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Chernobyl está em 'perigo', diz Ucrânia; AIEA diz que não há risco

Segundo a operadora estatal Ukrenergo, a usina nuclear ucraniana foi desconectada da rede elétrica do país pelas forças russas

CHERNOBYL  (HBO/Reprodução)

CHERNOBYL (HBO/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de março de 2022 às 17h04.

A usina nuclear ucraniana de Chernobyl foi desconectada da rede elétrica do país pelas forças russas, disse a operadora estatal Ukrenergo nesta quarta-feira, 9. A ação coloca em risco o resfriamento do material nuclear ainda armazenado no local, o que poderia levar ao vazamento de radiação. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitri Kuleba, exigiu um cessar-fogo com a Rússia para permitir reparos na usina.

A eletricidade da usina é necessária para os sistemas de refrigeração, ventilação e extinção de incêndio no local. Em um comunicado em sua página no Facebook, a Ukrenergo também disse que os geradores a diesel de emergência foram ligados, mas que o combustível duraria apenas 48 horas.

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"A única rede elétrica que abastece a central nuclear de Chernobyl e todas as suas instalações nucleares ocupadas pelo exército russo está danificada", tuitou Kuleba. "Peço à comunidade internacional que exija urgentemente da Rússia um cessar-fogo e permita que as unidades de reparo restaurem o fornecimento de energia."

Ele alertou que, depois que os geradores a diesel de reserva ficarem sem combustível, "os sistemas de refrigeração da instalação de armazenamento de combustível nuclear usado pararão tornando iminentes os vazamentos de radiação. A guerra bárbara de Putin coloca toda a Europa em perigo."

AIEA não vê impacto crítico

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse no Twitter que a perda de energia "viola [um] pilar fundamental de segurança para garantir o fornecimento ininterrupto de energia", mas acrescentou que "neste caso, a AIEA não vê impacto crítico na segurança". A agência disse que fatores como o volume de água de resfriamento em Chernobyl eram "suficientes para uma remoção eficaz de calor sem necessidade de fornecimento elétrico".

A AIEA disse na terça-feira que perdeu contato com sistemas de monitoramento que transmitem dados sobre material nuclear da usina nuclear de Chernobyl. O diretor-geral da agência nuclear da ONU indicou que a "transmissão remota de dados dos sistemas de monitoramento de salvaguardas instalados na central nuclear de Chernobyl foi perdida", disse a AIEA em comunicado na terça-feira.

O que começou como uma troca de acusações, em novembro do ano passado, evoluiu para uma crise internacional com mobilização de tropas e de esforços diplomáticos

"A Agência está analisando o status dos sistemas de monitoramento de salvaguardas em outros locais da Ucrânia e fornecerá mais informações em breve", acrescentou. A AIEA usa o termo "salvaguardas" para se referir às medidas técnicas que aplica a materiais nucleares e atividades para impedir o desenvolvimento de armas nucleares.

Rússia tomou o controle da usina

A usina nuclear de Chernobyl, então sob o controle da União Soviética, foi palco de um desastre em 1986, quando explosões e incêndios enviaram uma enorme nuvem radioativa sobre partes da Europa e deixaram o solo contaminado, além de precipitações que continuam perigosas até hoje.

A catástrofe é classificada como o pior acidente de usina nuclear do mundo.

No mês passado, o Ministério da Defesa da Rússia confirmou que suas forças assumiram o controle da área perto do local da usina como parte da invasão mais ampla da Ucrânia pela Rússia, provocando alarme global.

A União Europeia disse em comunicado na quarta-feira que estava "extremamente preocupada" com os riscos de segurança nuclear "causados pela invasão russa na Ucrânia e os possíveis danos às suas instalações nucleares".

Ele emitiu um "chamado urgente" para que a Rússia encerre suas operações militares perto de todas as instalações nucleares na Ucrânia e permita sua operação segura.

Central de Chernobyl está 'totalmente' parada pela ofensiva russa

"Devemos fazer tudo o que pudermos para evitar um acidente nuclear, incidente ou outra emergência radiológica que possa afetar seriamente as populações locais, os países vizinhos e a comunidade internacional. É hora de agir para evitar tal cenário", disse o comunicado.

O ministro da Energia ucraniano, Herman Halushchenko, também disse nesta quarta-feira que as autoridades não sabem quais são os níveis de radiação na usina de Chernobyl e não têm controle sobre o que está acontecendo na usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior usina nuclear da Europa, que foi apreendida pelas forças russas na semana passada.

A AIEA reiterou nesta semana uma oferta a ambos os lados para que o diretor-geral viaje a Chernobyl e outros locais na Ucrânia para ajudar a proteger as instalações nucleares em meio ao conflito.

A zona de Chernobyl, um dos lugares mais contaminados radioativamente do mundo, permanece fechada desde 1986, embora um pequeno número de pessoas ainda viva na área - principalmente ucranianos idosos que se recusaram a sair.

O prédio que continha o reator explodido de 1986 foi coberto em 2017 por um enorme abrigo destinado a conter a radiação que ainda vazava do acidente. Robôs dentro do abrigo trabalham para desmontar o reator destruído e coletar resíduos radioativos. Espera-se que demore até 2064 para terminar o desmantelamento seguro dos reatores. 

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