiscito, a classe política chilena não só quer saber se a população deseja uma nova Constituição, mas também o mecanismo que será usado para escrevê-la.
O novo texto constitucional pode ser elaborado por uma convenção mista, formada pelos atuais parlamentares e cidadãos escolhidos para este fim, ou por uma assembleia integrada apenas por pessoas escolhidas para trabalhar na nova Carta Magna.
Se o plebiscito for aprovado, a eleição dos integrantes da Constituinte será realizada em outubro de 2020, coincidindo com os pleitos regionais e municipais. O voto será voluntário.
No entanto, a ratificação da nova Constituição será feita com voto universal e obrigatório.
Os partidos de direita e centro-direita que fazem parte da coalizão governista Chile Vamos rejeitaram uma proposta da oposição de incluir a igualdade de gênero, estabelecer uma cota para os povos originários e garantir a participação de independentes na redação do novo texto constitucional.
Um grupo de feministas invadiu o plenário da Câmara de Deputados durante os debates. Depois de serem expulsas pelos seguranças do Legislativo, elas repetiram a performance que viralizou nas redes sociais e foi reproduzida em outros países, entre eles o Brasil.