O semanário 'Charlie Hebdo' recebeu desde os atentados de janeiro 4,3 milhões de euros em doações (Pascal Guyot/AFP)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2015 às 14h23.
Paris - A revista Charlie Hebdo recebeu desde os atentados de janeiro 4,3 milhões de euros em doações e decidiu repassar a quantia às vítimas, anunciou a publicação, que registrou momentos de tensão interna a respeito da utilização do dinheiro.
O valor, procedente de 36.000 doadores de 84 países distintos, será depositado em um banco estatal francês (Caisse des dépôts et consignations), informou a direção da revista em um comunicado.
A publicação solicitou ao ministério da Justiça a criação de uma comissão para distribuir as doações, informaram Riss, diretor do Charlie Hebdo, e Eric Portheault, diretor financeiro.
Quinze dos 20 funcionários do semanário questionaram o uso dos recursos e pediram em abril uma mudança na direção, assim como um estatuto de "acionistas assalariados".
"Este dinheiro deve ser distribuído entre as vítimas, este é o compromisso que foi assumido pelos integrantes da direção", afirmou na sexta-feira o médico Patrick Pelloux, cronista do Charlie Hebdo.
"Mas até agora não sabemos como isto será feito", completou.
Em um comunicado, a direção da revista afirma que deseja retificar "as cifras fantasiosas que circulam sobre o faturamento" da publicação e responder às "declarações inexatas, fonte de boatos mal-intencionados e de tensões".
No total, "a margem bruta realizado pelas vendas da revista desde os atentado de janeiro é estimada em aproximadamente 12 milhões de euros antes dos impostos" (33,33%), afirmaram os acionistas do Charlie, recordando o "compromisso absoluto de não receber nenhum dividendo" das quantias.
O Charlie Hebdo pertence atualmente em 40% aos pais de seu ex-diretor Charb, morto no atentado de 7 de janeiro, em 40% ao desenhista Riss e em 20% ao diretor financeiro Eric Portheault.
Em uma entrevista ao jornal Le Monde, Riss disse que o Charlie Hebdo "não poderá seguir com apenas dois acionistas" e que "acontecerá uma abertura de capital".
Mas ele acrescentou que as mudanças acontecerão em setembro, por temer uma tomada de decisões "sob a influência da emoção".