Tillerson: a ausência de Tillerson é explicada pela possível visita do presidente chinês à residência particular do presidente americano na Flórida (Getty Images/Getty Images)
AFP
Publicado em 21 de março de 2017 às 21h23.
O secretário americano de Estado, Rex Tillerson, faltará a sua primeira reunião da Otan, em abril, o que reavivou, nesta terça-feira, as dúvidas dos aliados dos Estados Unidos sobre seu compromisso com a aliança, embora o presidente Donald Trump tenha marcado um encontro com o chefe da organização para breve.
O departamento de Estado enviará no lugar de Tillerson seu número três, o subsecretário de Estado e diretor de política, Thomas Shannon, um veterano diplomata, à reunião de ministros das Relações Exteriores de países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em 5 e 6 de abril em Bruxelas.
Esta decisão sem precedentes ameaça preocupar ainda mais uma aliança atlântica já inquieta pelas críticas de Trump, que a qualificou como "obsoleta".
A ausência de Tillerson é explicada pela possível visita do presidente chinês, Xi Jinping, à residência particular do presidente americano na Flórida, no início de abril.
A diplomacia americana se limitou a explicar que, de toda forma, Tillerson irá se encontrar nesta semana com a maioria de seus homólogos da Otan na reunião, em Washington, dos 68 países da coalizão que combate o grupo Estado Islâmico (EI).
"Já se encontrou com funcionários ucranianos. Após estas consultas e reuniões, irá em abril para uma reunião do G7 na Itália e depois participará de reuniões na Rússia", assinalou uma fonte do Departamento de Estado.
A diplomacia americana propôs "outras datas" para que Tillerson pudesse participar da reunião da Otan, assegurou seu porta-voz Mark Toner.
Sua ausência "não deve ser considerada de nenhuma maneira como um desprezo à aliança e ao nosso compromisso com a aliança e a segurança da Europa", insistiu, reiterando que os Estados Unidos "continuam 100% comprometidos com a Otan".
A organização anunciou que seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, se encontrará com Donald Trump em 12 de abril em Washington para falar da "importância de uma Otan forte".
Ambos também terão a possibilidade de se reunir em Bruxelas, em 25 de maio, durante a primeira cúpula da aliança desde a vitória do presidente americano na eleição.
Stoltenberg, que nesta terça-feira esteve no Pentágono, destacou após o encontro com o secretário de Defesa, Jim Mattis, que a Otan não só leva em conta os interesses europeus, como também os americanos.
"Uma Otan forte é boa para a América do Norte, porque a estabilidade na Europa é boa para todos", afirmou.
Stoltenberg quis tranquilizar a administração Trump, que deseja que os países europeus contribuam mais na manutenção da Otan, enfatizando "a necessidade de compartilhar os gastos de forma justa".
Mas levando em conta o papel crucial dos Estados Unidos na aliança, a ausência de seu novo secretário de Estado supõe um golpe ao encontro de ministros, e não deixará de preocupar alguns membros, sobretudo os países do leste da Europa, inquietos com a Rússia.
A aliança atlântica decidiu nos últimos anos fortalecer a presença militar em seu front oriental, devido uma atitude considerada ameaçadora de Moscou desde a anexação da Crimeia.
Esta ausência "alimenta as dúvidas crescentes dos aliados sobre o compromisso dos Estados Unidos", escreveu Ivo Daalder, ex-embaixador americano na Otan. Atual presidente do centro de reflexão Chicago Council, tuitou que a reunião ministerial era "crucial" para preparar as cúpulas da Otan. "Os Estados Unidos não podem faltar".
"É claro que o secretário Tillerson deveria estar na reunião da Otan", afirmou outro ex-embaixador americano na Otan, Nicholas Burns, professor em Harvard.
"Somos os líderes da Otan e deveríamos nos reunir com nossos aliados antes de [nos reunirmos] com a Rússia".
Após cerca de dois meses no cargo, Rex Tillerson ainda deve designar altos cargos diplomáticos em seu Ministério. Mas o influente Departamento de Estado parece estar fora de questão, com seu ministro muito discreto diante do público e da imprensa.
Por conta desta discrição, outros funcionários de alto escalão da administração Trump tentam reafirmar o compromisso de Washington com seus aliados militares na Europa. O vice-presidente Mike Pence e o chefe do Pentágono, James Mattis, viajaram a Bruxelas em fevereiro para elogiar "a fortaleza do vínculo transatlântico".
Mas não será uma tarefa fácil devido às críticas recorrentes a Donald Trump. Na semana passada, o presidente expressou em seu Twitter, depois de se reunir com a chanceler alemã, Angela Merkel, que a Alemanha devia "somas enormes" de dinheiro à Otan e aos Estados Unidos, retomando suas denúncias de que os aliados dos Estados Unidos não estão pagando sua parte.