Milei e Scholz também conversaram sobre o possível acesso da Argentina à OCDE, um esforço que Berlim "apoia" (Maryam Majd/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 23 de junho de 2024 às 12h56.
O chefe de Governo da Alemanha, Olaf Scholz, pediu, neste domingo (23) em Berlim, ao presidente argentino Javier Milei que cuide da "coesão social", após os protestos em Buenos Aires contra a reforma do Estado promovida pelo dirigente ultraliberal.
Acompanhado de sua irmã Karina Milei, secretária-geral da Presidência, o mandatário sul-americano foi recebido pelo social-democrata Scholz na Chancelaria em Berlim.
Após o encontro não houve coletiva de imprensa, tal como avisou na sexta-feira o Executivo alemão, que apresentou a reunião como uma visita de trabalho "muito breve" e disse que o formato reduzido se deveu aos desejos do governo argentino.
Não obstante, o governo da maior economia europeia emitiu um comunicado no qual assinalou que o chanceler alemão e o presidente Milei "falaram dos planos de reforma da Argentina e seu impacto na população".
"O Chanceler enfatizou que, na sua opinião, a compatibilidade social e a proteção da coesão social deveriam ser pilares importantes", segundo a nota.
Um grupo com quase 10 pessoas protestou contra o mandatário argentino em frente à chancelaria com cartazes com mensagens como "a Argentina não está à venda" e "Fora Milei".
Depois de seis meses de governo, Milei obteve em meados deste mês um triunfo legislativo quando seu pacote de reformas e desregulação econômica conhecido como a "lei Bases" foi aprovado por margem estreita no Senado.
Houve protestos e distúrbios durante a votação do pacote, que ainda deve ser aprovado de maneira definitiva na Câmara dos Deputados.
A "lei Bases" inclui privatizações de empresas públicas, incentivos tributários ao capital estrangeiro, e a delegação de faculdades especiais ao Poder Executivo.
O governo alemão também detalhou que as conversas abrangeram "todo o leque das relações bilaterais", incluindo comércio, energias renováveis e proteção do clima.
Os dois líderes falaram também da difícil negociação de um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. "Acordaram que [...] deveriam finalizar [o acordo] rapidamente", segundo o comunicado do governo alemão.
Milei e Scholz também conversaram sobre o possível acesso da Argentina à OCDE, um esforço que Berlim "apoia".
Antes de sua viagem à Alemanha, Milei efetuou sua segunda visita em pouco mais de um mês à Espanha, onde, mais uma vez, não se reuniu nem com o rei Felipe VI nem com o presidente de governo, o socialista Pedro Sánchez.
Na capital espanhola, Milei recebeu uma condecoração da presidente conservadora da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, o que causou irritação no governo espanhol.
Segundo muitos observadores, o formato reduzido da visita a Berlim poderia se explicar pelas declarações realizadas na segunda-feira pelo porta-voz do governo alemão Steffen Hebestreit, que classificou de "mau gosto" os comentários de Milei sobre Begoña Gómez, a esposa de Pedro Sánchez.
Em maio, durante uma convenção do partido de extrema direita Vox em Madri, Milei se referiu à esposa de Sánchez como "mulher corrupta", ao que a Espanha reagiu retirando sua embaixadora em Buenos Aires.
Milei se referiu assim a Begoña Gómez pela abertura de uma investigação judicial contra ela por suposto tráfico de influência e corrupção.