Hugo Chávez acena antes de viajar a Havana: a favor de Chávez pode ser contada a alta da economia, que fechou o terceiro trimestre com um crescimento de 5,2% (©AFP / Presidencia)
Da Redação
Publicado em 24 de dezembro de 2012 às 13h13.
Caracas - O câncer do presidente Hugo Chávez monopolizou a cena política em 2012 na Venezuela, que passou da confirmação da continuidade do governante no poder por mais seis anos à possibilidade de que deixe o poder e abra caminho para uma nova etapa no país.
A aparição da doença, confirmada pelo próprio Chávez em junho de 2011, abriu todo tipo de especulações sobre seu futuro e o de seu país, principalmente quando em outubro de 2012 foi realizado um pleito presidencial no qual o líder alcançou o respaldo popular para permanecer na presidência até 2019.
A reeleição abriu caminho para a revolução que Chávez lidera desde 1999, mas o câncer voltou a enchê-lo de dúvidas quando em 8 de dezembro o presidente reconheceu o ressurgimento da doença e cogitou a possibilidade de sair do poder.
Chávez anunciou naquele dia que se submeteria em Cuba, país ao qual confiou seu tratamento, a uma cirurgia "inadiável", a quarta ao longo de sua luta contra um câncer - com sessões de quimio e radioterapia - sobre o qual ainda não se sabe tipo ou localização exatos.
O governante falou pela primeira vez sobre a possibilidade de sua condição o tirar do poder e designou como seu sucessor político o vice-presidente e chanceler, Nicolás Maduro, caso seja preciso convocar novas eleições.
Chávez, que foi reeleito em outubro para o mandato 2013-2019, deverá jurar o cargo no dia 10 de janeiro. Antes de viajar a Cuba, ele delegou o poder a Maduro, que de motorista de ônibus e líder sindical chegou a chefe da diplomacia venezuelana e, após a vitória nas eleições de 7 de outubro, à vice-presidência.
No pleito, o presidente conseguiu sua terceira reeleição após uma atípica campanha de pouco mais de três meses, carente de seus longos discursos e amplas excursões pelo país, contra Henrique Capriles, um governador ratificado em seu cargo nas eleições regionais de 16 de dezembro e que saiu do estado de Miranda para brigar com Chávez por votos.
Sempre usando um boné com a bandeira da Venezuela, Capriles, um advogado de 40 anos que foi deputado, prefeito e governador, se tornou o líder de uma oposição aglutinada na chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), que ganhou novos ares com o estilo próximo do povo e sem confronto do jovem candidato.
Seu carisma, no entanto, não foi suficiente, e no final perdeu para o atual líder por 55,26% a 44,31% dos votos.
As sequelas da doença do presidente também se fizeram sentir na campanha, que Chávez liderou em um ritmo muito inferior ao de disputas passadas, estando mais recatado e afastado das câmeras.
O famoso "Alô Presidente", programa dominical do chefe de Estado, já ficou na memória, e o Twitter do governante não voltou a se movimentar depois de 1º de novembro.
O presidente venezuelano, que limitou suas aparições a conselhos de ministros transmitidos pela TV, recompôs seu gabinete e elevou o peso de Maduro.
O vice-presidente não se separou do chefe de Governo desde que ele foi diagnosticado com câncer, e foi o encarregado de anunciar ao mundo, em junho de 2011, que Chávez tinha sido operado de emergência em Cuba por um "abscesso pélvico" - primeira informação do câncer, do qual apenas se sabe que está na região pélvica.
A Venezuela viveu este ano, além disso, o acidente industrial mais importante de sua história recente, com uma explosão em agosto na refinaria de Amuay, parte do Centro Refinador Paraguaná (CRP), o maior do país e um dos maiores do mundo, que deixou pelo menos 42 mortos, mais de cem feridos e danos materiais ainda não contabilizados.
A favor de Chávez pode ser contada a alta da economia, que fechou o terceiro trimestre com um crescimento de 5,2%, acima da meta de 5% para 2012, e contra o governante os altos níveis de insegurança, com 50 assassinatos por cada 100.000 habitantes e uma situação caótica nas prisões.