Juan Guaidó: o autoproclamado presidente interino da Venezuela (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 09h58.
O Ministério Público venezuelano pediu na terça-feira, 29, ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que impeça o líder opositor Juan Guaidó de deixar a Venezuela e congele suas contas no país.
O cerco judicial chavista começou após a decisão da Casa Branca de permitir à oposição acessar ativos do Estado venezuelano nos EUA. Washington alertou que qualquer ato contra Guaidó, a quem reconhece como presidente interino, "terá consequências".
A tendência é que a solicitação seja acatada, uma vez que tanto o MP quanto o Judiciário venezuelanos são controlados pelo chavismo.
O procurador-geral, Tarek William Saab, não especificou quais foram os supostos crimes cometidos por Guaidó. O opositor se declarou há uma semana líder interino do país, com reconhecimento de parte da comunidade internacional, e convocou uma nova marcha contra Maduro para esta quarta-feira, 30.
Saab pediu uma investigação preliminar sobre Guaidó, que se disse tranquilo: "Não subestimo uma ameaça de ser preso, apenas acho que não é nenhuma novidade (o pedido do MP)", disse ao chegar à sede da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, mas sem poderes efetivos desde 2016.
Ainda ontem, Guaidó anunciou o nome de embaixadores para alguns países que o reconheceram como presidente. Hoje, o embaixador nos EUA, Carlos Vecchio, deve ser recebido pelo vice Mike Pence.
O líder opositor disse que em breve a Assembleia Nacional deve assumir controle de contas nos EUA que pertencem ao Estado venezuelano. A maioria delas já tinha sido congelada por sanções impostas nos últimos anos. Segundo Guaidó, esse dinheiro será usado para amenizar a falta de alimentos e remédios no país. Ele não explicou como isso seria feito.
O diplomata e novo representante especial da Venezuela na Organização dos Estados Americanos (OEA), Gustavo Tarre disse na terça-feira em Washington que Maduro não tem suporte no país capaz de mantê-lo no poder. "Não acho que há na Venezuela quem morra por Maduro.
Há pessoas corruptas, com simpatia por Maduro, mas não pessoas que morreriam ou brigariam por Maduro?", afirmou em Washington, na sede do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês).
As sanções anunciadas na segunda-feira pelos EUA contra a Venezuela preocupam o governo russo, que tem a receber este ano US$ 3,15 bilhões em petróleo venezuelano, segundo o Ministério das Finanças. Representantes do Kremlin temem dificuldades no pagamento da dívida.
"Provavelmente haverá problemas", avaliou o vice-ministro Serguei Storchak. "Tudo depende de como o Exército reagirá e se permanecerá leal ao governo."
Apesar do apoio, as condições financeiras russas já não são as mesmas de 2017, quando o país selou empréstimos ao chavismo para evitar um calote na dívida externa do país. Os calotes parciais da Venezuela aos compromissos assumidos com o Kremlin também provocaram insatisfação.
Para o especialista em América Latina da Universidade de São Petersburgo Viktor Kheifets, Putin deve auxiliar Maduro no curto prazo, mas a Rússia não dispõe do volume de recursos necessários para manter a economia venezuelana funcionando, estimado em pelo menos US$ 20 bilhões.
O governo do presidente argentino, Mauricio Macri, anunciou ontem que estuda a possibilidade de intervir nas contas da PDVSA na Argentina, seguindo as medidas anunciadas esta semana pelos EUA.
Segundo o chanceler, Jorge Faurie, a Unidade de Inteligência Financeira analisa quais medidas podem ser tomadas contra a estatal venezuelana. Ele lembrou que, com relação à distribuição de combustível, as opções da petrolífera no país já foram "muito reduzidas.
O Conselho da Internacional Socialista (IS) aprovou ontem uma resolução na qual reconheceu os esforços de Juan Guaidó "de dirigir uma transição para a democracia, apoiada na legítima Assembleia Nacional".
A IS afirmou que a única maneira de avançar nesse país é com a realização urgente de novas eleições, segundo o documento divulgado após sua reunião de dois dias em Santo Domingo.
Tais eleições devem "ser vigiadas por uma nova autoridade eleitoral plenamente independente e imparcial", e "devem ocorrer com a participação daqueles previamente qualificados e estarem acompanhadas pela libertação dos prisioneiros políticos", acrescentou a IS. (Com agências)