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Chavistas votarão em Maduro por compromisso

Mesmo assim, venezuelanos afirmam que isto não significa dar a Maduro um "cheque em branco"


	Nicolas Maduro: a Constituição venezuelana não permite convocar antes de 3 anos um referendo para revogar o presidente.
 (Juan Barreto/AFP)

Nicolas Maduro: a Constituição venezuelana não permite convocar antes de 3 anos um referendo para revogar o presidente. (Juan Barreto/AFP)

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Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2013 às 16h41.

Caracas - Nos bairros populares de Caracas, ainda abalados pela morte de Hugo Chávez, muitos venezuelanos admitem que votarão por compromisso em seu sucessor, Nicolás Maduro, embora afirmem que isto não significa dar a ele um cheque em branco.

"Vou votar no domingo em Maduro, mas pensando em Chávez. Mas não o aceito. Não é a mesma pessoa", afirma Richard Avello, um soldador de 30 anos que acabava de escrever uma mensagem em homenagem ao Comandante em uma longa bandeira estendida no centro de Caracas.

"Vamos ver como se comporta, mas se não cumprir o que promete, vamos tirá-lo", enfatiza o trabalhador, que preferia que o candidato chavista fosse um novo nome, e não o ex-ministro de Chávez.

A Constituição venezuelana não permite convocar antes de 3 anos um referendo para revogar o presidente e, para fazer isso, é necessário conseguir o apoio de ao menos 20% dos eleitores.

Responsável por uma das missões bolivarianas, os programas sociais financiados com o dinheiro do petróleo, Denys Peña, de 40 anos, adverte: "Minha mãe me perguntou se tínhamos que votar em Maduro. Não há outra opção, a oposição quer acabar com as missões. Mas, cuidado, é melhor que Maduro siga com elas, ou não vamos gostar e somos muitos".

Em Petare, um bairro de operários sobre as montanhas de Caracas, um caminhão circula pelas apertadas ruas lembrando aos eleitores o seu dever.


"Chávez, eu juro, meu voto é por Maduro" grita um alto-falante, que depois divulga a declaração do falecido presidente, realizada meses antes de sua morte, em 5 de março, pedindo para que seu fiel colaborador fosse eleito em caso de sua ausência.

Em sua caótica loja, invadida por sapatos, Luis Antelis, um sapateiro de 57 anos, jura que votará "em Maduro porque Chávez nos pediu. Mas ainda não tem seu carisma, tem que ensaiar mais".

No entanto, alguns chavistas se atrevem a dizer que desobedecerão o lema oficial. Sentado atrás do balcão de sua mercearia, Gustavo Arbelo, de 55 anos, que diz ter votado em Chávez no passado, não hesita em afirmar diante de seus clientes que no próximo domingo votará de forma diferente, a favor de Henrique Capriles, o jovem chefe da oposição.

"Não tenho confiança em Maduro, ele vai desviar a revolução de Chávez, radicalizá-la, para que seus partidários aproveitem", afirma, ao mesmo tempo em que questiona que os recursos das missões se destinem aos partidários visíveis do governo.

"Se quisermos outros resultados, é melhor votar em um homem novo", acrescenta, lamentando os problemas da insegurança e da escassez nas prateleiras vazias de sua loja.

O comerciante admite que a oratória de Chávez o seduzia e que passou horas diante da televisão seguindo o "Alô Presidente", o longo programa dominical do presidente. Os discursos de Maduro, pelo contrário, não conseguem emocioná-lo. "Chávez se conectava com o povo, esse cara (Maduro) não".


Na mesma loja, Hilda Coronado, de 62 anos, que sempre votou pelo Comandante, diz que desta vez prefere se abster, se distanciando dos que o rodeavam.

"Chávez fez muitas coisas boas. (...) Hoje não tenho vontade de votar em ninguém", afirma.

Para o sociólogo Ignacio Ávalos, diretor do Observatório Eleitoral Venezuelano, a ordem de votar em Maduro dada por Chávez "vai ter um efeito claro sobre os chavistas duros. Os chavistas 'light' vão ter dúvidas, ainda mais com o discurso mais radical mostrado agora por Capriles", afirma à AFP, prevendo também uma forte abstenção.

Uma coisa é certa, acrescenta, "o cheque em branco para Maduro não vai durar mais do que dois dias, porque ele não é Chávez".

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